Talento negro nos esportes do Maranhão
O histórico de atletas negros que marcaram época em todos os esportes é muito amplo.
Adestacada participação dos negros e negras é muito fácil de perceber em todos os esportes, no Brasil e no exterior. Nos últimos 50 anos eles marcaram brilhantemente suas passagens pelo basquete, atletismo, automobilismo, tênis, boxe, e principalmente no futebol.
O histórico de atletas negros brasileiros que marcaram época em todos os esportes é muito amplo, mas apesar das conquistas incontestáveis, em pleno Século XXI os esportistas de pele escura continuam sofrendo diversas formas de discriminação no Brasil e em vários outros países.
Consagrado como Rei do Futebol em todo o mundo, Pelé, tricampeão mundial, não escapou de xingamentos e muitas vezes foi chamado de “macaco” em seu próprio país de origem. Na Espanha, o atacante Vinicius Júnior, do Real Madrid e da Seleção Brasileira passou por maus momentos nesta temporada, por ser negro e bom de bola.
No Brasil, foram várias denúncias registradas, inclusive em jogos do Campeonato Brasileiro terminado recentemente. Há leis que qualificam esse tipo de comportamento como crime, mas as punições aplicadas têm sido brandas e acabam servindo de incentivo para que essa prática vá se alastrando cada vez mais.
Na Semana da Consciência Negra, que se encerra neste dia 26 de novembro, o debate sobre a igualdade racial ganhou mais força devido aos registros cada vez maiores de preconceitos que provocaram inclusive a violência contra pessoas de pele escura, notadamente, em território brasileiro.
Negros que se destacaram no Maranhão
A lista é imensa desde que os esportes começaram a ser praticados no Maranhão, mas as gerações dos últimos 50 anos certamente não esqueceram destes atletas negros que se destacaram e fazem parte de uma história de muitas glórias nos gramados aqui, no cenário nacional e no exterior. Alguns até vestiram a camisa verde e amarela da Seleção Brasileira.
Fausto, a Maravilha Negra
Nascido em Codó-MA, Fausto dos Santos (1,86m) foi um volante de rara qualidade técnica – habilidade, muita disposição e chute forte -, que jogava com elegância. Também tinha muita precisão no toque de bola. Foi eleito o melhor jogador de sua posição nas décadas de 1920 e 1930.
Na Copa do Mundo do Uruguai, em 1930, recebeu o carinhoso apelido de “Maravilha Negra” pela crônica esportiva daquele país, devido às suas brilhantes atuações. Oriundo de uma família pobre que deixou o interior maranhense em busca de melhores dias no Rio de Janeiro, ele defendeu o Bangu, mas foi no Vasco no início de 1929 que se projetou.
Depois foi contratado pelo Barcelona da Espanha, Young Fellows, da Suíça, Nacional do Uruguai e Flamengo. Morreu precocemente em razão da tuberculose, aos 34 anos, no dia 28 de março de 1939.
José Carlos Moreira
Mais conhecido como Codó, José Carlos destacou-se na modalidade mais rápida do atletismo (100 metros rasos). Brilhou nas semifinais do revezamento 4×100 metros dos Jogos Pan-americanos de 2007, realizados no Rio de Janeiro, onde o Brasil conquistou a medalha de ouro. Em Pequim (2008) participou dos Jogos Olímpicos e fez parte do quarteto brasileiro que conquistou a medalha de bronze.
Adriele Rocha
A melhor jogadora de Beach Soccer do mundo é maranhense. No dia 4 deste mês de novembro, a atacante nascida em Tutóia foi eleita em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. Já havia sido indicada outras quatro vezes.
Nesta temporada de 2022, Adriele, 25 anos, venceu o Mundial Feminino com o Lady Grumbach, da Polônia, e também foi escolhida a craque do torneio.
Canhoteiro
José Ribamar de Oliveira (o Canhoteiro) era considerado o Garrincha do lado esquerdo do ataque. Nascido no Maranhão, brilhou no América de Fortaleza, foi destaque no time do São Paulo em 1955 e enlouquecia seus marcadores com dribles desconcertantes.
