Nordeste On

O avanço do empreendedorismo social no Maranhão

Organizações, startups de impacto, invstidores e empresas participam do Nordeste On (NEon), evento de inovação que acontece hoje e amanhã em São Luís.

Monique Moraes, fundadora e diretora da organização Su Causa Mi Causa. (Foto: Divulgação/Assessoria)

Dona Helena Alves Viegas, de 57 anos, fala com a boca cheia que sempre teve alma de empreendedora. Moradora do Gapara, ela é idealizadora do projeto Casa de Helena, que tem como pilar, levar o conhecimento da permacultura aos jovens.

“Empreender sempre fez parte da minha vida. É muito bom trabalhar com a terra, colher o fruto, fazer a comida com a mão. Nossa intenção é fazer com que as pessoas tenham de volta as memórias afetivas da casa de mãe. Ao mesmo tempo, queremos mostrar ao jovens o que é a bioconstrução, o que é viver com uma alimentação saudável”, disse dona Helena, empreendedora social.

A Casa de Helena, que produz doces, compotas, geleias, comida caipira, tudo tirado da terra, se categoriza como um empreendimento de impacto social, e esse é um assunto que estará muito em destaque no Nordeste On (NEon), evento de inovação da região, e uma iniciativa do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), que vai acontecer hoje e amanhã (1 e 2 junho), no Multicenter Negócios e Eventos, em São Luís.

O NEon trará um ambiente de conexões, negócios e conhecimentos, lançando luzes sobre o vigor do ecossistema regional, contribuindo para atrair investidores interessados em aportar investimentos nos negócios da região.

A escolha da capital maranhense para sediar a primeira edição do evento é estratégica. “O Nordeste On vem para posicionar a região no mapa nacional de startups e da inovação. O evento chega, realmente, para mostrar a inovação gerada no Nordeste e o impacto que isso pode trazer para o nosso desenvolvimento”, explica Mauro Borralho, diretor técnico do Sebrae no Maranhão.

Na programação, painéis temáticos discutem como atuam investidores e empreendedores de impacto na região. Uma das painelistas é Monique Moraes, diretora da organização Su Causa Mi Causa, que vai apresentar “O que os investidores pensam? Investimentos, startups de impacto e retorno”, dia 2, às 11h, no Auditório Darcy Ribeiro.

A Su Causa Mi Causa nasceu em 2017, como projeto audiovisual para falar do empreendedorismo social e assim, inspirar novos empreendedores. Com o tempo perceberam que criar metodologias e ferramentas para esses novos empreendedores era um passo importante, e foi então que passaram a atuar no campo da educação.

“Construímos assim um dos nossos produtos atuais, o Lab Social, onde entregamos oficinas e mentorias para desenvolver o conhecimento de gestão e estratégia dos empreendedores sociais. Quando estamos em eventos de empreendedorismo e inovação como o Neon, realizando a curadoria de painéis sobre impacto social, trazemos esse nosso traço educacional para o palco. Buscamos empreendedores que possam compartilhar suas trajetórias, estratégias e estejam em nichos diferentes de mercado’, disse Monique Moraes.

Em 6 anos de empresa, mais de 500 pessoas foram impactadas direta e indiretamente pelos produtos educacionais, audiovisual e de serviços de consultoria, com uma trajetória marcada por parcerias com organizações locais como o SEBRAE Maranhão, Governo do Maranhão, Nouhau, Creative Pack e ACIB por exemplo, e regionalmente no Nordeste já desenvolvemos produtos em parceria com o Desabafo Social (BA) e Môtiro (RN).

De acordo com Monique Moraes, é hora de valorizar as iniciativas regionais. “Em 2022, o mapeamento sobre negócios de impacto do Nordeste, publicado pela Pipe Social e IN3, apontou que temos 222 negócios de impacto na região, o que representa um total de 15,9% do total nacional. Nestes últimos cinco anos, percebemos um crescimento de iniciativas de apoio aos negócios, resultado da criação de fundos, aceleradoras e organizações dinamizadoras que nasceram no território nordestino”, comentou.

