Relatório aponta que um em cada quatro jovens relata ter sofrido violência no Brasil
A informação foi divulgada pela Fiocruz nesta segunda-feira (11).
Os jovens brasileiros entre 15 e 29 anos estão enfrentando um aumento significativo na exposição à violência física, psicológica e sexual. De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS/IBGE) de 2019, mais de um quarto desse grupo (27%) relatou ter sido vítima de algum tipo de agressão nos 12 meses anteriores à pesquisa.
Neste contexto, a taxa de violência para essa faixa etária em 2019 foi de 307,52 casos por 100 mil pessoas, sendo 2,07 vezes maior do que a da população adulta. Para os adolescentes de 15 a 19 anos, a situação é ainda mais preocupante, com 397 casos a cada 100 mil habitantes.
Um relatório da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) intitulado “Panorama da Situação de Saúde dos Jovens Brasileiros de 2016 a 2022: Intersecções entre Juventude, Saúde e Trabalho” destaca que em todas as regiões do Brasil, os jovens-adolescentes representam o principal grupo de vítimas de violência.
Além dos dados da PNS, o dossiê compilou informações da Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar Contínua (Pnad/IBGE) e utilizou bases de dados do Sistema Único de Saúde (SUS). Na época das pesquisas, a população de 15 a 29 anos correspondia a 49 milhões de pessoas, equivalente a 23% da população brasileira.
O estudo, realizado por duas áreas da Fiocruz, abordou não só as situações de violência, mas também condições de trabalho, impactos na saúde mental e mortalidade.
Os resultados apontam que a probabilidade de um jovem do sexo masculino morrer é quatro vezes maior do que uma jovem mulher, com taxas de mortalidade de 80,3% e 19,7%, respectivamente. Entre os homens jovens, a proporção de pretos e pardos que morrem precocemente é mais do que o dobro dos brancos.
Causas externas, como violência e acidentes de trânsito, foram identificadas como principais causas de óbito nessa faixa etária.
Em relação ao trabalho, o dossiê destaca que 70,1% dos jovens entre 18 e 24 anos estão inseridos no mercado de trabalho, porém em condições mais precárias se comparadas a estratos mais velhos. Eles enfrentam maior informalidade, instabilidade no emprego, longas jornadas com salários mais baixos e menos proteção social.
A socióloga Helena Abramo, responsável pelo estudo, ressalta que há uma sobreposição entre trabalho e estudo, afetando especialmente as mulheres devido ao histórico acúmulo de tarefas domésticas e cuidados familiares desde a juventude.
A carga de trabalho tem impacto na saúde, com quase metade dos jovens ocupados relatando exposição a fatores que poderiam afetar sua saúde no trabalho.
O panorama também destaca que transtornos mentais são a principal causa de internações entre homens jovens, com casos de esquizofrenia, psicose, uso de múltiplas drogas e álcool.
Quanto aos acidentes de trabalho, entre 2016 e 2022, foram notificados mais de um milhão de episódios em todo o país, sendo que um terço envolveu jovens de 15 a 29 anos. A maioria dos acidentados (78%) é do sexo masculino, e as ocupações mais relacionadas aos acidentes estão na indústria, serviços e comércio.
Os dados compilados pela Fiocruz no panorama visam subsidiar a formulação de políticas de saúde direcionadas à juventude, preenchendo lacunas na atuação do Estado e fornecendo informações relevantes para intervenções mais eficazes.