dia do radialista

Conheça Talvane Lukatto: o dono do maior acervo da história da rádio

O dia do radialista é comemorado nesta segunda- feira (07).

O maranhense comandou o programa "Memórias do rádio", que saiu do ar em 2017. (Foto: Arquivo Pessoal)

Sabe aquelas histórias de verão que acabam quando volta as aulas? Não foi isso que aconteceu com o radialista Maranhense Talvane Lukatto, dono do Acervo Talvane Lukatto.

Onde tudo começou

Quando criança, Lukatto era ouvinte assíduo de emissoras que penetravam frequência em sua cidade natal, Colinas-MA, por ser uma variação de ondas, curtas, médias e tropicais.

Eram emissoras de vários estados do país, a partir dessa fascinação, o maranhense já tinha o sonho de que quando crescesse, seria um comunicador da rádio.

Ele conta que viajava bastante nas férias escolares para São Luís e nessas viagens para a casa de seus irmãos, o futuro radialista tinha muito contato com a comunicação, com a política e com o que viria ser sua profissão.

“Eu gravava minha própria voz em gravadores da época e fitas cassetes e gravava os programas de rádio. Aleatoriamente, sem ter a ideia do que eu ia fazer com as gravações no futuro. O tempo foi passando e eu acumulando gravações. Gravando… gravando aleatoriamente.  Eu não tinha ideia do que eu ia fazer com isso”, contou para reportagem de O Imparcial.

Assim, aos 11 anos, Lukatto se deu conta que nenhuma emissora tinha seus próprios programas gravados, pois em épocas de datas comemorativas ou quando os ouvintes ligavam pedindo a repetição de tal programa, era avisado que infelizmente não havia a gravação “a história das emissoras estavam se perdendo”, constatou o radialista.

O tempo foi passando e o interesse por rádio continuava mais firme do que nunca, então, ele começou a se aprimorar nas gravações das fitas, organizando o material de forma mais seletiva.

“Depois eu comecei a fazer a decupagem desse material. Anotar, fazer as fichinhas, o nome do programa, o nome da rádio, o nome do comunicador, a pauta do dia, quem foi o entrevistado, enfim, as coisas que iam acontecendo na cidade. Aquilo era como se fosse um diário só que em vez de eu escrever eu estava gravando os programas”, ele relembra.

E como toda boa história tem que ter uma parte cômica, com Talvane não é diferente.

Ele relembra que na época não existia internet, e para pesquisar as informações que pretendia guardar, utilizava muito o telefone na casa de seu irmão mais velho, onde passava as férias, e quando chegava as contas, o irmão ficava muito chateado, por ser filas quilométricas de ligações mensais.

“Eram constantes as ligações que eu fazia no mês para as emissoras de rádios do sul do país, mas isso foi muito importante porque depois eu passei a ter todas essas informações catalogadas e na minha mente também”, relembra.

Apesar do prejuízo financeiro que causou para a família, esse processo foi muito importante pata Talvane, que tem suas pesquisas conhecidas em nível internacional.

Talvane não conseguia e não queria mais parar de gravar e guardar todas essas memórias da rádio, que até então, era apenas um passatempo.

A fama

O agora radialista Talvane Lukatto começou a ser conhecido pelos seus materias de gravações das rádios ainda na adolescência, quando as rádios anunciavam homenagens aos comunicadores ou aproximação da data de aniversário da rádio.

Lukatto entrava em contato e apresentava fitas gravadas para que fossem reproduzidas, e claro, era aceito pelas emissoras. 

Não demorou para que Talvane fosse solicitado quando as rádios de toda parte do Brasil precisavam de fitas especificas para irem ao ar em datas importantes, como no mês de agosto que segundo Talvane eles solicitavam falas, pronunciamentos ou entrevistas de Getúlio Vargas, que se suicidou em agosto de 1954, por exemplo. 

“A gente ia mostrando isso por telefone ao vivo, quando chegava o dia de finados, o pessoal ligava de várias emissoras pra gente homenagear alguns comunicadores que já tinham falecido, enfim. Depois os jornais impressos também começaram a divulgar o nosso trabalho, as emissoras de TV, fazendo matérias e tudo”, contou o radialista 

Lukatto tem uma história em especial que considera um marco na sua história profissional.

