Brasil

Maranhão e os 200 anos da independência

Programações e eventos históricos e culturais tem sido realizados em todo o Brasil desde o ano passado para chamar a atenção do bicentenário na contemporaneidade.

Documento assinado por José Bonifácio, um dos principais articuladores da independência do Brasil, endereçado para a cidade Alcântara, um mês antes do 7 de setembro. (Foto: Reprodução)

Neste dia 7 de setembro, o Brasil completa 200 anos de independência, da Coroa Portuguesa, representada a partir do ato simbólico, praticado pelo então príncipe regente dom Pedro I.  

Programações e eventos históricos e culturais tem sido realizados em todo o Brasil desde o ano passado para chamar a atenção do bicentenário na contemporaneidade, suas nuances, o contexto em que a independência aconteceu, seus atos e seus atores.

Para o historiador e pesquisador Euges Lima é importante pensar a Independência do Brasil, não como resultado de um único ato, no 7 de setembro de 1822, não como produto apenas do “brado” do Ipiranga por D. Pedro, mas sim como um processo que durou alguns anos, pelo menos até 1825, quando Portugal reconhece a Independência do Brasil.

“Portanto, o Brasil se tornou sim independente a partir desse processo, evidentemente, se situando no contexto político e econômico internacional a partir de suas possiblidades e realidades de então, como uma nova nação recém independente da América do Sul”.

A província do Maranhão ao lado da província do Pará foram as últimas que aderiram ao movimento.

“O Maranhão, na verdade, foi a penúltima província a aderir ao Império do Brasil, somente dez meses depois do 7 de setembro, em 28 julho de 1823, depois da Bahia, em 2 de julho desse mesmo ano, e antes do Pará, em 15 de agosto de 1823”, disse Euges.

Em artigo publicado por Wybson Carvalho, sobre os 199 anos da adesão da cidade de Caxias à independência, ele a destaca como o último foco de resistência. Segundo o artigo, “no ano de 1822, quando ocorreu, simbolicamente, o “Grito da Independência do Brasil”, a Vila de Caxias era habitada, predominantemente, por uma população lusitana.

A classe hegemônica constituída de portugueses exercia a dominação ao comércio, a igreja e a educação no lugar. Portanto, assim, não queria contrariar os interesses da Coroa de Portugal, à qual tínhamos o jugo de subordinação política”.

Em 1º de agosto de 1823, pouco depois do estado do Maranhão aderir à independência,  o povo caxiense livrou-se do domínio português para se tornar soberano e patriota também à cidadania brasileira.

“A Vila de Caxias tornava-se também, livre do cunho de estado colonial e se constituía em um próspero centro comercial e soberano da nova Província do Maranhão”, escreveu Wybson Carvalho, no portal caxias.ma.gov.br.

D. Pedro só passa a assinar como D. Pedro I depois do 12 de outubro, data da sua aclamação como imperador. Antes, assinava como príncipe regente. (Foto: Reprodução)

Perguntas ao historiador Euges Lima

1.   O Ma­ra­nhão foi o pe­núl­ti­mo es­ta­do a ade­rir à In­de­pen­dên­cia do Bra­sil. O que mu­dou de fa­to com es­sa ade­são?

Do pon­to de vis­ta so­ci­al, não hou­ve mu­dan­ças, pois, a In­de­pen­dên­cia do Bra­sil e a pos­te­ri­or in­cor­po­ra­ção do Ma­ra­nhão ao nas­cen­te Im­pé­rio bra­si­lei­ro man­te­ve o sis­te­ma es­cra­vis­ta e mo­nár­qui­co, por­tan­to, uma rup­tu­ra con­ser­va­do­ra do pon­to de vis­ta so­ci­al; um re­gi­me por as­sim di­zer ana­crô­ni­co no con­tex­to da Amé­ri­ca es­pa­nho­la, on­de a in­de­pen­dên­cia des­sas colô­ni­as foi se­gui­da pe­la im­plan­ta­ção de re­gi­mes re­pu­bli­ca­nos. Po­rém do pon­to de vis­ta po­lí­ti­co, o Bra­sil co­me­ça a se cons­truir en­quan­to na­ção, en­quan­to es­ta­do, en­quan­to iden­ti­da­de na­ci­o­nal. E o Ma­ra­nhão, a par­tir daí, pas­sa a se in­cor­po­rar aos pou­cos nes­se pro­je­to vi­to­ri­o­so que vai dar uma fei­ção de Bra­sil que co­me­ça a se for­mar a par­tir daí.

2.      Co­mo a in­de­pen­dên­cia in­ter­fe­riu na po­lí­ti­ca do es­ta­do?

Bem, pri­mei­ro in­cor­po­ran­do a en­tão pro­vín­cia do Ma­ra­nhão que era por­tu­gue­sa ao Im­pé­rio bra­si­lei­ro nas­cen­te. De­pois em 1824/1825, a in­ter­ven­ção do Lor­de Co­ch­ra­ne nas dis­pu­tas en­tre os gru­pos po­lí­ti­cos e fa­mi­li­a­res no Ma­ra­nhão pe­lo co­man­do po­lí­ti­co da pro­vín­cia foi bas­tan­te in­ci­si­va na­que­la con­jun­tu­ra. Ou­tro as­pec­to re­le­van­te tam­bém são as guer­ras de in­de­pen­dên­cia no in­te­ri­or do Ma­ra­nhão por in­de­pen­den­tis­tas vin­dos do Pi­auí e Ce­a­rá que mar­cha­ram do in­te­ri­or pa­ra a ca­pi­tal. Des­ta­que pa­ra a ci­da­de de Ca­xi­as, úl­ti­mo fo­co de re­sis­tên­cia das tro­pas por­tu­gue­sas, co­man­da­das pe­lo ma­jor Jo­sé da Cu­nha Fi­dié que fo­ram der­ro­ta­das pe­los in­de­pen­den­tes pró-Pe­dro I.

3.   So­bre o bi­cen­te­ná­rio da in­de­pen­dên­cia do Bra­sil. O Bra­sil tem o que co­me­mo­rar?

Sim, te­mos mo­ti­vos pa­ra co­me­mo­rar sim, em que pe­se as ma­ze­las crô­ni­cas des­te país, que pre­ci­sam ser mi­ti­ga­das; em que pe­se o nos­so sis­te­ma de­mo­crá­ti­co e re­pu­bli­ca­no que pre­ci­sa ser aper­fei­ço­a­do so­be­ja­men­te; em que pe­se nos­sa cul­tu­ra de cor­rup­ção, en­tre ou­tras ques­tões, a In­de­pen­dên­cia do Bra­sil ges­tou um gran­de país e dei­xou to­do um le­ga­do im­por­tan­te pa­ra for­ma­ção do país. Com um po­vo va­lo­ro­so, um país com­ple­xo é ver­da­de, até pe­las su­as di­men­sões con­ti­nen­tais, con­tra­di­ções so­ci­ais e econô­mi­cas, po­rém, o Bra­sil es­tá en­tre as dez mai­o­res eco­no­mi­as mun­di­ais e en­tre as mai­o­res na­ções do mun­do.

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