ENTREVISTA

“Existe uma insuficiência gigantesca de recursos para saúde mental no Brasil”, diz Ruy Palhano

Confira a entrevista de Ruy Palhano a O Imparcial

Reprodução

Dentre os novos empossados na Academia Maranhense de Ciências (AMC), está o médico psiquiatra Ruy Palhano, já ocupando a Cadeira nº 49, que pertenceu ao médico patologista Luís Alves Ferreira, o “Luisão”.

Ruy Palhano é também acadêmico titular da Academia Maranhense de Medicina (AMM), membro da Academia Caxiense de Letras (ACL), da Academia Maranhense de Ciências Jurídicas, Sociais e Políticas, além de integrante do Fórum Estadual de Prevenção da Automutilação e do Suicídio, Secretário Adjunto da Associação Maranhense de Psiquiatria e Membro Titular do Conselho Fiscal da Associação Brasileira de Psiquiatria, Doutor Honoris Causa em Ciências da Saúde pela Emil Brunner World University – EBWU, Flórida – EUA, Membro da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (secção MA).

Fazer parte da AMC para ele, é uma honra, por estar em um ambiente salutar que produz ciência, conhecimento, participa das atividades culturais da cidade, além de ser uma consagração do que ele vem fazendo ao longo de 47 anos como médico e psiquiatra.

“Talvez seja o reconhecimento de um trabalho que a gente vem fazendo ao longo desse tempo todo, e que chegou a hora de ocupar uma cadeira tão importante dessa Academia.
A honra maior, que destaco, foi ocupar a cadeira 49, considerando que o dono desta cadeira foi um amigo, meu professor de patologia no curso de medicina, desde a época que eu era estudante, o professor Luis Alves Ferreira”, disse Ruy Palhano.

Confira a entrevista de Ruy Palhano a O Imparcial, ocasião em que falou sobre a Academia, e também sobre a campanha Setembro Amarelo e o suicídio como questão de saúde pública.

  1. O que de fato os membros fazem/trabalham em prol da ciência?

Todos os ocupantes tem responsabilidade, respectivamente, dentro das suas áreas de ocupação. É uma gama de especializações, uma plêiade enorme de profissionais, em geral, responsabilíssimos, e que se destacaram, do ponto de vista profissional, na sociedade, estado ou neste país pelo trabalho que desenvolvem. E a partir desses conhecimentos, dessas expertises, é que desenvolvem as atividades correspondentes a cada um dos ocupantes.

  1. Dr., estamos no mês de campanha de combate ao suicídio. Como o senhor vê essa campanha?

Existe uma contradição, bastante clara, com relação a essa campanha: de um lado, o acervo, o conhecimento, o desenvolvimento científico, do outro, as políticas públicas. O conhecimento que nós temos hoje do suicídio é incomparavelmente maior do que o que existia há 10, 20, 30 anos. Nós crescemos muito. O que acontece é que do ponto de vista pragmático, há um fosso muito grande entre aquilo que nós conhecemos, do ponto de vista médico psisquiatra, psicológico ou psciossocial e científico sobre suicídio, e o que é feito no tocante às políticas públicas para tratar esse assunto. A disparidade é enorme. Quer dizer, o sistema público de saúde, especialmente o de saúde mental, é defasado, é anacrônico, não evoluiu, continua com o mesmo pragmatismo de 30 anos atrás.
Existe uma insuficiência gigantesca de recursos alocados para saúde mental neste Brasil.
Apenas 1,8% a 2% do orçamento destinado à saúde pública brasileira, vai para a saúde mental. Então, fica muito dificil.

3. Ou seja precisa “casar” campanha com ações efetivas…

Sim. De um do lado a ciência, a psiquiatria, passa a oferecer maioires recursos para você lidar, por meio de um bom diagnóstico, a situação precedente de suicídio, mas você não tem uma evolução institucional, organizacional do poder público que garanta uma política de estado de prevenção de suicídio e que possa garantir as ações mais efetivas. Enquanto que no Brasil as taxas de suicídio de 10 anos pra cá vem aumentando, especialmente depois da pandemia, o mundo todo está caindo suas taxas de suicídio. Passamos de 11 mil suicídios por ano para 14 mil, isso apenas os notificados, para você ter ideia. É esse ponto que eu tenho batido para chamar a atenção do poder público para essa realidade. Se continuar assim, as taxas vão continuar aumentando.

  1. O suicídio é mesmo uma questão de saúde pública?

É de fato um problema de saúde pública, porque é relevante, tem impacto na vida social. Nós temos 1 bilhão de pessoas que se matam por ano em todo o mundo. E são casos notificados, porque existe um conhcimento bastante divulgado que é a subnotificação. Por exemplo, aqui no Brasil, às vezes um acidente de automóvel de alguém que dirigiu embriagado e que voluntariamente atira seu carro contra outro e morre, vão dizer que foi problema de bebida alcoólica, e muitas vezes não foi. E são dezenas de outras situações semelhantes a essas que podem ser veladas e que não aparecem suicídio, e por isso não é notificada, é registrada como acidente por embriaguez.

E muitas vezes, eu posso te garantir, ja existem estudos quanto a isso, a embriaguez foi pretexto, mas a causa foi a manifestação suicida da pessoa.

  1. O que precisa ser feito?

Essa situação merece do poder público uma ação mais enérgica, ostensiva, efetiva. Para você ter uma ideia, a maioria absoluta, 98% das práticas de suicídio estão relacionadas a doenças mentais.

Ora, então nós teriamos que reforçar instrumentos legais que existem do ponto de vista de saúde pública, para impedir que essas doenças se manifestem. Se você tem um índice altíssimo de suicídio relacionado à dependência de droga, outro relacionado à depressão, outro em relação à esquizofrenia, outro em transtorno de ansiedade, outro altíssimo em relação a transtorno de personalidade…, essas doenças estão na base da prática de suicidio. Então, se nós não tivermos um sistema de saúde eficiente que acolha, que atenda essas pessoas portadoras desses transtornos, as taxas vão continuar aumentado.

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