Maranhense é o que mais parcela compras
Mais de 80% dos consumidores maranhenses optam por parcelar suas despesas. O Maranhão lidera o país em parcelamento de compras, aponta a pesquisa
Gustavo Pereira (foto) já se endividou com cartão. Já precisou parcelar pagamento da dívida, mas continua usando o cartão de crédito como principal forma de pagamento para as compras. Qualquer compra. O comerciário faz parte da estatística do Estudo da Serasa em parceria com a Opinion Box, que revela que 80,4% dos consumidores maranhenses optam por parcelar suas despesas. O Maranhão lidera o país em parcelamento de compras, aponta a pesquisa.
O estudo “Finanças Regionais: as diferenças na relação com o dinheiro entre os Estados do Brasil”, também revela que essa prática está em ascensão em todo o país. Sete em cada dez brasileiros (70%) optam por comprar a prazo. Os fatores mais ponderados antes de parcelar uma compra incluem a disponibilidade de dinheiro em conta (27%) e a taxa de juros cobrada (25%). “Atualmente eu estou pagando uma parcela do cartão. Mas já paguei só o mínimo, e tive que arcar com os juros que não foram baixos”, disse Gustavo.
No estado, o método mais popular de parcelamento é o uso de cartão de crédito de terceiros (34%), enquanto apenas 6% das pessoas utilizam seu próprio cartão de crédito para essa finalidade. Além disso, crediários específicos de lojas (28%) e boletos bancários (26%) também são amplamente procurados para diluir o valor das compras ao longo do tempo.
A neuropsicóloga Gracimary Godinho Bastos admite usar muito o cartão, para tudo. e já passou por dificuldades para pagar o valor total, mas vê vantagens nessa forma de pagamento. “Todas as compras coloco no cartão para acumular pontos. Na época da pandemia era uma facilidade por não precisar usar dinheiro físico, fazer as compras online”, conta. “No passado, quando ainda não trabalhava com carteira assinada, as coisas ficaram difíceis. Já passei por muitas dificuldades para pagar o valor total. Fizemos acordos para pagar os cartões e conseguimos estabilizar as finanças. Hoje usamos somente um cartão que é o da conta vinculada ao órgão que trabalho”, disse Gracimary.
População pobre x parcelamento de compras
Para o economista João C. S. Marques, Mestre em desenvolvimento socioeconômico e Conselheiro Regional de Economia do Maranhão, essas estatísticas tem um fundamento. Ele diz que o estado Maranhão é a unidade federativa com o maior contingente de pessoas extremamente pobres do país, além da sua população ser a de menor rendimento per capita.
“Ou seja, a renda do maranhense é baixa quando comparada com o restante do país, o que significa que o poder de compra no curto prazo ou à vista é relativamente baixo. Em vista disso, para o maranhense se torna mais difícil comprar bens com elevado valor. Essa restrição no poder de compra faz com que alguns gastos essenciais para os quais ele não tenha disponibilidade imediata de recursos, sejam feitos de forma parcelada. Pode acontecer quando o maranhense compra bens como uma geladeira, um fogão ou, em alguns casos mais drásticos, até mesmo o supermercado do mês”, diz o economista João C. S. Marques.
Organização e crédito
O estudo também oferece insights sobre a organização financeira dos maranhenses. Apenas 51% das pessoas afirmam realizar um controle mensal das finanças pessoais.
Os principais objetivos são evitar o endividamento (46,5%) e criar uma reserva de segurança (36%). No entanto, os consumidores maranhenses estão entre os menos otimistas em relação às finanças pessoais (48%) e têm menos confiança em sua capacidade de organizar e planejar suas finanças (41,8%).
O estudo da Serasa também analisou o comportamento dos brasileiros na busca por crédito. No Maranhão, 52% dos consumidores afirmam ter procurado crédito adicional no último ano. Os métodos mais pesquisados e contratados incluem o cartão de crédito (51%) e empréstimos pessoais (48%).
Vale destacar que o Maranhão é o estado brasileiro com maior busca por crédito para aquisição de imóveis (10,8%).
Essa restrição no poder de compra faz com que alguns gastos essenciais para os quais ele não tenha disponibilidade imediata de recursos, sejam feitos de forma parcelada
Perguntas//Economista João C. S. Marques
Quais os prós e os contras de comprar parcelado no cartão de crédito?
A vantagem imediata do parcelamento é o ganho do poder de compra no curto prazo, em que se consegue antecipar valores que precisariam ser poupados por um período às vezes muito longo de tempo e adquirir um bem no presente. Isso dá uma dinâmica maior ao mercado no curto prazo. Se considerarmos que o brasileiro não tem o hábito de poupar, então é possível que essa dinâmica seja, em certa medida, benéfica tanto para o consumidor quanto para o produtor ou vendedor das mercadorias em questão. As desvantagens não são poucas. Da mesma forma que o brasileiro não poupa, ele também não têm uma boa gestão financeira das suas contas. Isso significa que muitos brasileiros acabam se endividando de forma insustentável diante da sua renda mensal, com isso, seu consumo é comprometido ao longo do tempo em prol do consumo imediato. Portanto, a problemática pode se agravar quando o nível de endividamento sobe drasticamente e o país passa por alguma crise, pois os pagamentos começam a atrasar e as dívidas ficam insustentáveis. Quando isso ocorre, o consumidor deixa de ter crédito no curto prazo para fazer parcelamento além de se prejudicar no longo prazo.
Da mesma forma que o brasileiro não poupa, ele também não têm uma boa gestão financeira das suas contas. Isso significa que muitos brasileiros acabam se endividando de forma insustentável diante da sua renda mensal, com isso, seu consumo é comprometido ao longo do tempo
O que o usuário deve atentar para não cair em endividamento por conta das compras parceladas?
O cartão de crédito hoje é uma ferramenta bastante acessível para toda a população, praticamente independente da faixa de renda, graças às fintechs. O problema é que as empresas emitem os cartões com limites mais atrelados ao risco que estão dispostas a correr do que à capacidade saudável de pagamento do usuário. O que o usuário deve atentar é evitar comprometer muito da sua renda com parcelas de cartão de crédito e sobretudo com juros do cartão. Pagar as parcelas em dia é essencial para a boa saúde financeira e para se evitar o efeito bola de neve. A questão é que tudo vai depender da faixa de renda do consumidor, alguém que ganha cerca de um salário-mínimo deve evitar ao máximo comprometer mais do que 20% da sua renda com parcelas de cartão, pois o custo de subsistência acaba consumindo muito do salário. Por outro lado, rendas maiores permitem maiores endividamentos, visto que o custo de subsistência não cresce na mesma proporção da renda, ele tende a ser marginalmente decrescente. Já o Serasa recomenda que nenhuma família ultrapasse os 30% da renda com cartão.