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Parasita é marco internacional no cinema sobre desigualdade social

Ao contrário de muitas obras centradas na luta coletiva por um mundo mais justo, Parasita mergulha na tradição do arrivismo, destacando o desejo individual de prosperar e ascender socialmente

Uma das peculiaridades de Parasita é a subversão do conceito tradicional de arrivismo - (foto: divulgação)

Sucesso internacional, Parasita foi destaque no Oscar. A vitória marcou um marco histórico, sendo a primeira vez que uma produção com diálogos em um idioma não inglês derrotou os pesos-pesados da indústria cinematográfica americana. O feito levanta questionamentos sobre possíveis mudanças na dinâmica da indústria, potencialmente influenciada pela ascensão das plataformas globais de streaming.

Parasita não é o único representante de produções “estrangeiras” a desafiar as convenções, sendo precedido por Roma no ano anterior. Ambos os filmes compartilham o tema da desigualdade social, mas Parasita aborda a questão de uma maneira única, explorando o conceito de arrivismo.

Ao contrário de muitas obras centradas na luta coletiva por um mundo mais justo, Parasita mergulha na tradição do arrivismo, destacando o desejo individual de prosperar e ascender socialmente. O filme retrata uma família que, de maneira ousada, busca ingressar no universo da classe alta não pela porta da frente, mas através de estratégias que desafiam as expectativas.

A crítica ao filme vai além da denúncia da desigualdade social, introduzindo o conceito quase esquecido de “luta de classes”. No entanto, Parasita não se alinha diretamente com a reivindicação coletiva por mudanças estruturais; pelo contrário, está mais relacionado a uma tradição que glorifica o impulso individualista de alcançar uma posição privilegiada na sociedade.

A figura do arrivista, explorada na literatura anglo-saxã do século XIX, é revivida em Parasita, destacando a obsessão cultural pelos sinais externos de pertencimento a uma classe. No entanto, os protagonistas do filme, auxiliados pela tecnologia moderna, são quase infalíveis em sua busca, escapando dos tradicionais sinais de inadequação que traíam os arrivistas do passado.

Uma das peculiaridades de Parasita é a subversão do conceito tradicional de arrivismo. Em vez de um indivíduo isolado, toda a família participa da trama, sugerindo que qualquer pessoa, independente de parentesco, poderia adotar a mesma estratégia com igual destreza. Essa abordagem subverte a ideia de exclusividade e aura associadas à ascensão social, questionando as bases da hierarquia.

A crítica aponta para a ausência de uma verdadeira luta de classes no filme, levantando a questão de se a desvalorização da exclusividade é realmente um sintoma de mudança social ou apenas um reflexo da nova hegemonia audiovisual. Parasita, ao desafiar as convenções do cinema e explorar nuances do arrivismo, provoca uma reflexão profunda sobre a sociedade contemporânea e as dinâmicas que perpetuam a desigualdade.

No Brasil, o filme foi comparado com Central do Brasil, ao mostrar uma realidade do povo que faz parte da camada mais vulnerável do país. Políticas sociais, como o Bolsa Família, não são retratadas nestas produções, surgindo como alternativas para a diminuição da desigualdade.

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