Esteve três vezes na Seleção Brasileira, participou de 16 partidas e atuou no Sul-Americano Extra de Lima, na Taça Oswaldo Cruz e na excursão preparatória para a Copa do Mundo de 1958. Só não foi ao Mundial da Suécia por opção tática do técnico Feola, que preferiu Zagalo.
Bacabal e Juca Baleia
Nas décadas de 50 e 60, Raimundo Nonato Barros de Abreu (Bacabal) foi o goleiro que fechou o gol do Moto Club e da Seleção Maranhense, onde sagrou-se campeão do Norte em 1962.
Outro goleiro, Juvenal Marinho dos Santos (Juca Baleia) ficou famoso a partir da década de 70, quando revelado pelo Expressinho acabou estendendo sua fama ao vestir as camisas de Moto, Maranhão e Sampaio Corrêa, onde teve suas maiores conquistas.
Em 92 ganhou destaque nacional ao enfrentar o Palmeiras na Copa do Brasil e encantar a imprensa paulista com grandes defesas.
Clayton
Na década de 90 surgiu no Moto Club outro lateral-esquerdo. José Clayton Menezes Ribeiro, mais conhecido como Clayton ganhou fama ao vestir a camisa rubro-negra e acabou se transferindo para a Bélgica. Continuou crescendo e foi parar na Tunísia.
Defendeu em 94 o Étoile Sportive, daquele país. Naturalizou-se e disputou a Copa do Mundo. Mais tarde foi negociado com o Bastia, da França.
Neguinho e Negão
Na década de 60, o MAC tinha na sua defesa Neguinho (lateral-direito) e Negão (zagueiro-central). Sem dúvida, uma dupla que marcou época pela seriedade com que jogava. Campeões pelo Quadricolor, inclusive em torneios interestaduais, despertaram o interesse de vários clubes, mas preferiram ficar em São Luís.
Neguinho passou ainda por Moto e Sampaio Corrêa. No Tricolor foi campeão do Brasileirinho em 72 e ganhou fama ao cobrar cinco penalidades e converter todas, contra o Campinense-PB, na decisão.
Gojoba e outros
José Raimundo Silva Moraes (Gojoba), volante, campeão do Brasileirinho em 72 pelo Sampaio, atuou em vários clubes do Nordeste, acumulando títulos pelo Moto, Sport-PE e Ceará. Walter Cruz (Barrão) foi um dos maiores meias do futebol maranhense, assim como Raimundinho, Wálber (Corinthians e Seleção Brasileira) Jackson (MAC, Palmeiras, Cruzeiro, Internacional, Paulista, Gama, Coritiba, Emirates Club, Ituano, Vitória, Santa Cruz e Seleção Brasileira, Paulo Sérgio (ex-Moto, Sampaio Corrêa, São Paulo, Flamengo e Guarani-SP) e Wamberto, revelado pelo Sampaio e destaque do Ajax da Holanda, pai de Wanderson, hoje no Internacional-RS.
Bacabal e Kléber Pereira
Bacabal (MAC, Moto, Sampaio, Tuna-PA, River-PI e Matsubara-PR) é o maior artilheiro da história do Castelão, com 115 gols. Também foi no estádio do Outeiro da Cruz que ele fez sete gols numa só partida, diante do Tocantins, em 1983.
Kleber Pereira, natural de Peri-Mirim, destaque do futebol do Anil, projetou-se ao vestir a camisa do Moto nos anos 90. Artilheiro do Campeonato Brasileiro de 1998, disputando a Série C, com 25 gols, destacou-se também no Atlético Paranaense, onde fez 124 gols, depois foi para o México.
Atuou no Tigres, Veracruz, América e Necaxa. De volta ao Brasil, brilhou com a camisa do Santos-SP em 2007.
Oliverrá
Luís Airton Barroso Oliveira, conhecido como Oliverrá depois que foi para o exterior, destacou-se no time do Tupan, no final dos anos 80. Transferido para o futebol belga (Anderlecht), naturalizou-se e disputou a Copa do Mundo de 98 na França.