Em 2000, esteve em São Paulo visitando emissoras de rádios, e seus colegas comentaram sobre a rádio BBC de Londres, transmitia a programação em vários idiomas, inclusive para o Brasil em português e para países da África que falam português.

O colecionador então, decidiu entrar em contato por carta, e falou sobre seu trabalho em pesquisas de rádios em São Luís e coincidentemente tinha várias fitas gravadas da BBC da década de 80 e 90. 

“Demorou uns quinze dias produção do programa entrar em contato comigo por telefone querendo gravar uma entrevista pra eu falar do meu trabalho na BBC, contaram que o programa iria ao arpara todo mundo isso através de ondas curtas”, relembra. 

O radialista admite que a partir dessa entrevista, ficou conhecido internacionalmente e não demorou a ser solicitado por estrangeiros interessados em seu acervo

“Eu recebi uma ligação de um ouvinte da BBC em arquipélago dos Açores em Portugal querendo trocar adesivos de rádio, e foi muito legal” disse ele. 

Logo após a repercussão na BBC, Talvane Lukatto concedeu entrevistas para Rádio Internacional da China, também no idioma português. 

O acervo

O “Acervo Talvane Lukatto” tem áudios gravados de rádios, de várias décadas de São Luís e do Brasil. São as emissoras, Mirante, Educadora, Timbira, da extinta Gurupi, da extinta Rádio Ribamar, da extinta Rádio Capital, de todas as emissoras, que somam 16 mil fitas cassetes.

“Eu gravei fitas cassetes de 1980 até 1999. De 2000 pra cá, eu gravei em softwares, no computador. São mais de 16 mil fitas cassetes com programas, comercias. E de 2000 pra cá está em HD”, disse Talvane.

O museu que soma 37 anos não acumula somente gravações de rádios. Talvane Lukatto teve muito cuidado e sabedoria em guardar a história.

Ele conta que comprava livros e revistas, ligava para emissoras de todo o país e do exterior e pedia brindes, sendo prontamente atendido.

Assim, o Acervo Lukatto eterniza momentos da comunicação radiofônica, televisiva e impressa em nível, local, estadual, nacional e internacional.

“No acervo você encontra parelhos radiofônicos de várias épocas que são aqueles aparelhos antigos de são os rádios valvulados, transistorizados, rádios de madeira, rádio de baquelite”, informa Talvane.

E não para por ai, é uma infinidade de relíquias que não encontramos mais para venda, como aparelhos de TVs, televisão da década de 60, 70, 80 e 90. Vídeo cassetes de duas, três quatro cabeças.

O radialista ainda afirma ter uma coleção de adesivos de rádio de vários países do mundo que totalizam 3mil adesivos, brindes das emissoras de rádios, boné, chaveiro, camisetas…

O radialista conta que outras relíquias que podem ser encontradas em peso no acervo são os discos de vinil, que somam mais 50 mil, 19 HDs externos com várias gravações em vídeos, como novelas, partidas de futebol, telejornais locais e nacionais, programas de humor… 

Talvane conta toda essa história com muito orgulho do seu feito, uma época que não existia Youtube para publicar os vídeos ou salvá-los, e ele ainda criança, com seus 11 anos iniciou de forma aleatória, e nem imaginava à proporção que tomaria. 

Por muitos anos o Acervo Talvane Lukatto era aberto ao público, a partir de agendamento, e Lukatto conta que diariamente recebia interessados na arte do rádio e dos outros objetos presentes no acervo.

Eram estudantes de faculdades, profissionais da comunicação, interessados em relíquias, discos, história de emissoras e etc… 

Além do acervo fixo de lukatto, ele levava aos lugares parte da história do rádio em exposições eventos da capital maranhense “Eu cheguei a fazer 17 exposições em shoppings, em faculdades em vários locais de São Luís. Chegavam na exposição e diziam ‘poxa vida, quando eu era criança minha vó tinha um rádio desse’, ‘tinha uma TV assim’” relembra o historiador. 

