CONFLITO NO CAMPO

Homens são ameaçados sob mira de espingarda

Recente, a CPT lançou relatório parcial do Número de Conflitos de Terra no país

Homem aponta espingarda para pescadores - (foto: reprodução)

Um vídeo, que circula nas redes sociais, ganhou repercussão nas últimas horas devido a clara e nítida cena de ameaça à vida registrada. Nas imagens, um homem aparece portando uma espingarda calibre 12, ameaçando outros dois homens, que, supostamente, teriam invadido terras de propriedade privada.

No vídeo (está disponível ao final desta matéria), o homem armado diz ser dono das terras e que os outros dois, ditos por ele como pescadores, invadiram “as minhas terras e a minha lagoa”.

Na sequência, usando de truculência, o suposto proprietário das terras diz: “Filma aí, que eu quero dar um tiro na cabeça dele.”, apontando a arma para um dos homens deitado no chão. O suposto “invasor” se levanta e implora para o homem não atirar.

“Te deita aí, que eu vou atirar”, diz o homem armado.

O homem ameaçado chama pelo pai, que estava junto e seria o “segundo invasor”.

“Pai, corre aqui, pai! O ‘homi’ vai me atirar.”

Assim que o outro homem aparece, o suposto proprietário das terras diz que iria deixar os dois irem embora porque iria “dar mais uma chance” para eles. Ele ainda afirma que pensou em atear fogo no carro dos dois ameaçados.

“Se eu pegar vocês aqui de novo, se eu pegar vocês aqui de novo, aí a culpa não é mais minha; é de vocês”.

O homem ainda afirma que é dessa forma que age com “invasores”.

“É isso que eu faço com gente (palavrão) que invade o que é meu”.

Um senhor aparece pouco antes do final do vídeo e diz:

“Eu via aqui tudo caminho aberto. Tudo! Ninguém derrubou cerca, ninguém matou nada seu.”

O homem armado revidou:

“Chefe, isso aqui é uma propriedade privada, essa lagoa é privada e eu tô tendo a maior consideração com o senhor”.

O outro senhor questiona:

“Agora, você chega pra cima de nós, botando arma”.

O vídeo finaliza com o homem armado respondendo:

“Eu tô protegido pela lei. O senhor sabe o que eu ia fazer? Eu ia botar fogo no seu carro. Vá embora!”

Havia uma quarta pessoa, que estava acompanhando o homem armado. Segundo informações de pessoas ligadas a movimentos da defesa dos direitos humanos e minorias, o caso aconteceu na terça-feira (10), no povoado Lagoa do Sapo, na cidade de Magalhães de Almeida.

“É assim que se originam os conflitos: comunidades tradicionais, há anos utilizam do território, dos campos e das águas, para sobreviverem. Normalmente, essas terras não têm dono ou são de pessoas que os deixavam utilizar por mais de 40, 50 anos, devido ao uso de domínio público, como babaçuais e açudes. E assim começam os conflitos de terra no Maranhão”, diz o advogado popular, Diogo Cabral.

Conflitos no campo

Recente, a CPT lançou relatório parcial do Número de Conflitos de Terra no país. O número de conflitos no campo aumentou 8% neste primeiro semestre em comparação com o ano passado. Os dados foram divulgados na terça-feira (10) pela Comissão Pastoral da Terra (CPT).

Ao todo, os conflitos relacionados à disputa pela terra, pela água e os casos de trabalho similar à escravidão chegaram a 973 contra 900 no ano passado. Os números da violência aumentaram expressivamente, passando de 418 para 779 vítimas. Mas o número de assassinatos diminuiu 51%, passando de 29 no primeiro semestre de 2022 para 14 neste ano. Os casos de trabalhadores resgatados em condição similar à escravidão no campo bateu recorde neste primeiro semestre: 1.408 pessoas, número 43% superior ao ano passado.

O Maranhão é o 3° estado do país com maior número de conflitos agrários, diz a Pastoral da Terra. No ranking dos estados com maior registro de conflitos, o Maranhão fica atrás apenas do Amazonas, com 110 casos e de Mato Grosso, com 118. Em 2022, o Estado registrou 102 áreas de conflitos e sete mortes devido as disputas de terra no campo. Das vítimas quatro eram indígenas, dois eram quilombolas e um era posseiro. O levantamento aponta que, atualmente, mais de 200 pessoas estão sendo ou já foram ameaçadas de morte devido aos conflitos.

De acordo com a CPT, os principais responsáveis pela violência contra a população do campo são fazendeiros, o Governo Federal e os empresários.

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