A estimativa é de que existam mais de U$ 502 bilhões investidos no setor de impacto ao redor do mundo, gerenciados por 1340 organizações, de acordo com um estudo publicado pela GIIN, em 2019. Porém, apenas 4% desse total estão na América Latina. Segundo a Aspen Network of Development Entrepreneurs (ANDE), em estudo publicado esse ano de 2023, o volume de investimento de impacto no Brasil é de R$ 18,7 bilhões.

De acordo com o Sebrae, “causar um impacto positivo em uma comunidade, ampliar as perspectivas de pessoas marginalizadas pela sociedade, além de gerar renda compartilhada e autonomia financeira para os indivíduos de classe baixa”, são alguns dos objetivos dos negócios de impacto social.

Mulheres comandam 42,36% das empresas maranhenses

O empreendedorismo feminino no geral nacional tem tido um crescimento no número. Na pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM) 2022, sobre o empreendedorismo no Brasil , do número de empreendedores nascentes (iniciaram há 1 ano) 45,4% são mulheres, e a taxa de empreendedores estabelecidos (já passaram de 5 anos) 33,7% são mulheres.

No Maranhão, em pesquisa publicada em março de 2023 pela JUCEMA, o percentual total de empresas maranhenses comandadas por mulheres é de 42,36% (144 mil). E 90% desse número são de micro e pequenas empresas, sendo os setores de vestuário, mini-mercados e beleza os três principais. E as cidades com maior destaque são São Luís, Imperatriz, São José de Ribamar, Balsas e Timon.

“Em uma análise comparativa dos dados do Brasil e Maranhão, é certo dizer que nossos números refletem o mesmo cenário do mercado nacional. O empreendedorismo feminino do estado também passa pelo desafio dos negócios chegarem na fase de estabilidade. Ainda temos o empreendedorismo informal, aquele que não tem registro do CNPJ, e que em muito casos é praticado na modalidade de ‘empreendedorismo por necessidade’, e nos últimos anos tinha seu número maior entre as mulheres. A cada ano os números melhoram significativamente, e é importante reconhecer que os programas de fomento ao empreendedorismo feminino estão cooperando com essas taxas”, disse Monique Moraes.

Educação Empreendedora

Empreender não é fácil, e quando se trata de mulher empreendendo, o desafio se amplia, mas há caminhos e opções de qualidade para quem começar, tanto de forma gratuita, quanto a preços acessíveis, como cursos no SEBRAE, no site da Endeavor ou Exame Academy.

O Sebrae oferece cursos, palestras, oficinas, seminários, webinars e eventos em geral para quem começar a empreender, ter ideias para empreender, e ainda para potencializar o emprendimento.

Monique Alves acrescenta que “existem comunidades que as empreendedoras podem buscar para ter mais apoio, troca de aprendizado, mentorias e novas parcerias de negócio como: Grupo Mulheres do Brasil (rede criada por Luíza Trajano), Rede Mulher Empreendedora, e as startups B2Mamy e Be.Labs”.

Monique Alves. (Foto: Reprodução)

Dentre tantos outros projetos, programas que ajudam mullheres a ter sua independência financeira e a formalizar seus negócios. o Projeto EELAS (Empreendedoras, Empoderadas, Livres e Audaciosas), desenvolvido no Centro Universitário Estácio São Luís, garante ainda inserção no mercado de trabalho e qualificação para mulheres maranhenses.

A dona Helena, que falamos no início desse texto, faz parte do projeto que visa transformar a vida de mulheres pela educação, estimulando nelas a força do empreendedorismo feminino, ensinando sobre plano de negócios, criação do próprio MEI, e inserção no mercado de trabalho.

Alda Rosa, 67 anos, empreendedora, também faz parte do ELLAS e trabalha com material reciclado confeccionando bolsas que são feitas com capas de sombrinhas que foram jogadas fora, dentre outros materiais. “Com o projeto melhoro meu conhecimento de divulgação, como empreender, botar o produto na Internet. Isso tem me ajudado muito”.

Alda Rosa. (Foto: Reprodução)

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