O Código Dino
Ex-governador está desembarcando no STF, onde o tempo de estadia é incerto. Saída dele do mundo da política abre grande concorrência no MA
A ida do ex-deputado federal, ex-presidente da Embratur, ex-governador do Maranhão, ex-ministro da Justiça e Segurança Pública (MJSP) e ex-senador da República (a esta altura, já deve ter renunciado ao cargo) Flávio Dino para o Supremo Tribunal Federal (STF) abre um leque de possibilidades no campo político estadual e nacional. E quando se fala em leque, nada está descartado, nem mesmo uma futura volta à seara ora deixada.
Flávio Dino se tornou uma das maiores lideranças políticas do Brasil nos últimos 10 anos. Desde quando abdicou da carreira na magistratura para “cumprir uma missão junto ao povo do Maranhão”, como declarou por mais de uma vez, Dino calçou uma trajetória que iniciou duvidosa, mas que, com o tempo, se mostrou firme e exitosa. Foi, como dizem os gestores públicos, uma obra de canalização (que ninguém vê) e de pavimentação (que gera opiniões de fato – positivas, quando bem feitas e duráveis, e negativas, quando deterioráveis em pouco tempo).
Por 18 anos, Flávio Dino militou na esquerda política do país, tendo ganho maior destaque por alguns feitos:
- derrotou o grupo dominante da política no Maranhão – o mesmo que ele voltou a ter proximidade em 2022, por interesses comuns;
- confrontou os baixos índices de políticas públicas – e, aqui, não fazemos juízo de ter obtido sucesso ou não;
- foi reacionário contra a prisão de Lula e o impeachment de Dilma, tendo mostrado juridicamente que tais atos não tinham base na Constituição, o que se mostrou um fato real tempos mais tarde;
- foi, depois de Lula, o principal adversário político da direita, seja a tradicional ou a extremista. Diretamente falando, se mostrou ser o grande debatedor da esquerda nas questões nacionais;
- se tornou persona non grata para figuras relevantes ou importantes da direita, como o ex-presidente da República, Jair Bolsonaro;
- se tornou ministro da Justiça e Segurança Pública e, como tal, encarou diversos debates, alguns dos quais ele mostrou, de forma convincente, que tem amplo domínio dos temas jurídico e social;
- por último – e merecedor de destaque -, propôs mudanças na legislação que podem igualar todos os níveis do serviço público no que diz respeito a penalidades quando comprovadas irregularidades por parte de quem cometeu desvio de conduta (falo da PEC que acaba com certos benefícios a juízes, promotores e militares). Importante destacar que tal proposta foi feita nos poucos dias de Dino na Câmara Alta.
Estes são apenas alguns dos feitos que podemos citar de forma genérica. E tudo isso não passou sem ser observado por quem estava caminhando na mesma pegada do neo-ministro do Supremo, um grupo robusto de aliados (de longas datas e recentes) que estão atentos às aulas do Professor Dino.
A saída de Flávio da política e regresso ao judiciário abre espaço para um grupo de pessoas reivindicar posições de lideranças no mundo político. O nome imediato desta lista é o atual governador do Maranhão, Carlos Brandão. Ele não só substituiu Dino no governo estadual (algo natural, como vice que era), como assumiu o comando do PSB regional, respaldado pelo presidente nacional da sigla, Carlos Siqueira.
Mas Brandão não é único que quer “herdar” o legado de Flávio Dino. O verbo herdar, inclusive, já foi alvo de muitas afirmativas e algumas respostas por parte do centro da discussão (Flávio) – “Que herança? Eu não morri”, disse ele. Mas é inegável que alguns políticos vão, no mínimo, manter (ou tentar) o jeito Dino de fazer política.
Depois de Brandão, aparecem, na mesma escala, nomes como o vice-governador Felipe Camarão, os senadores Weverton Rocha e Eliziane Gama, alguns deputados federais e outro tanto de estaduais (podemos citar Rubens Pereira Júnior, André Fufuca, Duarte Jr, Carlos Lula, Rodrigo Lago, entre outros). Camarão, inclusive, é contumaz em falar sobre “continuar o legado do ex-governador Flávio Dino”, deixando claro que o ex-PCdoB e ex-PSB é um exemplo a ser seguido – pensamento compartilhado por muitos políticos locais.
No entanto, como bem disse Dino, não nos parece existir herança, pois é “quase” certa a volta dele a política um dia. Isto é algo claro para quem conhece um pouco do ex-ministro. Flávio Dino é o tipo de pessoa movida pelo desafio, curioso pelo novo, pelo que não conhece. Foi isso que o fez sair da Justiça e se aventurar na política – aventura exitosa. Foi isso que o fez assumir postos diferentes e, mesmo quando passou quase oito anos na mesma função, não se manteve acomodado (participava ativamente de cada decisão e ação dentro do seu governo, estilo que levou consigo para o MJSP). A volta ao universo jurídico prático é mais uma demonstração da inquietação de Dino contra a mesmice.
Ele vai voltar à política. Quando isso vai acontecer, nem mesmo Flávio Dino pode dizer. Ele pode cumprir fielmente os 20 anos que tem de limite no STF, pode ficar só metade (para não dizerem que ele não quis ir ou que desejava muito e disfarçava), pode ficar cinco anos, quatro, três, dois, um. Os sabores do Direito e a maciez da toga é que vão determinar o quanto ele pretende estar distante da política partidária. Só não se enganem: Dino vai voltar a política sim, mesmo que não concorra a cargos eletivos – o que é muito difícil de acontecer.
“O cenário político nos Estados Unidos me anima”, disse ele, se referindo diretamente a idade dos principais candidatos à presidência estadunidense. O gosto da política está em Flávio Dino e ele vai lembrar disso todos os dias.