Bodas de Ouro

Laborarte completa meio século de arte, cultura e pesquisa

São 50 anos de história, 50 anos fazendo parte da vida cultural da cidade e 50 anos de arte.

Tambor de Crioula no Laborarte. (Foto: Reprodução)

O ano era 1972. Um grupo de jovens artistas queria concretizar um movimento que globalizasse suas atividades e as centralizasse em torno de um objetivo comum. Surgia, no dia 11 de outubro daquele ano, o Laboratório de Expressões Artísticas, Laborarte, ou como é carinhosamente chamado pela classe artística, Labô.

São 50 anos de história, 50 anos fazendo parte da vida cultural da cidade, 50 anos de arte nas áreas de teatro, dança, música, capoeira, artes plásticas, fotografia e literatura.

Há 50 anos ele funciona exatamente no mesmo lugar. O antigo casarão da Rua Jansen Müller (Centro), nº 42, foi e continua sendo palco das mais variadas formas de expressões artísticas, local por onde já passaram inúmeros artistas, muito deles iniciando suas carreiras e que hoje detém um carinho especial pela instituição cultural.

Nomes como os saudosos Dona Teté e Nelson Brito, Joãozinho Ribeiro, Tácito Borralho, João Ewerton, Murilo Santos, Regina Telles, Sérgio Habibe, Wilson Martins, César Teixeira, Wellington Reis, dentre tantos outros.

Para comemorar a longevidade da arte, uma vasta programação foi elaborada, e começa mesmo no dia 11, aniversário do equipamento cultural, na sede na Rua Jansen Muller, com uma programação marcada pela multiplicidade cultural: teatro, dança, música, capoeira, artes plásticas, fotografia e literatura.

O LABORARTE é um grupo artístico independente, fundado em 1972, que realiza trabalhos culturais desenvolvidos no Maranhão. (Foto: Divulgação)

O evento de comemoração acontece nos dias 11 e 12 de outubro, e se estende ainda para os dias 15, 16, 22 e 23 de outubro, com participação de vários artistas que integraram a história do grupo e muitas homenagens.

No dia 11, a programação é para convidados, a partir das 19h, com a “Exposição – Laborarte 50 Anos”; Intervenções culturais com caixeiras do Divino, Regina Teles e Rosa Reis; Depoimentos “Movimento Laborarte” com Tácito Borralho, João Ewerton e Imira Brito; DJ Vanessa Serra.

No dia 12 a exposição fica aberta ao público, no Casarão Laborarte, até 30 de outubro, com fotografias de Edgar Rocha, Jezus Perez, Murilo Santos, Márcio Vasconcelos, Marcone Pinheiro, Marcos Gatinho, Mobi (in memorian) e Paulo Socha; e obras de Ciro Falcão (in memorian), Dalton Costa, Fernando Mendonça, João Ewerton, Fernando Mendonça, Miguel Veiga, Telma Lopes e Wagner Alhadef (in memorian).

Às 16h, acontece a “Festa Laborartiana”, na Rua Jansen Muller, com Feirinha, Roda de Capoeira do Laborarte, Teatro de Bonecos – “Casimiro Côco em Lendas Emaranhadas” e Tambor de Crioula do Laborarte. Às 20h, terá o Show Coletivo com Josias Sobrinho, Sérgio Habibe, César Teixeira, Itaércio Rocha, Saci Teleleu, Chico Nô, Joãozinho Ribeiro e Zezé Alves; Cordel com Moizes Nobre; Cacuriá de Dona Teté; Show de Camila Reis e Rosa Reis.

O Diálogos Culturais é um curso que a Laborarte oferece. (Foto: Reprodução)

Nos dias 15, 16, 22 e 23 de outubro, a programação é na Sala Cecílio Sá, no Laborarte, às 18h, com o show “Encantaria de Amor”, de Itaércio Rocha.

Grupo surgiu no contexto de movimentos nacionais

O grupo foi fundado com atuação na organização de movimentos nacionais e locais. A ideia, surgida em 1972, por jovens artistas que queriam concretizar um movimento que globalizasse suas atividades e as centralizasse em torno de um objetivo comum, perdura até hoje.

