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Todas as formas de ser mãe

A maternidade pode ser exercida de muitas formas – com os filhos, irmãos, afilhados, sobrinhos, colegas, netos, enteados e até mesmo com um pet.

A mamãe Elis e os filhos. (Foto: arquivo pessoal)

Palavra pequena que tem tantos significados, ser mãe implica uma mudança total de vida, de tempo, de olhar sobre o mundo. Implica em abdicar de muitas coisas, proteger com unhas e dentes, amar, dar afeto, cuidar. A maternidade pode ser exercida de muitas formas – com os filhos, irmãos, afilhados, sobrinhos, colegas, netos, enteados.

Uma mulher pode ser considerada mãe por ter dado a luz, por criar um filho que pode ou não ser sua prole biológica, ou por fornecer seu óvulo para fecundação no caso de barriga de aluguel gestacional.

Muitas mães criam seus filhos sozinhas ou em família, sejam mães biológicas ou adotivas, além dos pais que são verdadeiras mães. Neste Dia das Mães, conto a história de mulheres que relatam suas histórias emocionantes e que mostram que o ser mãe vai muito além de colocar um filho no mundo.

“O instinto maternal sempre foi muito forte em mim. Fui uma adolescente que curtia tomar conta das crianças da família. E na juventude, enquanto muitas sonhavam em casar, eu idealizava ser mãe. Quando casei e não conseguimos engravidar, a adoção surgiu como uma das alternativas. Até porque eu e meu marido, à epoca, tinhamos referências próximas de primos que chegaram via adoção”, contou Elis Ramos, jornalista e voluntária do Grupo de Apoio a Adoção (AME), mãe de Berenice, de 9 anos, e de João Gabriel, de 8 anos.

Depois de tratamentos médicos, a ideia da adoção foi ficando mais latente. E entre dar entrada no processo de habilitação para a adoção junto à justiça, fazer o curso preparatório, passar pela avaliação pela equipe psicosocial e entrar na fila da adoção, foram 13 meses. Depois, foram mais 9 meses, uma gestação mesmo, se formos analisar, até a chegada de Berenice, que na época tinha 10 meses.

“Pra mim meu parto foi no dia de conhecê-la na instituição de acolhimento onde ela vivia. E a felicidade maior foi poder levá-la para casa alguns dias depois. Lembro que foi numa sexta-feira e domingo era Dia das Mães. Ou seja, uma overdose de emoções”, lembra Elis.

Pra mim meu parto foi no dia de conhecê-la na instituição de acolhimento onde ela vivia. E a felicidade maior foi poder levá-la para casa alguns dias depois

Elis Ramos, jornalista e voluntária

“Eu já me sentia plenamente Mãe”

Depois de receber Berenice, Elis começou a ouvir de pessoas próximas que agora que ela tinha adotado, iria conseguir engravidar. “Como se a experiência de ser mãe passasse por uma gestação. Mas eu já me sentia plenamente mãe. Fui aprendendo que a única diferença é a forma que os filhos podem chegar, não o amor ou desafios e delicias da maternidade”, disse Elis.

Pouco tempo depois, chegou João Gabriel, bebê também. E o casal que ansiava por um filho, tinha agora dois bebês. “Por mais que a gente se prepare pra adotar, é uma ‘gravidez emocionalmente distinta’.  A gente não sabe a idade e nem quando nosso filho vai chegar. Então o rito social de ir montando o enxoval precisa ser feito mais rápido.

Também não dá pra programar a licença maternidade no trabalho. No meu caso, informei aos meus chefes que ia esperar uma criança via adoção. E quando minha hora chegou tive suporte dos colegas e da empresa para acolher meus filhos quando chegaram”, contou Elis.

A gente não sabe a idade e nem quando nosso filho vai chegar. Então o rito social de ir montando o enxoval precisa ser feito mais rápido.

Elis Ramos, jornalista e voluntária

E de tanto responder questões sobre adoção, a jornalista se envolveu com a causa, atuando como voluntária do Grupo de Apoio a Adoção (AME), para ajudar a desmistificar o tema.
Vivendo aquele “sonho” da juventude, a jornalista se considera uma mãe plena, com toda a sua amplitude. 

