SÃO JOÃO

Festança no Ceprama: 20ª edição do evento abre mais uma temporada junina em São Luís

Comemorações marcam a festa deste ano no local – que completa 35 anos evidenciando o artesanato maranhense em 2024

Reprodução

Em 2024, um dos mais tradicionais e importantes espaços culturais de São Luís comemora 35 anos de criação — o Centro de Comercialização de Produtos Artesanais do Maranhão (Ceprama). Sustentabilidade, tradição e criatividade estão expressas na produção artesanal do local.

Pensado para destacar tal arte, o espaço — ao longo de sua história —, se tornou conhecido também como palco grandes apresentações artísticas e eventos. Um deles celebra 20 anos em 2024: a tradicional Festança Junina no Ceprama.

A primeira noite reuniu milhares de ansiosos pela tradição junina maranhense nesta quarta-feira (29). (Mais após a imagem)

Foto: José Vitor

Apesar da temporada ainda ser das prévias do São João, o espaço foi tomado pelo fervor típico dos arraiais juninos já na noite de abertura, como em pleno mês de junho: arena lotada, mesas e barracas ocupadas, adultos e crianças imitando coreografias e o chão tremendo com o embalo das toadas e outros ritmos.

O Tambor de Crioula Arte Nossa começa a noite no Ceprama. Foto: José Vitor

Antecipar o São João para o final do mês de maio foi justamente a gênese da Festança — criada pelo produtor cultural Mário Jorge, em 2004.

Eu estava aqui no Ceprama, trabalhando no arraial do Estado. De repente, o locutor anunciou a última atração da noite, “e agora, só ano que vem”. Pensei, “por que não criar uma festa junina já a partir de maio?” […] Há 20 anos mantemos viva essa tradição e resistência cultural.

MÁRIO JORGE – CRIADOR E PRODUTOR DA FESTANÇA

A festa, que no início durava apenas uma noite, logo foi extendida para três noites. Na ocasião de 20 anos, a programação da Festança Junina vai durar cinco, indo até 02 junho.

[Em 2024] há mais grupos e apresentações que nunca tinham participado da Festança. Assim, preenchemos mais a grade.

MÁRIO JORGE – CRIADOR E PRODUTOR DA FESTANÇA

A primeira noite do evento foi embalada pelo Boi de Morros, pelo batalhão pesado do Bumba Meu Boi da Maioba (sotaque de matraca) e o Boi Lendas e Magias — além da cantora Flávia Bittencourt, o Cacuriá de Dona Teté e o grupo de Tambor de Crioula Arte Nossa. (Mais após a imagem)

O Cacuriá de Dona Teté embala o público na arena. Foto: José Vitor

Diretor do Ceprama, Jorge Beckman tem a Festança intimamente ligada ao espaço.

“A importância dela para o Ceprama tem tudo a ver com a história da fábrica, com o contexto histórico e geográfico do espaço — situado na Madre Deus, o bairro mais cultural e mais boêmio de São Luís”, diz Jorge Beckman, fazendo referência à localização do espaço. (Mais após as imagens)

Nas palavras de Mário Jorge, da Festança continua “como um projeto genuinamente maranhense com atrações genuinamente maranhenses”.

O cantinho da arte manual e da criatividade

Sempre atraindo grande público em eventos culturais em épocas festivas distintas, o Ceprama acabou ficando mais conhecido como palco dessas manifestações — por vezes, ofuscando o real protagonista do espaço: o artesanato maranhense. (Mais após a imagem)

Foto: José Vitor

Dentro do prédio, 38 estandes funcionam diariamente, comercializando produtos em fibra de buriti, azulejaria, vime, fibra de tucum, em chifre, especiarias, madeira e cerâmica, além de bebidas regionais, vestuário e indumentárias de grupos juninos.

Jorge Beckman já está na direção do Ceprama há dois anos. De quando a assumiu, ele lembra da importância em destacar o trabalho dos artesãos mediante tais eventos.

Uma de nossas cláusulas era que em qualquer evento — seja ele qual for — o artesanato do Ceprama tenha espaço garantido. Nessa edição da Festança, temos espaço exclusivo para as artesãs. São doze artistas e três convidados.

