VIOLÊNCIA DE GÊNERO

LGBTfobia é risco para saúde mental

No dia 28 de junho, Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAP+, O Imparcial aborda a saúde mental, questão de saúde pública e que preocupa especialistas.

Reprodução

O mais recente Dossiê de LGBTIfobia Letal, divulgado em maio último,  denunciou que durante o ano de 2023 ocorreram 230 mortes LGBT de forma violenta no país. Dessas mortes 184 foram assassinatos, 18 suicídios e 28 outras causas. No Maranhão, no total, foram contabilizados 8 mortes.

O documento é produzido pelo Observatório de Mortes e Violências contra LGBTI+, que desde 2021, é constituído pela cooperação entre 3 organizações da sociedade civil: a Acontece Arte e Política LGBTI+, ANTRA – Associação Nacional de Travestis e Transexuais e a ABGLT – Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos.

A pesquisa de 2023 identificou diversos tipos de violência LGBT, como esfaqueamento, apedrejamento, asfixia, esquartejamento, negativas de fornecimento de serviços e tentativas de homicídio. Houve uma maioria de mortes LGBT provocadas por terceiros: 184 homicídios, representando 80% do total, 18 suicídios, que corresponderam a 7,83% dos casos e outras 28 mortes, 12,17% dos casos.

O dossiê aponta um número significativo de suicídios, com 30 casos registrados (10,99%),  uma evidência dos danos causados pela LGBTIfobia estrutural na saúde mental das pessoas. “Os suicídios são contabilizados no total de mortes de pessoas LGBTI+ uma vez que a LGBTIfobia é um grave fator social de risco à saúde mental para pessoas LGBTI+, frente ao grau e à recorrência de violações, até mesmo letais, contra essa comunidade. Esses riscos aumentam ainda mais conforme os indivíduos integram concomitantemente outros grupos minoritários”, diz o relatório.

De acordo com o dossiê, apesar da totalidade dos números de Brasil representar a grande perda de pessoas, principalmente por sua identidade de gênero e/ou orientação sexual, há indícios para presumir que esses dados ainda são subnotificados no Brasil.

O sofrimento e a dor

O auxiliar de cozinha Rafael Oliver, 20, residente de um bairro quilombola em São Luís, tem uma vida marcada por desafios desde a adolescência. “Desde cedo, percebi ser diferente, mas a realidade da comunidade onde cresci me ensinou que era mais seguro esconder quem eu realmente sou. O medo de ser descoberto como gay sempre esteve presente, e a rejeição parecia inevitável”, recorda.

Quando seus pais descobriram sua orientação sexual, a reação foi avassaladora: “Meu pai bateu no meu rosto, gritou, me chamou de ‘bicha’ e disse que a partir daquele momento eu não era mais filho dele, porque ele não tinha gerado aberração humana”, contou. Expulso de casa aos 17 anos, Rafael chegou a dormir em um terminal de ônibus por três noites e até mesmo a mãe foi proibida de ajudá-lo.

Após enfrentar noites de frio e fome, a única solução encontrada por Rafael foi se submeter a situações de abuso sexual.

“Conheci uma pessoa em situação de rua que me levou para um casarão abandonado, me deu comida e abrigo. Fui abusado sexualmente e, sem alternativa, aceitei. A sensação era de ser um lixo humano, abandonado e sem apoio”, relembra. Com os traumas vividos no decorrer dos anos, ele desenvolveu depressão e ansiedade. Hoje, encontrou “a cura” na religião.

A estudante universitária Júlia Mendes, 22, relata que se identificar como uma mulher lésbica tem sido fonte de sofrimento e dor. “Deveria ser algo natural, mas para mim, tem sido uma fonte constante de sofrimento. Desde a adolescência, enfrento uma batalha interna e externa que me levou a desenvolver depressão e síndrome do pânico”, desabafa.

Até hoje, a estudante nunca encontrou a oportunidade de dizer aos pais quem ela realmente é. Perante a família, ela se comporta como se fosse heterossexual. “Namorei um vizinho para tentar esconder que sou lésbica e considero que fui violentada, pois transar com ele sem desejá-lo e contra a minha vontade foi uma violência. Minhas noites eram preenchidas por insônia e crises de choro”, relembra.

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