Também jogou na Itália pelo Cagliari, formando um trio de ataque com o argentino Gabriel Batistuta e o brasileiro Edmundo, no Bologna, Como, Catania, Foggia, Venezia e Lucchese. No ataque o futebol maranhense teve ainda, Zezico, Pelezinho, Nabor, Laxinha, Riba e Dario, entre tantos outros que se destacaram nas décadas de 70 a 90.
Tião, o Rei do handebol
Sebastião Rubens Pereira, Tião (1957-2005), foi um dos maiores destaques do handebol masculino do Brasil. Chegou a ser chamado de “Pelé do Handebol”, pela sua habilidade e técnica capazes de desequilibrar os jogos em sua época.
Em 1976, Tião foi considerado o melhor jogador de handebol do país e pela Seleção Maranhense levantou o título de campeão na categoria adulto. Também brilhou na Seleção Brasileira de Handebol na função de armador central. Em Nice, na França, era chamado de Maravilha Negra pelo jornal L’Equipe.
Iziane Castro
Ludovicense, moradora do bairro Liberdade, estrela do basquete, Iziane destacou-se nas categorias de base do Osasco-SP, e em 2002 jogou pelo Miami Sol da Flórida, sendo a mais jovem da Women’s National Basketball Association, aos 21 anos.
Depois de uma trajetória vitoriosa em diversos países, inclusive da Europa, mostrou seu enorme talento pela Seleção Brasileira, onde se tornou campeã da Copa América em 2001 e terminou na quarta colocação nos Jogos Olímpicos de 2004 e Mundial de 2006. Com a camisa do Brasil fez 870 pontos em 71 jogos.
Ana Paula
Uma das mais talentosas atletas de handebol do mundo, Ana Paula Rodrigues hoje atua na Europa.Vestiu a camisa da Seleção Brasileira nos Jogos Olímpicos de 2008, 2012, 2016 e 2021. Conquistou o Mundial em 2013 na Sérvia. Nasceu em São Luís e começou a praticar esportes no bairro da Liberdade. Também foi campeã em vários clubes europeus: Áustria, França, Rússia e Romênia.
Rei Zulu
Casemiro de Nascimento Martins, conhecido popularmente como Rei Zulu, destacou-se como brilhante lutador de vale-tudo brasileiro. Durante 17 anos, foi o grande nome desse esporte no Brasil, conquistando 151 vitórias em 200 lutas.
Sua fama o levou a viagens por vários estados e pelo mundo. Desafiou lutadores famosos, inclusive o também invicto Rickson Gracie. Zulu é pai de Zuluzinho, outro grande lutador maranhense que ainda está em atividade.
Racismo é cada vez maior no futebol
Um dos maiores goleiros do futebol maranhense que se destacou a partir da década de 80, Juca Baleia conta que sofreu dupla discriminação quando atleta, por ser negro e pesado. “A maior manifestação de racismo que enfrentei foi em 85 ou 86 quando era goleiro do MAC e disputava o Campeonato Brasileiro.
Aconteceu no Estádio Presidente Vargas, em Fortaleza, numa partida contra o Ferroviário. A torcida gritou alto e me chamou várias vezes de macaco e negão. Não dei ouvidos e aquilo só me incentivou, pois fui o melhor do jogo que ganhamos por 3 a 2”.
Raimundinho
Raimundinho disse que não se sente ofendido quando o chamam de negro a não ser que seja em sentido pejorativo, com o intuito de passar a imagem de um ser inferior. “Se o cara me chamar de branco, aí sim, me ofendo, porque sei que ele está debochando”.
Kleber Pereira
Kleber entende que as pessoas ao se sentirem ofendidas devem denunciar os ofensores. “Graças a Deus, nós nascemos com esse dom de jogar futebol. É nossa profissão e precisamos ser respeitados. Acho que as pessoas discriminadas têm mais é que denunciar esse tipo de comportamento”, recomenda.