JORGE BECKMAN – DIRETOR DO CEPRAMA

Uma das integrantes mais longínquas do espaço, Lúcia Franco é uma das criadoras trabalhando na Festança. Artesã há mais de 30 anos, ela aprendeu a transformar sementes em velos colares com um indígena Guajajara chamado Ademar. (Mais após a imagem)

As biojoias de Lúcia Franco; colares de semente têm base Guajajara. Foto: José Vitor

Esta identidade marcaria sua arte, à disposição durante a Festança e no Ceprama, diariamente.

Trabalho há 33 anos no Ceprama e hoje à noite, o movimento está excelente. Nós esperamos o ano todo por essa Festança. Por ela ser uma prévia do São João, o pessoal chega com sede. Se divertem e compram ao mesmo tempo.

LÚCIA FRANCO – ARTESÃ

Logo nas primeiras horas de Festança, as criadoras Lenilda de Lima e Antônia Mesquita de Jesus também já se mostravam safistfeitas com o movimento em suas barracas. (Mais após a imagem)

Lenilda de Lima é uma das artesãs do Ceprama. Foto: José Vitor

Assim como Lúcia Franco, Lenilda confeciona biojoias e hoje trabalha levando sua arte para além das paredes do Ceprama.

Apesar de compor a identidade cultural do Maranhão, Lenilda de Lima sente falta de mais destaque da arte nos festejos juninos.

“Levo [para outros estados] como souvenires do Maranhão, toda época junina. Já trabalho há muitos anos em arraiais, e sinto que o artesanato não costuma ficar em evidência [nos festejos]. O carro-chefe do São João do Maranhão segue com o artesanato”, observa Lenilda.

Já Antônia Mesquita de Jesus confeciona itens com fibras de buriti e bananeira — desde bolsas a sandálias. (Mais após a imagem)

Os produtos feitos por Antônia Mesquita de Jesus, com fibra de bananeira e buriti. Foto: José Vitor

Ela enxerga tempos melhores para o seu comércio, além das consequências positivas da Festança para os artesãos do Ceprama.

Depois de um período um pouco fraco de vendas, com as chuvas que dificultam o trajeto da fibra [usada em seus produtos], acredito que a tendência agora é melhorar. Agora mesmo, nas primeiras horas da Festança, estou gostando do movimento das vendas.

ANTÔNIA MESQUITA DE JESUS – ARTESÃ

Aniversário e projetos

Quem também vê um futuro promissor é o diretor Jorge Beckman, que revela projetos de revitalização para o Ceprama e os artistas que são parte do local.

Artesãs em oficina de Decoração de Máscaras Carnavalescas ministrada pelo instrutor e coordenador do Programa do Artesanato Brasileiro (PAB), Leônidas Lima, no Ceprama. Créditos – Instagram/Reprodução

O diretor agora visa reinventar a dinâmica da arte no espaço:

Tivemos a ideia da Calçada da Arte: fazer o artesanato de dentro para fora: se os turistas, se as pessoas não vêm até o Ceprama, o Ceprama vai até eles. Como Milton Nascimento diz, o artista vai aonde o povo está. Vamos colocar nossos artesãos na calçada do Centro todas às sextas, para atrair as pessoas e para que a comunidade da própria Madre Deus tenha a noção de pertencimento desse espaço.

JORGE BECKMAN – DIRETOR DO CEPRAMA

O gestor adianta ainda que o local deve passar por reforma, já que “a parte elétrica [por exemplo] ainda é original e nunca foi trocada.”

Fundado em 1989, o Ceprama funciona em um casarão onde funcionava a antiga fábrica da Companhia de Fiação e Tecelagem Cânhamo, no coração do bairro cultural da Madre Deus. 

Enxergando além, o Beckman sonha com um Ceprama nos moldes do Mercado Central de Fortaleza – além do artesanato, considerado berço da arte e da cultura do Ceará, onde se encontra “desde a rede à rapadura”.

“Tivemos a ideia de prospectar o espaço abrir para toda a organização da sociedade civil e para projetos de inclusão social. Já realizamos dois. Também [planejamos] uma Feirinha a partir de julho e aos sábados, das 9h às 10h da manhã”. revela o gestor.

Tudo a seu tempo — e no momento, a Festança segue até o próximo domingo (2) como excelente oportunidade de apreciar o artesanato maranhense único no Ceprama, além da prévia de São João que já faz mais do que apenas aquecer locais e turistas para as festividades do mês de junho.

Festança Junina do Ceprama

Ceprama

  • Aberto de segunda a sexta-feira, das 09h às 17h.
  • Aos sábados das 09h às 13h.

Agradecimento especial: Geísa Batista | SETUR

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