Até então, esses artistas trabalhavam isoladamente com objetivos muito particulares, o que dificultava o entrosamento desses grupos. Foi assim que nasceu o Laborarte, da integração de artistas e movimentos culturais.

“O Laborarte nasceu da necessidade que tivemos de congregar dois movimentos que existiam na época, que eram o Antroponáutica, nascido no Liceu entre 69 e 70 e o Movimento de Teatro de Férias, criado na Igreja São Pantaleão. Era justamente criar condições para se estabelecer um movimento maranhense dentro da realidade de nossa terra”, disse o músico e poeta César Teixeira, um dos fundadores.

Naquele 11 de outubro de 1972, uma quarta-feira, houve exposição, teatro, dança e apresentação musical com a participação de Chico Maranhão e Sérgio Habibe, além do lançamento do livro Às mãos do dia, do poeta Raimundo Fontenele.

Na ocasião também foi lançado o folheto de poesia mimeografado Os ossos do hospício, de César Teixeira.

Bebendo da fonte do Labô

Além de César, outros nomes como Tácito Borralho, Regina Telles, Murilo Santos, José Tarciso Sá, Sérgio Habibe, Valdelino Cécio, Wilson Martins, Mundinha Araújo e Laura Victor participaram da fundação do grupo.

Foi por meio de César Teixeira que a cantora e atriz Regina Oliveira, do Grupo Lamparina, teve mais contato com a cultura popular e fez a sua estreia no tambor de crioula.

“Foi na porta do Laborarte, com o mestre Felipe, o meu batizado no tambor de crioula. A partir de então fiz várias participações em gravações, autos de Natal, trabalhos como backing vocal. Isso foi na década de 1990 quando eu estava começando a carreira”, contou Regina.

Para a cantora Rosa Reis, o Laborarte foi e continua sendo referência para muitos artistas, nas mais diversas áreas culturais.

“Daqui saíram vários artistas que hoje continuam trabalhando com teatro, dança, música, cultura popular. É uma escola onde as pessoas aprendem tambor de crioula, tocar caixa, dançar cacuriá, a conhecer a nossa história, a nossa cultura popular, muita gente vem de outros estados e procura o Laborarte. É um ponto de referência, é um grupo que tem resistido todos esses anos. Resistis 50 anos é uma dureza e a gente está conseguindo. Que venham mais 50 anos”, disse.

O cantor e compositor Wellington Reis, considerado uma cria do Laborarte, revelou que se hoje é considerado um artista, isto se deve muito ao Laborarte.

Ele conta que para entender a relação dele com o Labô, é preciso falar de quando ele conheceu Tácito Borralho, um dos fundadores do equipamento. Foi em 1970, pouco antes de ingressar na universidade, que Wellington conheceu Tácito, na Madre Deus.

Em 1975, quando Wellington funda o grupo carnavalesco RTA (Regional Tocado a Alcool), o vínculo com Tácito Borralho (que na época fazia a parte artística da Escola de Samba Turma do Quinto, junto com o teatrólogo Aldo Leite), se estreita. Em 1978, Tácito o convida para ir para o Laborarte.

“Chego lá, encontro uma turma boa, o finado Nelson Brito, Sérgio Habibe, Josias Sobrinho, César Teixeira, que na música eram os caras que mandavam no Laborarte. Havia um espetáculo no auge, de Josias Sobrinho e Tácito Borralho, “A Saga do Cavaleiro do Destino”, que já tinha ganho vários prêmios. No Laborarte são vários departamentos, você passa por todas as aulas até encontrar o que mais lhe apetece, que no meu caso já era a música. Acabei entrando para o Guarnicê por causa do Laborarte vendo o Murilo Santos fazer as filmagens com super 8. E aí, por volta de 1978, saem Josias, Habibe, César Teixeira, e eu praticamente assumo o Departamento de Música. Os espetáculos eram criações coletivas, e o Borralho me convida pra musicar o espetáculo Passos, em 1980. Foi a minha primeira incursão como compositor. O Laborarte me permitiu acreditar na minha arte como compositor. Eu devo ter passado uns 5 anos lá, mas saio com a pança cheia de cultura de todas as áreas. Se eu bebo em várias fontes artísticas eu devo ao Labô”, agradece Wellington Reis.

