Dos gramados para a urna

Futebol e política: uma relação antiga

Atletas, dirigentes, torcedores e ex-técnicos estão engajados na história política, concorrendo com mais frequência a cargos eletivos nos parlamentos.

O presidente da Federação Maranhense de Futebol, Antônio Américo. (Foto: Reprodução)

Há quem diga que futebol e política não deveriam se misturar, mas esta interface vem ocorrendo no Brasil há longos anos.

Na verdade, atletas, dirigentes, torcedores e ex-técnicos estão engajados na história política, concorrendo com mais frequência a cargos eletivos nos parlamentos a partir da década de 70, quando a Seleção Brasileira conquistou o tricampeonato mundial e o governo militar, sentindo a força do chamado “esporte das multidões”  iniciou a construção de dezenas de gigantescos estádios.

Nos anos 80, no processo de redemocratização do país, atletas  como Sócrates e  Wladimir (Corinthians-SP) participaram ativamente dos comícios da campanha Diretas Já, no movimento  batizado como Democracia Corinthiana.

A propósito, no Rio de Janeiro,  o famoso escritor, jornalista esportivo e dramaturgo Nelson Rodrigues escreveu: “O Brasil é uma pátria de chuteiras”.

Nos anos seguintes, a quantidade de candidaturas a cargos políticos cresceram em  todo o país. Em São Paulo, o massagista da Seleção, Mário Américo, o palmeirense Ademir da Guia e os corintianos Biro-Biro e Zé Maria, ex-atletas de futebol, conseguiram votações expressivas para a Câmara Municipal.

Em outros estados, foi fácil para os ídolos do esporte se tornarem vereadores, deputados e prefeitos.

No Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Gerais, ex-jogadores de Vasco, Grêmio e Atlético-MG também bateram recordes nas urnas, entre eles, Bebeto, Romário (hoje senador), Danrlei e Marques, eleitos deputados estaduais e federais. Na Bahia, Bobô, ídolo do Bahia foi eleito para a Assembleia Legislativa.

Senador pelo Rio de Janeiro,  Romário conquistou 4 milhões e 600 mil votos, cerca de 63,43% da preferência dos eleitores em 2010. Mais recentemente, Marcos Braz, vice-presidente de futebol do Flamengo, foi eleito vereador na capital carioca, com 40 mil e 900 sufrágios.

São muitos os desportistas que iniciaram a vida política em  todas as regiões do Brasil por conta do prestígio conquistado na esfera esportiva, notadamente o futebol.

Nestas eleições de 2 de outubro,  para presidente da República, cuja disputa  está polarizada entre dois candidatos que apresentam as melhores preferências nas pesquisas de intenção de votos, Lula e Bolsonaro também já manifestaram suas preferências por clubes de massa. O atual presidente já vestiu a camisa de vários clubes, inclusive do Flamengo, mas não esconde que sua paixão maior é o Palmeiras, exatamente o maior rival do adversário Lula, que é corintiano e também simpatiza com o Rubro-Negro da Gávea.

O técnico Vanderlei Luxemburgo e ex-atletas, como Juninho  Pernambucano, Casagrande, Marcos, (ex-goleiro do Palmeiras e da Seleção Brasileira), Raí (ex-São Paulo e Seleção) Felipe Melo, atualmente no Fluminense-RJ, também já manifestaram publicamente suas preferências nestas eleições presidenciais.

Futebol e política no estado do Maranhão

O futebol maranhense também já teve vários representantes na Câmara Municipal, na Assembleia Legislativa e até na Câmara Federal. Nomes como Antônio Bento Cantanhede Farias, José Pereira dos Santos, na década de 60, Carlos Guterres, a partir da década de 70, e Alberto Aboud (federal-62-65) conquistaram mandatos em função da representatividade que tinham  nos três clubes chamados grandes: Sampaio Corrêa, Moto e Maranhão Atlético Clube.

Ainda no parlamento estadual passaram nomes como Pedro Vasconcelos, (ex-presidente do Sampaio Corrêa) a partir de 1987, Edmar Cutrim (90), ex-presidente do Moto, Manoel Ribeiro (ex-presidente do Sampaio), José Raimundo Rodrigues (Moto), Nonato Cassas e Sérgio Frota (Sampaio).

