Crime

Golpistas usam fotos de médicos e de militares para pedir dinheiro às vitimas nas redes sociais

Com relatos convincentes, golpistas conquistam a confiança e apelam para o emocional das vítimas para obtenção de recursos financeiros.

Reprodução

Eles são homens bem-sucedidos. Geralmente são médicos cirurgiões, engenheiros em plataformas de petróleo, militares americanos. Alguns são funcionários das Nações Unidas e estão atualmente trabalhando em zonas onde já houve guerra ou tem conflito como Afeganistão, Iraque, Iêmen, Síria, Sudão, Somália, Israel e Ucrânia. Todos eles perderam os pais para o câncer, são viúvos e com filhos menor de idade que estão matriculados em internatos nos Estados Unidos, na Dinamarca ou no Reino Unido. Eles são de boa aparência, muito gentis e românticos.

Em breve devem se aposentar ou sair de férias e querem começar uma vida nova no Brasil. Estes homens estão nas diversas redes sociais e precisam de ajuda para sair das zonas de conflito. Se você está conversando nas redes sociais com alguém que tenha estas características pode ser que do outro lado estejam os chamados scammers (golpistas, em inglês).

As redes sociais e sites de relacionamentos são campos férteis para ação de golpistas que usam perfis falsos para se aproximar de pessoas e pedir dinheiro. O delegado Guilherme Campelo, chefe do Departamento de Combate aos Crimes Tecnológicos (DCCT), da Superintendência Estadual de Investigações Criminais (Seic), da Secretaria de Estado de Segurança Pública do Maranhão explica como é o modus operandi desses criminosos. Segundo o delegado, os golpistas montam um perfil com dados e imagens falsas de acordo com o público e vítima que desejam atingir.

A partir daí passam a solicitar amizade e trocar mensagens com a intenção de atrair e se relacionar com a vítima, ganhando afeição e confiança, para em seguida realizar solicitação de valores. “Os perfis são variados, mas se observa que os criminosos miram em vítimas com mais idade. Há notícias de criminosos em países como Nigéria, Mali que se passam por médicos, engenheiros e militares americanos”, afirmou o delegado.

Os relatos das vítimas revelam que as histórias sempre são parecidas e os golpistas continuam com os perfis falsos para abordar mulheres, geralmente com idade acima dos 40 anos. Após conquistar a confiança da vítima e criar um vínculo afetivo, os golpistas simulam diversas situações que pode ser de recompensa (eles estão com dinheiro/joias preso e não podem acessar a conta e pedem ajuda com envio de pacote para a vítima e que fica retido na alfândega/Correios/transportadora e, para liberá-lo, é preciso que pague uma quantia em dinheiro), de emergência (pois precisam pagar taxa escolar, livros ou tratamento da doença dos filhos), de casamento (precisam que a vítima solicite sua aposentadoria, férias ou licença junto às Nações Unidas para que venha ao Brasil se casar).

Uma caixa com dólares americanos presa nos Correios foi a história contada para Sandra*, que mora no Distrito Federal. Ela disse que setembro do ano passado um homem muito bonito a adicionou no WhatsApp com o nome de Stevan Dees.

“Achei estranha a abordagem e perguntei como ele conseguiu meu contato e ele me falou que estava procurando um amigo pelo WhatsApp e me encontrou. Em poucos dias de conversa já estava me chamando de amor. Disse que estava em missão de paz na Síria, era pai de um casal de filhos e queria recomeçar a vida no Brasil comigo e os filhos”, relata a vítima.

Sandra informa que após algum tempo de conversa já estava apaixonada pelo golpista e isso facilitou o envio de R$ 3 mil para liberar a caixa presa nos Correios.

“Stevan me informou que ia mandar a caixa com dólares, me mostrou fotos e pediu para que eu guardasse a caixa. Recebi contato dos correios que a caixa havia chegado e receberia em 24h. No dia seguinte fui informada que verificaram o conteúdo da caixa e que eu precisaria pagar três mil reais para liberar o pacote. Me enviaram o número de uma conta e eu caí, enviei o dinheiro e a caixa não chegou. O Stevan disse que tudo naquela caixa era a vida dele e que precisava recuperar a caixa. Ainda me pediu 10 mil reais e como não consegui enviar o dinheiro fui me dando conta de que caí em um golpe”, relata.

