Projeto audiovisual de educação de jovens que une Bumba meu Boi e cinema
O projeto será lançado no próximo sábado (1°), às 16h, no Teatro da Cidade.
Será lançado no próximo sábado (01), às 16h, no Teatro da Cidade, o Ilha em Edição 2, segunda edição do projeto de educação audiovisual de jovens realizado pelo Instituto Formação, e que desta vez une Bumba meu Boi e cinema.
A cerimônia de lançamento irá contar com a presença dos jovens participantes, suas famílias, Mestres e Mestras dos quatro grupos de Bumba-boi parceiros do projeto e convidados.
Com o mote: “Quer aprender a fazer filmes? Cola com a gente!”, a iniciativa propõe a formação de jovens em dez áreas de atuação do audiovisual, oferecendo os cursos de: Roteiro; Produção; Direção; Direção de Arte; Direção de Fotografia; Cinema de Animação; Interpretação e Preparação de Atores para Cinema; Documentário Musical; Som Direto no Audiovisual e Edição.
“O audiovisual tem a magia e o poder de disseminar cultura, costumes, ideias, conhecimento, lazer. Pode redesenhar ou fortalecer a história no presente. É com esse pensamento e a determinação de que os jovens maranhenses podem ser cenógrafos, roteiristas, diretores de grandes produções, iluminadores e o que quiserem e sonharem ser, que desde 2003 o Instituto Formação fomenta o audiovisual no Maranhão. O início foi na Baixada Maranhense. Foram muitos jovens que participaram dos programas de formação e de produção de curtas e documentários. Depois São Luís foi outro palco desses projetos. Temos com o Ilha em Edição II a expectativa de que muitos jovens se engajem nesse circuito tão importante para disseminar a rica cultura presente no Quilombo Urbano da Liberdade e no Maracanã”, destaca Regina Cabral, presidente do Instituto Formação.
A primeira edição do projeto aconteceu em 2016 e teve como público estudantes de quatro escolas públicas do Centro da capital maranhense que produziram curtas de ficção e documentário sobre juventude, direitos humanos e a relação dos jovens com a cidade onde moram.
Nesta edição foi pensado um novo recorte: trabalhar com a juventude da comunidade boieira de São Luís, e especificamente, com dois potentes Territórios, um urbano e outro rural.
Ao todo, 120 jovens, entre 16 e 30 anos, integrantes dos grupos de bumba-boi parceiros do projeto, Boi de Maracanã; Boi da Floresta; Boi de Leonardo e Boi da Fé em Deus e moradores do Território Maracanã e do Quilombo Urbano Liberdade (Liberdade, Fé em Deus, Camboa, Sítio do Meio e Diamante) participam da iniciativa.
Eles irão produzir quatro filmes: dois curtas-metragens de ficção, um curta-metragem documentário musical e um Curta-metragem de animação.
Jhonatan Oliveira é integrante do Boi de Maracanã, tem 23 anos, é neto de Mestre de Humberto de Maracanã, caboclo de pena e coordenador de Marketing do grupo. Esta será a primeira vez que participa de um projeto audiovisual em seu território e dedicado a jovens do bumba meu boi.
“Eu sou bailarino e estudante de Marketing, nasci e fui criado no Boi de Maracanã e sou feliz pelo o que sou e me tornei. O Ilha em Edição, ele chega para o Boi de Maracanã, para a comunidade como oportunidade para aquelas pessoas menos favorecidas, ou seja, pessoas que têm interesse, força de vontade de crescer na vida, que gostam de cinema, mas não têm oportunidade. A linguagem do audiovisual é muito importante para dentro da comunidade. Além de envolver o sócio educativo, a gente também envolve o sócio cultural ao mesmo tempo: os alunos que vem para aprender o curso do Ilha em Edição, automaticamente, vão aprender olhando e se interessando pela cultura do boi, sobre como borda uma roupa, como enfia uma pena, descobrindo a história do Boi de Maracanã, de Mestre Humberto. Eu como estudante, não poderia deixar de aprender e fazer o curso de Direção para aprimorar meu conhecimento. Como jovem brincante fiquei muito feliz que a gente terá na nossa instituição cursos de formação profissional na área audiovisual”, considera o Jhonatan.
Para Regina Avelar, presidente do boi de Leonardo, localizado no bairro Liberdade, no Quilombo Urbano Liberdade, o projeto poderá fortalecer as atividades já desenvolvidas pelo grupo.