Atualmente, por questões financeiras e falta de patrocínio, o acervo está desativado e impossibilitado de qualquer visita, exposições ou gravação dos conteúdos, mantidos sempre em domínio de seu fundador, Talvane Lukatto.

Projeto pessoal

Por tanto tempo dedicados aos meios de comunicação, o que não falta é história pra contar, e é exatamente o que Talvane pretende fazer em um projeto que está em andamento há alguns anos.

Ele, que desde criança sonhava em conhecer estações de rádios e aprender como funciona o processo de transmissão de informações, conseguiu, após os anos 2000, viajar para outros estados do Brasil e realizar parte do seu sonho.

“fui em São Paulo e depois eu comecei a fazer os outros estados. O Nordeste eu fiz todas as nove capitais e até Campina Grande, que não é capital, mas é a segunda cidade da Paraíba e visitei, porquê? porque lá tem emissoras que tem mais de cinquenta anos que eu achei interessante visitar”  

Além dessas citadas, Talvane chegou a conhecer rádios de Belém do Pará, Belo Horizonte e ia além das rádios.

Com seu portfólio em baixo do braço, ele conheceu também emissoras de televisão, somando ao todo 107 veículos de comunicação, a ideia era fazer todas as capitais do país e o Distrito Federal. 

O projeto teve que dar uma pausa por conta da situação empregatícia de Talvane, que em 2017 ficou sem trabalho fixo e não teve condições financeiras de continuar com as visitas interestaduais, considerando que não havia patrocínio de nenhum órgão, era tudo financiado pelo próprio radialista.  

“Infelizmente ficou faltando muitos estados, o Centro-Oeste, o Sul e mais Rio de Janeiro e Vitória. E no Sul as três capitais, Curitiba, Porto Alegre e Floripa, e outros estados do Norte pois só fui a Belém” conta. 

A ideia geral é retratar todas essas visitas em um livro “escrever, como é que foi, as visitas e tudo”, pontou. 

Ele conta que não mandava e-mails avisando que iria nas emissoras, e que corria o risco de ser recebido ou não “eu simplesmente pegava o endereço das emissoras, colocava meu portfólio debaixo do braço, a minha apresentação, as matérias que saíram do meu trabalho nacional e internacional e me apresentava na recepção da rádio e perguntava se poderia entrar pra fazer uma foto, fazer uma filmagem pra comprovar que eu estive na emissora”, contou Talvane.

E com a cara e coragem, Talvane Lukatto possui um arquivo pessoal recheado de visitações a emissoras do Brasil 

Atualmente 

Aos 47 anos de idade, com 37 deles dedicados à radio, está afastado dos microfones desde 2017 quando foi demitido abruptamente de seu programa “Memórias do Rádio” que era transmitido por uma emissora da capital maranhense.

Ele conta que gostaria de voltar à ativa com o mesmo formato do programa “Memórias do Rádio” um programa semanal de pelo menos uma hora. Para continuar com o trabalho e não deixar a memória do rádio sem ser divulgada.

Talvane é convicto de seu potencial e da relevância de um programa desse porte de volta ás rádios do país, significaria não deixarahistória do rádio morrer.

“A história do estado, de um país, de um povo, os fatos que aconteceram, as tragédias, as coisas boas, política, economia, cultura, música, tudo isso era divulgado, não era só as vozes dos comunicadores, mas também a história do teu estado, da tua cidade, do teu povo, do teu país”, declara.

Apesar de amar tudo que conseguiu adquirir com a história do rádio, e ter anseio em levar adiante todo seu trabalho Talvane confessa a falta de investimento e patrocinadores “é um projeto muito amplo onde se poderia fazer muitas ações, muita coisa legal, levar o rádio pra escola, mostrar como o rádio funciona, como era antigamente, as fotos, os banners, contando a história, toda a trajetória das emissoras, das exposições. Seria interessante de repente ter um projeto, rádio na escola e levar essas exposições para as escolas, pros terminais. Tudo isso são projetos” desabafa. 

“Infelizmente ninguém tem interesse em fazer, ninguém tem interesse em patrocinar, enfim. E aí fica tudo aqui parado, sem condições de continuar com o trabalho”, finaliza.

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