Ninguém se perde no caminho da volta
“Deus me permitiu voltar”, disse Sarney sobre voltar a escrever para O Imparcial.
Minha ligação com O Imparcial faz parte de minha biografia, e talvez tenha sido ele que me levou para o destino da política.
Tinha dezesseis anos quando O Imparcial, que então editava os matutinos Pacotilha/O Globo, fez um concurso de reportagem para recrutar repórteres aos jornais. Eu me inscrevi e mandei um trabalho sobre a Quinta do Barão. Não julgava que aquele trabalho iria mudar a minha vida.
Pois bem, com surpresa vi estampado no Imparcial o resultado do concurso. Li com grande alegria que fora o primeiro classificado e estava sendo chamado para comparecer à sede da Empresa Pacotilha, que editava O Imparcial, Pacotilha e O Globo.
No dia seguinte, lá compareci e me contrataram como repórter do setor policial com a responsabilidade de escrever as matérias para os matutinos.
Teria que sair às cinco horas da manhã, com o fotógrafo Azoubel, que se tornou meu grande amigo, a percorrer as delegacias de polícia para recolher o noticiário criminal.
Meu primeiro trabalho foi me dirigir até o Tibiri para levantar o seguinte caso: uma mulher enlouquecida provocara uma invasão em casas, quebrando coisas e espancando as pessoas, até ser presa pelos moradores e amarrada enquanto chamavam a polícia para tomar as providências.
Quando chegamos, a mulher ainda estava amarrada e a polícia providenciando sua remoção para a colônia de doentes mentais, Nina Rodrigues, no atual Monte Castelo, e naquele tempo Bairro do Areial. Azoubel bateu as fotos e fui para a redação do jornal pela primeira vez escrever o texto da matéria.
Naquele tempo o jornal era quase uma carreira, que se começava como repórter policial. Eu comecei a dar um feitio pessoal às matérias. E uma delas foi a de um homem morto na armadilha colocada numa quitanda muitas vezes roubada.
O proprietário usou esse artificio da armadilha com uma espingarda no quintal. O morto era um egresso da penitenciária, José Pereira, conhecido e tido como recuperado. Fiz uma novela: “José Pereira entre o bem e o mal”. Recuperava-se e voltava a roubar. Foi um sucesso e estiquei o caso ao máximo. Isto me levou a sair da editoria de Polícia para ser redator.
Comecei a entrosar-me com os colegas, como Nascimento de Morais, o grande ícone do jornalismo daquela época. Com o tempo, fiz-me amigo de Sabóia, Miécio Jorge, João Silva, Ribamar Bogéa, do setor esportivo, Camelinho, Galvão, Costa e Silva (poeta da AML) e Fernando Perdigão, o editorialista.
Agora recordo estes tempos com saudade. Fiz-me amigo de Chateaubriand e com ele e Sabóia comemos, em suas viagens ao Maranhão, a peixada do Gago, no Olho d’Água.
Estou escrevendo para muitos jornais do País, reproduzindo o artigo semanal que faço para o Imirante, o portal de notícias do Grupo Mirante. Mas sem o jornal de papel, principalmente em minha terra, onde as lutas políticas me criaram algumas incompatibilidades, eu sinto uma grande nostalgia. Agora, com 92 anos, afastado da política partidária, nossos jornais aceitaram minha colaboração.
No retorno a O Imparcial, lembro-me de José Américo, ao dizer que ninguém se perde no caminho da volta.
Feliz em escrever de novo para O Imparcial, sempre citado por mim e, em verdade, um jornal do meu coração. Ainda sou amigo dos remanescentes dos Diários Associados do meu tempo. Somos uma família. Entre mortos e vivos circulam a lembrança, a saudade e a alegria de ver de onde comecei, e Deus me permitiu voltar.