Família que se cria no Laborarte

Quando a cantora Rosa Reis entrou no Laborarte, em 1983, ela fazia parte do Coral São João, além de back vocal para artistas como Giordano Mochel, dentre outros. Ali, naquele espaço, ela conheceu Nelson Brito, casaram e tiveram 3 filhas: Luana Reis, Imira Brito e Camila Reis.

Foi também nesse período que Rosa ingressou na carreira solo se tornando hoje uma das grandes vozes femininas da música maranhense.

Rosa Reis (de amarelo) e suas três filhas. (Foto: Reprodução)

Para a cantora, o Laborarte representa muito na vida pessoal, familiar, cultural e profissional. Luana é coreógrafa do Cacuriá de Dona Teté, Imira é responsável pelos projetos da Casa e Camila é cantora, compositora, atriz e acompanha Rosa nos shows musicais.

“Nossas filhas foram convivendo conosco participando dos espetáculos, dos shows, vivenciando a cultura no Laborarte e hoje elas são parte integrante da Casa, da nossa história, participando ativamente das atividades que desenvolvemos. O Laborarte foi e tem sido uma grande escola para mim com relação à arte, à vida, e agora é para as minhas filhas também. Tive oportunidade de conhecer mais a cultura popular, a música, crescer profissionalmente”, afirmou Rosa Reis.

“A minha experiência com o Laborarte é desde a infância. Como meus pais já eram integrantes do Labô, a minha infância toda foi permeada dentro desse casarão, né? E lá eu cultivei minhas experiências com a arte que vão desde o Cacuriá de D. Teté, passando pela capoeira. Tive como mestre, ainda, o mestre Patinho; dona Teté, no cacuriá; conheci Mestre Felipe, entre outros, que permearam esse meu trajeto artístico cultural, também como professora de arte. Então, o Laborarte é de uma importância imensa para o meu percurso de vida pessoal e profissional”, disse Luana Reis.

Grupo atuante há meio século

Vibrante e pulsante desde 1972, a partir de 1974 o grupo começa a estudar a cultura popular objetivando criar uma forma de expressão artística inserida na realidade cultural do Estado.

(Foto: Reprodução)

A partir de 1986 o Laborarte passa a realizar estudos sobre a cultura popular e sobre as festas populares de São Luís, carnaval, festejos juninos e festas natalinas, e criou um calendário de eventos e espetáculos que acontecem durante todo o ano como forma de manutenção, como o “Carnaval de 2ª”, “Rompendo Aleluia”, “Largo de Santo Antônio”, “Sarau de Bailados” e a “Caravana Laborarte”, resultados desse momento.

Também são realizadas, no Laborarte, oficinas de tambor de crioula, cacuriá, percussão, teatro, dança popular, contação de estórias e oficinas de formação de caixeiras do divino.

Em 2007 o Laborarte passou a ser Ponto de Cultura, por meio de convênio com o Ministério da Cultura. Atualmente, em 2022, desenvolve o Projeto Arte da Nossa Gente, em parceria com a Prefeitura Municipal de São Luís. Cacuriá de Dona Teté, Show de Rosa Reis, Show de Camila Reis, Casimiro Côco em Lendas Emaranhadas, Contação de Estórias são alguns dos espetáculos produzidos atualmente pelo grupo.

Programação

  • 11 de outubro – Para convidados
  • 12 de outubro – “Exposição – Laborarte 50 Anos”
  • 16h – Feirinha, Roda de Capoeira do Laborarte, Teatro de Bonecos – “Casimiro Côco em Lendas Emaranhadas” e Tambor de Crioula do Laborarte.
  • 20h – Show Coletivo com Josias Sobrinho, Sérgio Habibe, César Teixeira, Itaércio Rocha, Saci Teleleu, Chico Nô, Joãozinho Ribeiro e Zezé Alves; Cordel com Moizes Nobre; Cacuriá de Dona Teté; Show de Camila Reis e Rosa Reis.
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