Rádios AM do Maranhão se preparam para migrar ao FM
Prazo para migração ao FM terminou no último dia do ano passado
O novo ano chegou e traz muitas novidades. E a primeira delas é para ter sido imediata – na virada do ano. No dia 31 de dezembro, expirou o prazo para a autorização das transmissões de rádio AM no Brasil. Com o fim da Amplitude Modulada (AM), as rádios só poderão operar na Frequência Modulada (FM).
No Maranhão, ainda existe um grupo de rádios que precisam fazer a migração. Segundo relação não-oficial constante no Wikipedia, 17 rádios ainda atuam na AM (confira relação no quadro). Destas, quatro são de São Luís: Capital, Educadora, Mirante e Timbira.
Rádio Capital AM
Quem liga o rádio e busca pela frequência 1180 Khz, vai ouvir apenas o velho chiado do rádio AM. Com 76 anos de existência, a Rádio Capital está fora do ar por mais de seis anos – desde que a torre de transmissão foi derrubada por invasores do terreno onde ela estava.
Fundada como Rádio Ribamar AM, por Ribamar Pinheiro e Gérson Tavares, a Rádio Capital só veio ter esse nome depois que passou para o controle da Família Rocha. Antes disso, ela foi controlada pelo empresário Raimundo Vieira da Silva, que comprou a emissora e, com ela, criou o Grupo de Comunicação Vieira da Silva, hoje formado pela TV Cidade e Rádio Cidade (arrendada a Igreja Pentecostal Deus é Amor).
Há alguns anos, passou-se a comentar que o deputado federal Cléber Verde estaria interessado em adquirir a Rádio Capital e migrá-la para o FM. Fato ou não, o interesse parece nunca ter saído do papel – não se sabe se por resistência do ex-senador e empresário Roberto Rocha, detentor da concessão, ou se desistência de Verde, uma vez que a Rádio Capital enfrenta diversos problemas para além da torre destruída.
Rádio Educadora AM
Com o nome originalmente sendo Rádio Educadora Rural do Maranhão Ltda, a Rádio Educadora surgiu da iniciativa de um grupo formado por Dom José Medeiros Delgado, Monsenhor Dr. Artur Lopes Gonçalves, Cláudio Brandt, Voltaire Frazão e Osvaldo Vasconcelos, que tinham como um “sonho de levar a cultura popular e a educação, de forma mais rápida as mais distantes localidades do Maranhão, principalmente à zona rural”.
A Rádio Educadora AM entrou no ar em 12 de junho de 1966, com sede na Rua do Sol. A programação era feita por instituições públicas, como Secretária de Agricultura e Educação do Estado, Associação de Crédito Assistência Rural e Movimento de Educação de Base. Com o tempo, a Educadora mudou de endereço (foi para a sede da Arquidiocese e, depois, para o Apicum) e também a programação, estando mais voltada ao segmento católico, sem deixar de tratar das questões sociais. Hoje, é ligada a Fundação Dom Delgado (FUNDEL) e integra a Rede Católica de Rádio (RCR).
Ao longo dos anos, muitos foram os programas de destaque na emissora, a exemplo do “Programa do Galinho”, “Roda Viva” e “Ronda 560”, entre tantos outros. Mas tudo isso deve ficar na história, pois a Educadora está se preparando para migrar ao FM e se adequar a nova faixa.
“A nossa rádio vai migrar do AM 560 para o FM 88.3”, disse Padre Gutemberg Feitosa, um dos diretores da FUNDEL, que é formado em Jornalismo.
“Fizemos o pedido há alguns anos. Ele foi aceito. Arrumamos toda documentação necessária para que a rádio esteja dentro dos padrões para migração. Uma vez com todo esse documento e com o aceite da Anatel [Agência Nacional de Telecomunicações], nós recebemos a autorização para fazer a migração, e com ela começa a busca dos equipamentos, cotação de preços, verificar onde vamos instalar”, informou Padre Guto, como é conhecido.
O que mais está demorando no processo de migração é a parte técnica, porque é preciso fazer todo um estudo de colocação dos equipamentos.
“Obras que é preciso fazer no ambiente para adequar aos equipamentos, cálculos do posicionamento dos equipamentos, da antena”, explicou.
Apesar do prazo de funcionamento do AM expirar agora neste mês de janeiro de 2024, o padre acredita que a Anatel vai ser tolerante com aqueles veículos que estão em fase de finalização da implantação do sistema FM. No caso da Educadora, a migração não deve ultrapassar o limite de três meses, com previsão mais forte para entrar no ar logo em janeiro.
