Unicef: 19% não têm dinheiro para comprar absorventes no Brasil
Estudo revela que parcela significativa de pessoas que menstruam enfrenta desafios para acessar itens de higiene básicos no país
O direito de menstruar de maneira digna, segura e com acesso a itens de higiene ainda é um desafio para adolescentes e jovens, o que inclui meninas, mulheres, homens e meninos trans e pessoas não binárias que menstruam.
Segundo resultados de enquete promovida pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), por meio da plataforma U-Report, em parceria com a Viração Educomunicação, dos 2,2 mil participantes, 19% não possuem dinheiro para comprar absorventes e 37% têm dificuldades de acesso a itens de higiene em escolas ou locais públicos.
No Dia Internacional da Dignidade Menstrual, celebrado na última terça-feira, 28 de maio, o UNICEF faz alerta de que a pobreza menstrual ainda persiste no Brasil, uma vez que pessoas que menstruam têm necessidades de saúde e higiene menstrual negligenciadas devido ao acesso limitado à informação, educação, produtos, serviços, água, saneamento básico, bem como a variáveis de desigualdade racial, social e de renda.
Embora não seja uma pesquisa com rigor metodológico, a enquete também traz que 6 entre cada 10 participantes já deixaram de ir à escola ou ao trabalho por causa da menstruação e 86% já deixaram de fazer alguma atividade física por conta do tema.
Além disso, a temática ainda se mantém envolta em tabus, escassez de dados e desinformação, pois 77% dos respondentes já sentiram constrangimento em escolas ou lugares públicos por menstruarem e quase a metade nunca teve aulas, palestras ou rodas de conversa sobre menstruação na escola.
O UNICEF contribui para enfrentar os desafios impostos pela pobreza menstrual a partir de estratégias de garantia de acesso à água, saneamento e higiene, incluindo a instalação de estações de lavagens de mãos em escolas, apoio a adolescentes e jovens no desenvolvimento de competências para a vida, no empoderamento e na saúde menstrual, além da distribuição de kits de higiene.
Direito à dignidade menstrual em emergências
O direito à dignidade menstrual pode ser comprometido não somente pela falta de acesso ou acesso inadequado à água, saneamento e higiene, mas também por outras variáveis envolvendo a desigualdade racial, social e de renda. Fatores esses que podem se sobrepor em uma situação emergencial.
Em meio às fortes chuvas e inundações que assolaram o Rio Grande do Sul no início do mês, a pedido do Governo Federal, o UNICEF vem apoiando a resposta voltada a crianças e adolescentes no Estado. Entre as ações está a assistência técnica a órgãos dos governos, a criação de espaços seguros para crianças em abrigos, em parceria com a sociedade civil, e a distribuição de kits para abrigos.
Entre esses kits há um específico voltado à dignidade menstrual, incluindo absorventes, coletores menstruais, calcinhas e itens de higiene pessoal, lanterna e apito de segurança, para apoiar pessoas que menstruam, no contexto da emergência. Os kits estão sendo finalizados e chegam ao Rio Grande do Sul na próxima semana, para ser entregues aos abrigos.
Olhar para a pobreza menstrual sob a perspectiva de um fenômeno multidimensional e transdisciplinar é essencial. Por isso, em uma situação emergencial como essa, que tem exposto pessoas a diversas vulnerabilidades, não poderíamos deixar de agir em relação ao direito à dignidade menstrual. Esse é um direito básico que, devido à situação, exige estratégias de enfrentamento específicas”, enfatiza Gabriela Monteiro.
Sobre a enquete
As enquetes do U-Report são realizadas via internet, utilizando WhatsApp, SMS e Messenger do Facebook, em parceria com a Viração Educomunicação, com mais de 95 mil adolescentes e jovens inscritos.
Não se trata de pesquisas com rigor metodológico, mas de consultas rápidas por meio de redes sociais entre pessoas, principalmente de 13 a 24 anos, cadastradas na plataforma. Esta enquete apresenta a opinião de 2,2 mil adolescentes e jovens e não pode ser generalizada para a população brasileira como um todo. Os resultados da enquete completa estão disponíveis em: https://brasil.ureport.in/opinion/3788/.
*Informações da UNICEF