Tradição no João Paulo volta com força total
Avenida São Marçal recebe brincantes e grupos de bumba meu boi de matraca para reverenciar o último santo junino.
Cerca de 200 mil pessoas devem passar pela Avenida São Marçal, no João Paulo, neste dia 30 de junho, quando se comemora o dia de São Marçal e o grande encontro dos bois de matraca, que este ano completa 95 anos.
A festa começa a partir de seis e meia da manhã, com concentração em frente ao quartel do exército.
Segundo a organização, 36 grupos de bumba meu boi estão confirmados para o evento que arrasta multidões na despedida dos festejos juninos e na reverência ao santo, São Marçal de Limoges, bispo, em São Luís, aquele que encerra a festança.
“Fechando o ciclo dos santos juninos, no Maranhão temos um diferencial em relação aos outros estados do Nordeste. Enquanto os demais encerram a festa com as homenagens a São Pedro no dia 29, os maranhenses se permitem estender um pouco mais os folguedos para festejar São Marçal no dia 30 de junho. Uma festa quase centenária que reúne um grande número de grupos de bumba-meu-boi, principalmente do sotaque de matraca ou da Ilha, para reverenciar o santo”, escreveu em artigo, o Diácono João Pedro Fonseca.
Falar de fé em um momento onde só se ouve o som das matracas, dos pandeirões, apitos, toadas, e muita gente imbuída do sentimento de “brincar São João”, parece impossível, mas para alguns brincantes, participantes de grupos de bumba-meu-boi, participar do Encontro dos Batalhões de Bumba Meu Boi, no bairro do João Paulo, no dia de São Marçal, significa muito mais.
“Significa que a gente está encerrando essa temporada bem e que a gente precisa agradecer a todos os santos juninos. Já agradecemos a Santo Antônio, São João, São Pedro e agora São Marçal. Estaremos como sempre com nosso batalhão cedinho na avenida São Marçal, como sempre estivemos, desde que a festa existe, disse Ribinha de Maracanã, respeitando o legado que seu pai, Humberto de Maracanã deixou.
É um dia inteiro de festa no João Paulo. Segundo Carlos André Costa Teixeira, coordenador Geral da festa, será um grande momento, depois desses 2 anos sem que o festejo aconteça.
“Estamos esperando uma grande festa, faremos uma homenagem a seu Mábio Frazão, que organizou a festa por muito tempo. Temos policiamento, posto de saúde, brigadistas, caldo de feijão para dar ao público e muitos grupos de bumba meu boi para uma grande festa”, disse. A festa tem apoio do Governo do Estado, do Exército Brasileiro, Instituto Mãos de Amigo, Prefeitura de São Luís, dentre outros parceiros.
No dia de São Marçal, matracas e pandeirões dão o tom da festa. É uma celebração que atravessa o tempo e também testa a força, fé e resistência de brincantes, organizadores dos grupos e admiradores dos batalhões que ficam na rua desde a madrugada anterior. No local haverá um padre para realizar a bênção dos batalhões.
Festa surgiu na proibição dos bois no Centro
A Festa de São Marçal surgiu a partir da proibição aos grupos de bumba meu boi de seguirem para a área do Centro da cidade, sob pretexto de manutenção da segurança, ordem e tranquilidade.
A polícia não permitia que os brincantes passassem do Areal do João Paulo. Lá mesmo, eles se encontravam e desde então o encontro dos grupos de bumba-boi foi se consolidando a cada ano e se expandiu, tomando proporções gigantescas.
Uma segunda versão apresenta o senhor José Pacífico de Moraes (1901-1972) como um dos responsáveis pelo evento. Ele teria assistido diversas apresentações de bumba-meu-boi no bairro do Anil e decidiu trazê-las para se apresentarem em frente à sua casa no bairro do João Paulo, dando início a festa.
Hoje uma estátua de 5 metros do santo está em destaque no local dos folguedos. A prefeitura de São Luís tornou a festa de São Marçal um bem cultural e imaterial da cidade e decretou o 30 de junho como dia do Brincante de bumba-meu-boi.
O santo
Segundo o Diácono, foi o primeiro bispo do local e evangelizou a Aquitânia, uma região próxima de Limoges. Seria o próprio São Marçal um gaulês. Foi martirizado no século III junto com outros dois presbíteros de sua diocese.
Sua imagem geralmente o apresenta como um bispo, de casula ou capa pluvial, báculo e mitra – o chapéu do bispo.
Outras o trazem com uma tocha, na companhia de um anjo ou com uma casa em chamas a seus pés.
“Não se sabe como começou a atribuição a São Marçal, mas ela ganhou força e notoriedade principalmente a partir dos anos 1980. Hoje uma estátua de 5 metros do santo está em destaque no local dos folguedos São Marçal ultrapassou fronteiras e se enraizou no imaginário folclórico e devocional do povo ludovicense. Encerra com maestria o período junino da capital maranhense e sempre passa aquela sensação de saudade e dever cumprido aos brincantes”, disse o religioso.