“A gente tá com a previsão para janeiro. Pode haver algum atraso que nos faça pedir prazo extra. A previsão mais dilatada é para março, mas trabalhamos para janeiro, com uma programação preparada com muito carinho pela nossa equipe, que vai continuar com a marca Educadora, uma rádio que evangeliza. É a mesma Educadora, só que, agora, na frequência em FM”.
Rádio Mirante AM
Mais nova de todas as AMs de São Luís (tem 35 anos de existência), a Mirante AM 600 Khz é parte do Grupo Mirante, de propriedade da Família Sarney. Quando estreou, foi uma espécie de modelo para o que viriam a ser as rádios em FM, pois a programação era essencialmente musical, com o que era sucesso à época. Essa raiz é carregada até os dias atuais, com parte da programação explorando músicas, seja na madrugada ou aos finais de semana.
Com o passar dos anos, o jornalismo se tornou o carro-chefe da emissora, tendo a Mirante AM integrado a Central Brasileira de Notícias (CBN) por dois anos e, depois, formado seu próprio conglomerado de rádios afiliadas no Maranhão.
Dentro do Grupo Mirante em São Luís, existem duas rádios (uma AM e uma FM), uma TV e um site de notícias. Com a migração das rádios AM, o sistema pode contar com duas rádios em FM – algo parecido com a Difusora, que tinha rádio no AM e FM, e hoje tem duas na Frequência Modulada (Difusora FM e Difusora News FM).
A equipe de O Imparcial tentou contato com o diretor da rádio, o jornalista e radialista Zeca Soares, para saber como está a migração. Não tivemos retorno.
Rádio Timbira AM
A mais antiga de todas as rádios do Maranhão, em todas as faixas. Com 82 anos de existência, a Rádio Timbira passa por uma modernização contínua desde 2009. Neste período, foram quatro diretores gerais: Juracy Filho, Ribamar Prazeres, Robson Paz e Maria Spíndola, que está na função atualmente.
Como o processo de migração já era conhecido desde 2013, a direção da rádio em 2017, sob o comando de Robson Paz, decidiu mudar a “cara” da rádio, levando mais modernidade ao ar. Equipamentos novos, profissionais renomados com novos nomes chegando ao mercado e uma programação diversificada davam o sinal da mudança na rádio estatal.
Os primeiros passos para a migração da Rádio Timbira foram dados em 2020, quando houve o pedido à Anatel. Em 2021, foi dado o aval para a migração e, imediatamente, os estudos foram iniciados para fazer a transição. Em 2022, foi divulgada a frequência que a Timbira vai ocupar: 95.5 Mhz.
Segundo a atual diretora-geral da rádio, que também é secretária-adjunta de Radiodifusão do Maranhão, Maria Spíndola, o processo de migração está em andamento.
“Estamos aguardando a chegada de novos equipamentos – antena e transmissores de 6 e 10 kilowatts. A torre da rádio ganhará mais 20 metros, necessários na adaptação para FM. Estamos trabalhando com prazo de fornecedores, os equipamentos devem chegar até o final de janeiro e a previsão é que o processo se conclua em fevereiro, quando a Timbira passará a ter a frequência modulada 95,5”, disse Spíndola.
A diretora informa ainda a continuidade da modernização da rádio, que terá programação 100% brasileira, sendo 50% de música de artistas maranhenses.
“Continuaremos com conteúdos culturais e educativos, cumprindo o objetivo de uma rádio estatal. Também continuaremos com esporte, destaque na audiência da rádio. De abril pra cá, quando o secretário Sérgio Macedo assumiu a Secom e me designou a missão de dirigir a rádio, a programação já mudou bastante, ganhamos até ‘cara de FM’”.
Ela afirma que, na virada para o FM, ainda serão feitos novos ajustes na programação. Mas que tudo isso deve impactar positivamente no ouvinte.
“Estamos ansiosos e otimistas com a Timbira que vem por aí. Acreditamos também que os ouvintes vão gostar: informação transparente, utilidade pública, esporte e boa música”, completou.
Sobre a migração
Definida por um decreto de 2013, a migração das emissoras AM para FM deve ser finalizada até o dia 31 deste mês. Mas um projeto aprovado pelo Senado e que seguiu para sanção presidencial pode ajudar a destravar casos de migração que estão retidos no Ministério das Comunicações. As emissoras que não fizerem a migração serão extintas.