“É a primeira vez que eu vejo um projeto chegar na comunidade com esse viés no nosso território quilombola e na comunidade rural do Maracanã. É um marco para a gente enquanto comunidade. Espero que depois que passarmos por essa etapa de formação, muitas coisas positivas se agreguem. A ideia do curso pra mim é isso, impactar de forma positiva o quilombo e beneficiar os grupos. Nós que somos uma nova geração de gestão, enquanto mulheres, para nós é um privilégio estar tendo essa oportunidade também, neste momento de mulheres à frente dos grupos. Eu vejo a possibilidade da gente melhorar aquilo que a gente já desenvolve nos nosso grupos de bumba meu boi e tambor de crioula. Quando é criado um projeto pensado para a comunidade, principalmente a comunidade boieira, mesmo com uma faixa etária pré-definida, abre vez para quem já passou desta faixa de idade poder participar também, como o meu caso, que escolhi o curso de direção de fotografia e muita gente aqui já faz fotos e vídeos com celular, então vem agregar conhecimento”, pontua Regina.
Vale destacar que os quatro grupos de bumba-boi parceiros do Ilha em Edição são liderados por presidentes mulheres e o projeto pensou também na participação feminina tanto na seleção dos jovens por meio da equidade de gênero, quanto ao convidar profissionais do audiovisual no Maranhão para serem professoras/instrutoras dos cursos como a cineasta e roteirista Carolina Maria dos Santos, que irá ministrar o curso de Direção, junto a também diretora Keyci Martins.
“As aulas de direção ministradas por Keyci e eu, vão conduzir uma série de debates sobre esses territórios com os quais estamos trabalhando, que são territórios de cinema, o Maracanã, o Quilombo Urbano Liberdade, todas as sedes de bois envolvidas no projeto o tempo inteiro durante os seus processos de ensaios, de festejos emanam imagens, sons riquíssimos, em cores, em movimento, em dança… Existe um repertório nessas comunidades que é um repertório artístico muito potente e que de forma criativa vai mobilizar de forma riquíssima as nossas aulas”, compartilha Carolina.
Integrando a equipe de profissionais junto a Carolina e Keyci, um coletivo de excelência do audiovisual no Maranhão e Brasil irá ministrar os cursos: Cris Quarema, diretora de arte e figurinista, é a professora de Direção de Arte; o escritor e dramaturgo Igor Nascimento – que participou da primeira edição do Ilha em Edição – segue como instrutor de Roteiro; Max Paviaani, editor, motion designer e apresentador, é o professor de edição; o ilustrador e animador Beto Nicácio (Dupla Criação) é quem irá ensinar a juventude uma área de atuação no audiovisual ainda pouco difiundida no estado, que é o cinema de animação; o técnico de som, Juan Gusmão é o professor de som direto; o premiado ator e diretor Al Danúzio ministra o curso de interpretação e preparação de ator para cinema; o fotógrafo espanhol radicado no Maranhão, Jesus Chuseto, é o professor do curso de direção de fotografia, um dos que mais despertaram interesse nos jovens; já o curso de produção tem como professores a dupla – já atuante na primeira edição do projeto – Nat Maciel e Edízio Moura. Nat Maciel coordena também a produção que tem como produtor, o cineasta Josh Baconi. A coordenação geral do projeto é da oficial de projetos do Instituto Formação, jornalista e diretora de cinema, Giselle Bossard.
Na equipe ainda, a cineasta carioca, Ana Rieper, diretora dos longas-metragens Vou Rifar meu Coração e Clementina, filme sobre a cantora e compositora Clementina de Jesus. Ana foi especialmente convidada para ministrar o curso de documentário musical.
Todos os cursos são gratuitos com carga horária de 30 a 60h e a maioria deles acontece nas sedes dos grupos de bumba meu boi participantes em seus territórios. Dois deles serão realizados na sala da Incubadora de Artes, Mídias e Tecnologias do Instituto Formação, no São Francisco.
As aulas iniciam-se na segunda semana de abril e seguem até o fim de maio, e início de junho, com gravações e lançamento da Mostra de Filmes Ilha em Edição 2 durante os festejos juninos.
Trabalho e Representatividade
Atento à importância da representatividade para os jovens, o projeto irá exibir em seu lançamento o filme Marte 1, indicado do Brasil ao Oscar 2023, escrito e dirigido por Gabriel Martins, expoente da nova geração de realizadores negros brasileiros, nascido na periferia de Contágio (MG).
Para a coordenadora do Ilha em Edição 2, o filme é uma forma concreta, e por meio da próprio cinema, de ilustrar os sonhos possíveis para o público jovem do projeto nas comunidades.