Na Câmara Municipal, na década de 70, os atletas Djalma Campos (Sampaio) e Raimundo Chagas Faísca (Moto) polarizaram a eleição para a Câmara Municipal de São Luís, sendo eleitos com expressiva votação dos torcedores bolivianos motenses.

Djalma, que iniciou a carreira de atleta no Moto Club, mais tarde foi deputado estadual e prefeito do município de Viana. Severino Ramos de Brito, ex-goleiro do Sampaio, Moto e MAC, aproveitou o embalo e também  foi vereador de São Luís. Na sequência, foram eleitos, Deco Soares e Pereirinha (Sampaio e Iape), Jota Pinto (Moto), Silvino (MAC) e os jornalistas esportivos Albino Soeiro e  Batista Mattos, ambos com passagem pelo jornal O Imparcial.

Nos últimos anos, o futebol não tem dado resposta nas urnas à maioria dos candidatos. Para que se tenha uma ideia, o presidente do Sampaio Corrêa, Sérgio Frota, recordista de títulos e atual comandante do clube na Série B do Campeonato Brasileiro, após ser eleito  vereador em  2012, elegeu-se deputado, com maior votação na capital em 2014, com 30 mil votos, mas no pleito seguinte não conseguiu a reeleição.

José Raimundo Rodrigues, que foi presidente do Moto nos anos 90, foi deputado estadual, mas  também não teve o reconhecimento do seu trabalho pela torcida e hoje segue sem mandato e sem pretensões políticas.  

O Rubro-Negro é uma das maiores forças do futebol maranhense, entretanto, nos últimos anos não teve da sua torcida o devido apoio àqueles que concorreram nos legislativos estadual e municipal.

Jota Pinto, também ex-presidente do Moto Club, foi vereador, mas na Assembleia Legislativa só assumiu após um bom período como suplente. Também tentou ser prefeito em São José de Ribamar e não obteve êxito. Pereirinha,  ex-vice-presidente do Sampaio e patrono do Iape e ex-presidente da Câmara Municipal não conseguiu a reeleição no último pleito.

O que dizem os candidatos

O presidente do Sampaio Corrêa, Sérgio Frota, é o candidato que representa o clube de maior torcida do estado. (Foto: Reprodução)

Presidente do Sampaio Corrêa desde 2008, Sérgio Frota é o candidato que representa o clube de maior torcida do estado. Estava afastado da política há quatro anos, quando cumpriu o mandato de deputado estadual.

Segundo afirmou à reportagem de O Imparcial, não era sua intenção voltar à política, apesar de insistentes apelos dos que reconheceram seu trabalho naquela casa. Daí, a demora em aceitar os convites, o que ocorreu somente quando as convenções estavam próximas de serem realizadas e ele decidiu apoiar o atual governador Calos Brandão (PSB), sendo agora candidato a deputado federal.

Com uma enorme quantidade de títulos conquistados à frente do clube no Maranhão – oito estaduais – sendo este último um tricampeonato, uma Copa do Nordeste em 2018, quatro acessos em Brasileiro, campeão invicto da Série D em 2012, acesso à Série B em 2017, vice-campeão da Série C em 2013 e 2019, uma Liga de Basquete Feminino e mais recentemente um Brasileiro de Beach Soccer, Sérgio Frota acha que vem cumprindo seu papel no comando tricolor, mas não teve no último pleito esse reconhecimento nas urnas, o que não significa que por isso tenha mágoa dos bolivianos.

Frota afirma que na sua passagem pela Câmara Municipal teve aprovado um projeto de lei que autoriza o Poder Executivo a conceder abatimento efetivo no Imposto Sobre Serviços (ISS) e/ou Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), às Pessoas Jurídicas e/ou Pessoas Físicas situadas no município de São Luís-Maranhão que apoiam financeiramente projetos aprovados pela Secretaria Municipal de Desporto e Lazer na área do esporte amador nos seguintes aspectos: recrutamento, seleção, formação e desenvolvimento de atletas; treinamento e participação de atletas de equipes esportivas em competições estaduais, interestaduais, nacionais e internacionais; fomento à prática e desenvolvimento do esporte entre crianças e adolescentes em situação de risco pessoal e social e os portadores de necessidades especiais, entre outros.

