Reconhecimento

Mulheres que lutam por outras mulheres

O Imparcial conversou com três mulheres empoderadas que contaram como suas carreiras influenciam na luta pelos direitos das mulheres.

Batalhas foram travadas por direitos, igualdade, reconhecimento, muitas foram as conquistas, mas ainda não o suficiente para que a mulher tenha seus direitos assegurados. (Foto: Reprodução)

O que seria de nós, mulheres da contemporaneidade, se não fosse a luta de outras mulheres que vieram antes de nós? 

E ainda, o que seria, se tantas de nós não continuasse essa luta? Tantas batalhas foram travadas por direitos, igualdade, reconhecimento, muitas foram as conquistas, mas ainda não o suficiente para que a mulher tenha seus direitos assegurados.

Hoje, mais do que nunca, mesmo com várias conquistas, a luta continua, dura e árdua, diariamente.

Conversei com três mulheres, algumas das muitas, felizmente, que exercem cargos de total importância na defesa das mulheres do estado. 

A delegada do Departamento de Feminicídio, Wanda Moura, a Coordenadora da Casa da Mulher Brasileira, Susan Lucena, e, a Presidente da Comissão da Mulher e da Advogada da OAB Maranhão, Nathusa Chaves, são representantes no combate e enfrentamento da violência contra a mulher e contam como exercem isso.

“É preciso romper o silêncio”

Delegada de polícia há 20 anos, a primeira lotação de Wanda Moura (foto abaixo) foi na Delegacia Especial da Mulher de Codó. 

Foi na realização dos atendimentos diários que ela descobriu que ao exercer o seu trabalho, ao servir as mulheres que estavam em situação de violência, ou os seus familiares, ela conseguia ajudar a transformar vidas.

“Eu me sinto muito realizada ao trabalhar com o enfrentamento da violência contra a mulher. É muito gratificante saber que através do meu trabalho, e de todo o trabalho em rede que é realizado por todos os órgãos e pessoas que também trabalham enfrentando essa mazela, que conseguimos atingir mulheres em situação de vulnerabilidade e ajudar a mudar essa triste realidade” disse a delegada.

Uma mulher é vítima de violência a cada 35 minutos

Se­gun­do o Fó­rum Bra­si­lei­ro de Se­gu­ran­ça Pú­bli­ca, no ano de 2022, a ca­da mi­nu­to, 35 mu­lhe­res fo­ram ví­ti­mas de vi­o­lên­cia em to­do o Bra­sil. Mui­tas des­sas ví­ti­mas não bus­ca­ram aju­da, não pro­cu­ra­ram a po­lí­cia. 

De acor­do com a de­le­ga­da, vá­ri­os fa­to­res aca­bam im­pe­din­do que a mu­lher não de­nun­cie à vi­o­lên­cia so­fri­da, den­tre eles, me­do do agres­sor, ver­go­nha, de­pen­dên­cia fi­nan­cei­ra em re­la­ção ao agres­sor (pre­o­cu­pa­ção com a cri­a­ção dos fi­lhos), de­pen­dên­cia afe­ti­va com re­la­ção ao agres­sor, des­co­nhe­ci­men­to dos seus di­rei­tos, não acre­di­tar na pu­ni­ção, acre­di­tar que tem que aguen­tar a vi­o­lên­cia pra man­ter a fa­mí­lia uni­da (sen­sa­ção de que é de­ver da mu­lher pre­ser­var o ca­sa­men­to e fa­mí­lia), fal­ta de au­to es­ti­ma. 

Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, no ano de 2022, a cada minuto, 35 mulheres foram vítimas de violência em todo o Brasil. Muitas dessas vítimas não buscaram ajuda, não procuraram a polícia. 

De acordo com a delegada, vários fatores acabam impedindo que a mulher não denuncie à violência sofrida, dentre eles, medo do agressor, vergonha, dependência financeira em relação ao agressor (preocupação com a criação dos filhos), dependência afetiva com relação ao agressor, desconhecimento dos seus direitos, não acreditar na punição, acreditar que tem que aguentar a violência pra manter a família unida (sensação de que é dever da mulher preservar o casamento e família), falta de auto estima. 

“Analisando todo esse contexto vivenciado pela mulher em situação de violência, e entendendo a complexidade do fenômeno, a Polícia Civil tem intensificado as campanhas de prevenção desse tipo de violência, levando informações importantes sobre os direitos das mulheres, bem como sobre os canais de denúncia (disque 181, 190, aplicativo salve Maria Maranhão). Os estudos indiciam que a violência sofrida pela mulher vai ficando cada vez mais grave e ocorrendo em um período de tempo cada vez maior (por isso tem o nome de espiral de violência), daí se dizer que o feminicídio é uma morte anunciada e evitável, porque não ocorre da noite para o dia, mas que faz parte de um contínuo de violência que a mulher sofre ao longo de anos de relacionamento abusivo. É importante ressaltar que não somente a mulher em situação de violência pode fazer a denúncia, mas qualquer pessoa do povo pode fazê-lo, e que essa denúncia inclusive pode ser anônima. Com o rompimento do silêncio, conseguimos romper a espiral da violência, punir o agressor, e salvar vidas de mulheres”.

O caminho está na educação

Desde o movimento estudantil na universidade, Susan Lucena (foto abaixo) percebeu a pouca participação das mulheres nesses movimentos e de que forma pudesse ser feira essa construção por mais participação das mulheres.

Já foi Secretária Adjunta da Mulher, está há quase 6 anos como diretora da Casa Mulher, há 8 anos faz parte do Conselho Penitenciário, e há quase 1 ano está como presidente, a quarta mulher, num espaço que historicamente é masculinizado.

O combate à violência contra a mulher vem sendo feito e isso é fato, porém, a todo momento uma mulher é vítima de violência. Para Susan, esse combate vem desde a criação da Lei Maria da Penha até o fortalecimento com inúmeras outras leis, inclusive a lei do Feminicídio que deu visibilidade a essa modalidade de crime, que ficou sob a roupagem do homicídio por muito tempo.

“A gente começa a discutir cada vez mais essa necessidade de modificação do que de fato, precisa ser feito. Claro que os serviços são importantíssimos, a Casa da Mulher Brasileira, Patrulha Maria da Penha, Departamento de Feminicídio, aplicativo Salve Maria Maranhão, a possibilidade de fazer boletim de ocorrência online, a possibilidade de fazer pedido de medida protetiva de urgência on-line, serviços importantíssimos, mas a mudança real é através da educação né? Através dela que a gente vai conseguir informar, formar essa nova geração para que a gente possa ter uma geração mais consciente do que essa violência contra a mulher que está nos nossos lares, no dia a dia, nas nossas casas. Então a gente precisa ampliar serviços, fazer com que essas informações cheguem em todas as esferas da sociedade e que é através da prevenção, da educação a gente consiga modificar para que outras mulheres não sejam vítimas e que outros homens não cometam violência”, disse a diretora.

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