Números de vítimas no Maranhão e no Brasil

Só no ano passado, com base nos registros da Polícia Civil do Maranhão, 24.340 maranhenses foram vítimas de golpes virtuais. No Brasil, uma em cada cinco pessoas já foi vítima de golpistas virtuais, o que corresponde a mais de 22 milhões de brasileiros, de acordo com a última pesquisa realizada pela PSafe, desenvolvedora dos aplicativos dfndr, em 2020. De lá para cá estima-se que estes números só aumentam a cada ano. A maranhense Maria* foi vítima de um golpista nigeriano. As conversas de whatsapp vinham de um número telefônico com o código de Discagem Direta Internacional +234. “A história é sempre a mesma.

Ele era médico cirurgião e militar americano em missão no Iraque, de 55 anos, viúvo e com um filho no internato nos Estados Unidos. Sou uma mulher cristã e a história dele foi bem convincente. Ajudei ele com as despesas escolares da criança, cheguei a enviar mais de sete mil reais. Depois de 3 meses de conversa desconfiei ser golpe. Bloqueie ele no Whatsapp e no Instagram”, conta.

O Instituto GKScanOnline é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público que desde 2011 oferece apoio as vítimas de golpes virtuais com serviços jurídicos, psicológicos e psiquiátricos. A instituição entre fevereiro de 2022 a fevereiro de 2023 atendeu a 245 vítimas de golpistas virtuais. No balanço do período, o Instituto constatou que mais de um milhão de reais foram as perdas financeiras de 34 vítimas que realizaram transferências de dinheiro para os golpistas e que buscaram ajuda junto ao Instituto.

A instituição vem trabalhando na conscientização e alerta para os golpes virtuais, através de um site com materiais que expõem a verdadeira face deste tipo de crime. Homens também costumam ser vítimas dos scammers, como é o caso do Lucas*. Ele conheceu a suposta soldado norte americana Cristiana Castro em um aplicativo de namoro. Jovem bonita, 26 anos, órfã e solteira conquistou a confiança da vítima e prometeu casamento após terminar seu trabalho de missão de pacificação na Síria. Lucas conta que perdeu muito dinheiro ao enviar para a golpista cartões-presentes (giftcards) e com pagamento junto a uma transportadora para liberar a caixa com os pertences e economias da soldado americana.

Como se prevenir dos golpistas virtuais

O delegado Guilherme Campelo dá algumas dicas para identificar perfis suspeitos nas redes sociais e não cair nos golpes virtuais. Ele recomenda não abrir ou clicar em mensagens e e-mails desconhecidos; sempre buscar as ferramentas disponíveis para se confirmar a identidade de quem está do outro lado da conexão, utilizando, por exemplo, chamadas de vídeo. Os golpistas, geralmente evitam ao máximo esse tipo de contato com a vítima.

Havendo a solicitação de dados pessoais e/ou pagamento de qualquer natureza, a pessoa deve triplicar os cuidados na confirmação da identidade de quem está do outro lado e do beneficiário de eventual transferência. “É bom sempre ter consciência de que, no mundo virtual, você pode estar interagindo com um criminoso e não com a pessoa que você acredita, com base nas fotos e informações postadas”, alerta o delegado.

Fui vítima de golpistas virtuais e agora?

O delegado explica que é importante que a vítima procure a Delegacia de Polícia para registro do fato, devendo incluir todos os detalhes do ocorrido. No Maranhão, a Polícia Civil conta com duas Unidades, a depender do caso específico, para registro e investigação dos casos que é o Departamento de Combate a Crimes Tecnológicos e a Delegacia de Defraudações.

Em caso de transferência de dinheiro ou vazamento de dados pessoais, a vítima deve contatar o seu banco para bloquear acesso a conta pelo dispositivo, caso tenha sido clonado ou subtraído, bem como solicitar o bloqueio de transações financeiras.

Para se manter seguro e escapar dos golpistas é importante manter rotinas de segurança ao navegar por sites, redes sociais e aplicativos de relacionamento como: modificar senhas de rede social, adicionar duplo fator de autenticação; mudar senha dos e-mails; mudar a dupla verificação do WhatsApp também e manter um bom programa de antivírus instalado em computadores e dispositivos móveis.

*Sandra, *Maria e *Lucas tiveram seus nomes modificados para preservar suas identidades.

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