Na Assembleia Legislativa concorre novamente a um mandato o ex -presidente Manoel Ribeiro, campeão invicto da Serie C do Campeonato Brasileiro pelo Tricolor em 1997. Manoel Ribeiro também foi campeão da Copa Norte em 98 e semifinalista da Copa Conmebol de 98.

Moto Club

Yglesio busca a reeleição para deputado estadual nestas eleições. (Foto: Reprodução)

O presidente do Moto Club de São Luís, Yglesio Moyses, busca a reeleição para deputado estadual. Médico e professor universitário, no primeiro mandato ele teve uma votação expressiva de 39.804 votos. Presidente da Comissão de Turismo, Yglésio tem como principais bandeiras a saúde, educação, direitos humanos, economia, mobilidade e esporte.

Sua carreira política teve início no ano de 2012, em São Luís, quando disputou as eleições para vereador, obtendo 1.432 votos. Em 2014, chegou a disputar as eleições para deputado estadual, mas ficou como primeiro suplente do PT.

No ano de 2013, assumiu a direção do Hospital Municipal Djalma Marques (Socorrão I), maior hospital de urgência do Maranhão. Em 2020, o parlamentar disputou as eleições municipais para o cargo de prefeito, obtendo 9.816 votos. Hoje, faz parte da base do governo, mas com perfil independente.

Antes de ser presidente de um dos clubes de maior torcida no Maranhão, Yglesio foi atuante conselheiro, mas não fez nenhuma campanha eleitoral focada no voto dos motenses. Agora, que pretende continuar no parlamento estadual, contudo, pelo trabalho de reestruturação administrativa que vem realizando no clube, espera também contar com o apoio de grande parte dos rubro-negros maranhenses. 

“O ano de 2022 foi marcado principalmente pelo resgate da credibilidade do time junto aos patrocinadores. O clube, de uma maneira geral, passou por uma reestruturação de métodos de trabalho, de metas, pois no final do ano quando assumimos estava com quatro meses de salários atrasados, mas está aí na nona folha de pagamento cumprida, perspectiva de uma boa montagem de time tanto para a Copa FMF quanto para o Campeonato Maranhense em busca de novas alegrias para a torcida. Nesse período, o Moto saiu da condição de ser conhecido por escândalos negativos e conheceu melhorias nas condições do CT”, enumerou.

O presidente do Moto finaliza falando sobre o apoio que espera dos torcedores nestas eleições. 

“Na primeira eleição, não  tive voto de torcida e a segunda, agora, a gente não está  usando o nome do clube como palanque eleitoral, a gente respeita muito a separação das coisas, mas é óbvio que um trabalho bem executado como foi e a perspectiva de um bem melhor para o próximo ano, motiva a torcida e a gente pede apoio mesmo nessa hora, que votem no 40321”, concluiu.

Federação Maranhense de Futebol

O  presidente da Federação Maranhense de Futebol, Antônio Américo, natural da cidade de Pinheiro, é advogado há 37 anos, atuou 15 anos como Conselheiro Federal, na seccional do Maranhão  onde foi secretário-geral,  membro da comissão de direitos constitucionais, presidente da comissão de exame de ordem e da comissão de prerrogativas, além de ter sido membro do Conselho de Ética. Nestas eleições é candidato a deputado federal.

Na FMF está desde o ano de 2012, quando foi nomeado interventor. No prazo de seis meses ele conseguiu aprovar os novos estatutos para a entidade, convocando novas eleições, sendo eleito presidente. Saneou a maior parte das dívidas da federação e desde então passou a ser reeleito. 

“Conseguimos fazer um trabalho  árduo com os times, fazendo com que a federação assumisse o 14º lugar no ranking nacional das federações do Brasil. Antes ocupávamos o 18º lugar. Conquistamos três vagas para a Copa do Brasil, o Maranhão começou a fazer parte da Copa do Nordeste, estando hoje em quinto lugar no ranking dos estados”. “Trabalharei para construir um Maranhão com justiça social; defendendo a democracia, a liberdade  de expressão e o estado democrático de direito. Garantirei a implementação de políticas públicas de gestão ampla do esporte,  que possibilitarão também a melhoria e desenvolvimento dos setores da educação, saúde, emprego e turismo. Defenderei melhores condições para profissionais do setor do esporte, auxiliando no desenvolvimento  de crianças e jovens, oportunidades  de trabalho e renda”, finalizou.

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