“Marte 1 é um filme emocionante e com comicidade, dirigido por um jovem negro e com boa parte do elenco formado por atores negros, tendo uma família como protagonistas, e um adolescente que sonha colonizar Marte. Sabemos os desafios que é fazer cinema no nordeste, que essa arte tem um histórico elitista, e da dificuldade maior de jovens terem acesso a cursos gratuitos e profissionalizantes nesta área. Por isso a importância deste filme que fala de sonhos, que incentiva os sonhos e é também um resultado das políticas afirmativas no setor audiovisual. Queremos que os jovens maranhenses se sintam estimulados a apostar neste caminho. Ao término do projeto, nossas ações se estendem com o convite para os que desejarem, passem a integrar um Núcleo Popular Audiovisual e sigam realizando, produzindo filmes e formando também outros jovens. Algumas palavras podem representar o Ilha em Edição 2: juventude, cidadania, direitos humanos, cultura, trabalho, educação, arte, cinema, desenvolvimento territorial, renda, liberdade, bumba meu boi e ancestralidade. São muitos aspectos envolvidos e um caminho que só é o começo para muitos deles”, observa Giselle.
O executivo de comunicação da Equatorial Maranhão, Carlos Hubert, identifica no projeto Ilha em Edição seu caráter inovador e seu grande diferencial: o trabalho direcionado para os grupos de bumba meu boi.
“Quando pensamos na profissionalização de jovens que estão nos grupos de bumba meu boi, estamos pensando na continuidade do patrimônio cultural do Maranhão. Unimos duas importantes vertentes que é o audiovisual e a maior manifestação popular do nosso Estado. É oportunidade de profissionalização, mas também de mostrar a beleza dos grupos, que podem ser excelentes laboratórios, gerando resultados incríveis. Para nós da Equatorial é muito gratificante poder proporcionar esse momento a essas comunidades”.
Os jovens estudantes que integraram a primeira edição do Ilha em Edição foram convidados para a cerimônia de lançamento e vão compartilhar suas trajetórias com o público. Andressa Bianca, estudante do 8º período de Serviço Social da UFMA, que à época, fez o curso de Som Direto no Liceu Maranhense, logo após a formação, participou de campanhas publicitárias com grandes produtoras de São Luís. Ela recorda como o projeto foi determinante na escolha de seu curso de graduação e na sua formação pessoal.
“Uma coisa que sempre falo para as pessoas quando me perguntam do porquê da faculdade que estou fazendo, é que gosto muito de audiovisual, mas fui para essa área do Serviço Social, justamente por causa do Ilha em Edição. No projeto pude conhecer mais sobre a questão dos direitos humanos, sobre racismo e outros temas sociais. Produzimos um filme sobre violência policial e racismo que foi muito relevante para mim. Então busquei um curso que dialoga com essas temáticas. Além de ter me proporcionado conhecer o audiovisual, o projeto me proporcionou perceber que o cinema pode ser uma ferramenta de luta, de denúncia. Foi muito relevante para a minha construção de conhecimento e trajetória. Depois que participei dele, fiz – à convite da professora de produção – uma propaganda para o Governo do Estado do Maranhão, um curso de crítica cinematográfica e história do cinema pelo Instituto de Educação do Maranhão – Iema e de sonoplastia pelo Serviço Social do Comércio – Sesc MA. Utilizo o audiovisual na minha vida acadêmica e recentemente pelo grupo de estudos fizemos um documentário sobre o Quilombo Rio da Prata”, reflete Andressa.
Outros jovens também da primeira edição seguem atualmente na área, por trás ou à frente das câmeras como a atriz Jacqueline Lince, umas das mais requisitadas nas produções audiovisuais no Maranhão.
“É muito óbvio que os jovens precisam de incentivos e de acesso a formação. Eles vão ter oportunidade de estar com grandes professores e utilizar equipamentos profissionais. Temos nesta edição grupos de bumba meu boi que têm mais de 50 anos de tradição e até seculares no saber fazer arte, e estes jovens que já são artistas agora vão poder canalizar o conjunto de suas habilidades para o cinema. Lembrando que ninguém é alguém sozinho e coletivamente eles vão produzir. Agora será a vez de dizerem “É luz, câmera, som e bumba meu boi!”, complementa Giselle.
O Ilha em Edição 2 é um projeto patrocinado pela Equatorial Energia, por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura – Governo do Maranhão. Tem como parceiros os grupos de bumba-boi de Maracanã, da Floresta, da Fé em Deus e de Leonardo e o apoio de organizações maranhenses como o Formação Faculdade Integrada – FFI, Santê e o Teatro da Cidade.