MEMÓRIA

São Luís, 412 anos: boemia de uma cidade quatrocentona

A vida noturna era muito restrita e a maior movimentação, durante o dia se concentrava na Praia Grande, então maior núcleo comercial da capital maranhense

A Rua do Giz no ano de 1957. Créditos - Reprodução

A cidade de São Luís, nos idos dos anos 50 e 60, não tinha muitas opções de lazer. A vida noturna era muito restrita e a maior movimentação, durante o dia se concentrava na Praia Grande, então maior núcleo comercial. Impulsionado pela movimentação de chegada e partida das embarcações vindas de vários pontos da Baixada maranhense.

O desembarque dos produtos da rudimentar agricultura da época e de animais que se destinavam ao abate, assim como o embarque de produtos manufaturados que chegavam pelos navios e eram encontrados nos muitos armazéns, de todos os ramos, que ocupavam o entorno da Feira/ Mercado das Tulhas, Ruas da Estrela, Portugal, do Giz e circunvizinhanças.

Durante o dia a movimentação de pessoas era grande, mas à noite a Praia Grande ficava praticamente deserta havendo poucos bares que atendiam os trabalhadores marítimos que saiam em busca de diversão e de uma boa companhia.

Abrigo do Largo do Carmo. Foto: Azoubel

Na área da Praia Grande estavam localizados os estabelecimentos de Raimundo 19, que administrava o prédio onde funcionou a Defensoria Pública; Café do Mamude Chain, de nacionalidade libanesa; Bar da Maria Bacabal, onde era também local de encontros, com mulheres vindas de cidades do interior do Estado; assim como o bar de Dona Remédios, onde funcionou, mais recentemente, o Bar da Faustina.

Também funcionou na Praia Grande o Bar do Pisca, do radialista Ruy Pisc, que permanecia com a portas abertas 24 horas todos os dias e o Bar do Basílio, que era especializado na venda das cervejas Cerma e Cerminha, fabricadas em São Luís do Maranhão.

Público sofisticado na região da Benedito Leite

Outros bares, que tinham um público mais sofisticado, estavam situados na região da Praça Benedito Leite, como o Bar do português Serafim, instalado nos baixos do Hotel Aliança, na Rua de Nazaré, Bar do Hotel Central, no prédio do Palácio do Comércio, que era o local frequentado pela elite da cidade: deputados, advogados, juízes de Direito, políticos de todos os naipes e empresários que ali se encontravam para o lazer e até mesmo, para entabular negócios.

O mesmo acontecia no Moto Bar, na Praça João Lisboa, de empresários portugueses, frequentado por personalidades da sociedade local da época.

Na esquina da Rua do Sol com Rua de Nazaré, funcionava o Café São Luís, no maior prédio com fachada de azulejos da América Latina, onde era, nos pisos superiores, as instalações do Hotel Serra Negra, que foi consumido por um incêndio e depois restaurado pela Caixa Econômica Federal.

Aquele local foi marcado pela ocorrência do assassinato do jornalista Othelino Nova Alves. No ano de 1967. Bem defronte, um busto do jornalista, marca o local da tragédia.


Também na Praça João Lisboa estavam instalados os abrigos Velho e Novo, que foram demolidos. O abrigo novo foi demolido pelo prefeito Edvaldo Holanda, em 2022 com a reforma pelo IPHAN do Largo do Carmo (Praça João Lisboa), Rua Grande e Praça Deodoro.

A lanchonete Ferro de Engomar nos anos 1980. Créditos – Reprodução

Nestes abrigos funcionavam lanchonetes que durante 24 horas, ofereciam lanches e bebidas em geral, sendo o ponto de encontro dos notívagos e boêmios do Centro Histórico de São Luís. Na Rua do Sol, funcionou o Bar do Castro, que era bem frequentado, e na Rua Grande, o Bar no Narciso, que servia cervejas bem geladas e tainhas fritas como seu principal tira-gosto.

Também na Praça João Lisboa estavam instalados os abrigos Velho e Novo, que foram demolidos. O abrigo novo foi demolido pelo prefeito Edvaldo Holanda, em 2022 com a reforma pelo IPHAN do Largo do Carmo (Praça João Lisboa), Rua Grande e Praça Deodoro.

Nestes abrigos funcionavam lanchonetes que durante 24 horas, ofereciam lanches e bebidas em geral, sendo o ponto de encontro dos notívagos e boêmios do Centro Histórico de São Luís. Na Rua do Sol, funcionou o Bar do Castro, que era bem frequentado, e na Rua Grande, o Bar no Narciso, que servia cervejas bem geladas e tainhas fritas como seu principal tira-gosto.