“No convívio com outros pais e mães, percebo que compartilhamos desafios comuns – seja pra ajudar os filhos da rotina escolar, controlar o tempo das telas, conciliar trabalho e parentalidade, etc. E me sinto plena como grande parte das mães, aprendendo sempre com os filhos. Quando me perguntam sobre como é ser mãe por adoção respondo que é como ser mãe biológica”, disse.

“Sou uma boadastra”

A gerente comercial Priscila Araújo, mãe de um bebê de 4 anos e madrasta de outro de 6, se considera uma supermãe. Quando ela casou com o marido, o seu enteado tinha 1 ano.

Por uma série de questões que não vem ao caso relatar, ela conta que passou por algumas situações no relacionamento com a mãe do bebê, até chegar ao status de hoje, quando toda a família se dá bem. Até ter Guto, de 4 anos, ela experimentou um pouco com o enteado “a tal da maternidade”.

“Quando me casei, sabia que ia receber o kit completo. O marido veio com filho. E aí foi um período de adaptação, tivemos alguns probleminhas no início, mas hoje, passados 5 anos, temos uma relação maravilhosa, construída com muito respeito, amizade e carinho”, disse.

Priscila Araújo

Ela ignora a condição de madastra. Considera-se “boadastra”, e diz tá tudo bem ser a tia para o garoto de 6. “Essa coisa de ser madastra nunca gostei. Prefiro ser a tia, a parceira, e trato como se fosse um filho meu, como gostaria que meu filho fosse tratado também. Sou uma boadastra no maior sentido. Amo os dois igual”.

Quando me casei, sabia que ia receber o kit completo. O marido veio com filho. E aí foi um período de adaptação, tivemos alguns probleminhas no início.

Priscila Araújo

Na fila da adoção

Muitas mulheres que vão chegando aos 30 anos e que não tem filhos seja lá pelo motivo que for, se sentem numa vulnerabilidade enorme por não terem tido filhos. A servidora pública federal Francinete Louseiro de Almeida nunca quis ficar grávida, mas sempre pensou em ter filhos, tanto que está na fila da adoção para receber uma criança e realizar o sonho da maternidade.

Enquanto espera, ela se dedica a Juju, uma cadela de 3 anos que tem o nome em homenagem à filosofa Judith Batler. A Juju chegou na casa de Francinete com 45 dias, em meio à pandemia de Covid-19, em junho de 2020. Pouco antes. em março, Francinete havia perdido a mãe.

“No começo, ela era apenas mais um pet na minha vida. Eu brincava com ela, cuidava, mas não sentia como filha e com esse amor imenso que tenho por ela. Com o passar dos anos, a cada dia fomos nos apegando mais e o amor foi crescendo e se tornando maternal. Às vezes eu me pego pensando em quando ela não estiver mais comigo, choro por causa disso. Não sei se foi pelo momento em que ela entrou na minha vida, que eu tinha perdido a minha mãe e estava morando sozinha, ou mesmo se foi porque ela, no período da pandemia, era a minha única companhia”, disse Francinete.

No começo, ela era apenas mais um pet na minha vida. Eu brincava com ela, cuidava, mas não sentia como filha e com esse amor imenso que tenho por ela. Com o passar dos anos, a cada dia fomos nos apegando mais e o amor foi crescendo e se tornando maternal

Juju tem 3 anos. No ano passado, uma amiga parabenizou Francinete pelo dia das mães. Óbvio que ela tem consciência que não se compara criar um filho, e todos os cuidados e responsabilidades que ele precisa, com criar um pet, mas quando se fala de amor, se fala de amor. Do puro amor.

“Foi aí que eu entendi sim, que sou a mãe dela. Certo que Juju é minha filha de quatro patas, e esses cuidados não são os mesmos que requer uma criança. Mas ela é um ser vivente, que tem necessidades e tem sentimentos. A Judith é muito carinhosa. Quando ela me vê chorando, vem ao meu encontro e pula para eu abraçá-la. Eu não deixa ela passar a noite sozinha em casa, talvez isso ainda aconteça, mas quando viajo ou preciso ficar fora, como por exemplo, nas duas vezes que fiz cirurgia no ano passado, ela tem sempre as tias que vem dormir com ela. Então, eu amo demais a minha Juju”.

E para tudo ficar completo, falta receber a ligação da justiça avisando que sim, ela vai receber um filho ou filha por adoção.

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