Na Rua Formosa ou Affonso Pena, estava a Garapeira e Bar do Cajueiro, que ao servir uma cerveja oferecia também um prato de ovos cozidos, geralmente coloridos em cores diversas, e o Bar da Hora que funcionava também à noite e celebrizou-se por oferecer o prato “bife a cavalo”, que tinha a preferência dos trabalhadores da noite, como gráficos e jornalistas, atraídos pelo tamanho avantajado do bife de carne bovina, enfeitado com um ovo frito.

Tempos áureos da ZBM

O forte das noites do Centro Histórico era a Zona do Baixo Meretrício (ZBM), que oferecia vasta opção de cabarés, distribuídos no quadrilátero formado pelas ruas da Palma no trecho que compreende a esquina da Rua Direita até a confluência da Rua Jacinto Maia, onde está situado o Convento das Mercês.

E da Esquina da Rua Direita com a Rua do Giz até à Rua Jacinto Maia, incluindo as duas quadras da Rua da Saúde, na extensão da Rua do Giz até a Rua Affonso Pena.

Neste quadrilátero se distinguiam os lupanares divididos por classe social. Na Rua da Palma estavam localizados os cabarés, bares e restaurantes considerados de melhor classe em face dos seus frequentadores serem pessoas da sociedade local, destacando-se a Boite Monte Carlo.

Este tinha as mulheres mais bonitas da zona e a clientela se constituía de políticos, magistrados, empresários, advogados, jornalistas e radialistas e outros de grande destaque. Eram noitadas de muito glamour.


Os homens que formavam a clientela, geralmente ali compareciam trajando ternos de linho, casimira ou tropical e as mulheres que residiam e “trabalhavam”, trajavam vestidos longos dos modelos soirée ou “tomara que caia”, copiados das revistas que publicavam fotos das divas do cinema americano. Todas bem maquiadas, com cabelos bem cuidados e com penteados caprichados, assim como as unhas bem pintadas luxuosamente.


Outras casas se estendiam ao longo da rua, destacando-se O Casarão, dirigido pela Madame Nenzinha, recentemente falecida, muito frequentado por boêmios e mulheres vindas da periferia da cidade que disputavam o espaço e a clientela com as ali residentes.


O casarão Três Xis, uma moradia coletiva, habitada pelas “Damas da Noite”. Naquela artéria estava também o Bar do Galvão que ocupava o primeiro piso de um sobradão e no segundo piso, as instalações para as mulheres damas.

As Boites Crás e Bela Vista, que oferecia música ao vivo com orquestras ou conjuntos musicais, onde se exibiam dançarinos exímios como Borges Estivador, Messias Peru, Baldez taxista e outros.

A Rua 28 de Julho nos anos 80 (à esquerda) e em 2020 (à direita). Fotos: Casa Memorial

Na Rua 28 de julho, hoje chamada Rua do Giz, existiam as boites da Lavínia, Micaela, Maria Pereira, Zilda Preta, Beraba, Crescêncio e, Sinhá Dica, Velho 29, Benedito Sorveteiro, Zilda Magra. Lilá Araçagy, Sonho Azul e outros cabarés de menor porte.

Os grandes dançarinos


A Zona daquela época tinha as boites com música ao vivo e ali se destacavam os melhores dançarinos da cidade. Com destaque para um homem chamado Leão, Alemão, Borges Estivador, Baldez Taxista e o jornaleiro Messias Peru, que chamava a atenção de todos com sua forma elegante de dançar, o que fez com que conseguisse um emprego no Estado.

Alguns já faleceram e outros foram vencidos pela ação do tempo, tendo sido vistos em exibições na Choperia Kabão, no Centro Histórico.

Estado de Abandono


A Zona do Baixo Meretrício ocupava boa parte do Centro Histórico, oferecendo diversão, alegria e ilusão, com funções todas as noites, até alta madrugada e às vezes até o amanhecer, quando todos se retiravam e as prostitutas se recolhiam com seus cafetões e gigolôs, homens pelos quais tinha predileção e que chegavam a sustentar.

Estes esperavam o cabaré fechar, para irem ao encontro da mulher que tinham a predileção. Foram os tempos dourados da ZBM, que hoje não existe mais, dando lugar a prédios abandonados.

Boemia contemporânea


Depois dos anos 60, a Praia Grande sofreu certa decadência e sua vida noturna. Ficou quase reduzida a nada. Porém, após as obras do Projeto Reviver, nos anos 80, que recuperou as instalações físicas da área com melhorias urbanas significativas, a vida noturna teve uma retomada, com a abertura de novos restaurantes e bares de boa qualidade. 

O antigo Largo da Alfândega virou Praça Nauro Machado sendo o local de encontro dos jovens e onde, vez por outra, realizam-se shows artísticos e apresentações culturais.

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