O que dizem todos os envolvidos na greve dos rodoviários
Nesta quarta-feira, a greve dos rodoviários completa 44 dias sem previsão de acordo.
A cidade de São Luís amanheceu sem ônibus ontem. O Sindicato dos Rodoviários já tinha avisado que se não houvesse nenhuma sinalização de acordo, por parte dos empresários do setor de transporte sobre o movimento, a categoria iria parar com 100% da frota.
Nesta quarta-feira, a greve dos rodoviários completa 44 dias sem previsão de acordo. Até ontem (29), nenhuma das partes que podem resolver a greve dos rodoviários havia apresentado ao Tribunal Regional do Trabalho 16ª Região (TRT-MA) alguma contestação.
Na última audiência de conciliação de dissídio realizada na sede do órgão, no dia 18 de março, não houve acordo, e o presidente do TRT, desembargador Francisco José de Carvalho Neto, concedeu ao sindicato patronal, ao Município de São Luís e ao MOB o prazo de 10 dias úteis para apresentação de contestação.
O prazo, segundo o TRT, acaba dia 1º de abril. Após esse prazo, todos serão acionados para a apresentação de razões finais no prazo de cinco dias. Em seguida, após manifestação do Ministério Público do Trabalho, o processo será distribuído por sorteio para um desembargador que atuará como relator para então seguir ao julgamento pelo colegiado do Tribunal Pleno.
Em entrevista, o presidente do Sindicato dos Rodoviários, Marcelo Brito, fez duras críticas ao empresariado e à Prefeitura de São Luís.
“Pedimos que o senhor prefeito saia do seu conforto e faça com que o empresariado cumpra com seus direitos. É fácil eles negaram os direitos do trabalhador. Todos eles sabem as empresas que devem ao trabalhador 3, 4 meses de salários, férias. Todos eles sabem. Se os empresários não tem condições de serem empresários, então que sejam empregados”, argumentou.
O presidente do Sindicato lembrou ainda que mesmo com o aumento das tarifas e o subsídio que a Prefeitura está dando ao SET, o empresariado afirma não ter como dar uma contraproposta à categoria. “Nossa proposta foi feita em janeiro”, comentou Marcelo Brito.
Em nota, a Prefeitura de São Luís informou que a Secretaria Municipal de Trânsito e Transportes (SMTT) está, desde o início do movimento tomando todas as medidas necessárias para pôr fim à greve dos rodoviários.
“A SMTT ressalta ainda que não mediu esforços na tentativa de solucionar o problema, apresentando medidas como: a prorrogação do auxílio pago por meio do programa “Cartão Cidadão”, bem como a autorização do reajuste da tarifa pública. Além disso, vem constantemente dialogando com as partes envolvidas para que cheguem a um pronto entendimento”, disse a SMTT.
“Quem luta pelos passageiros?”
Cerca de 800 mil usuários utilizam o transporte coletivo na capital. Sem ônibus, eles tiveram que dar o jeito para ir ao trabalho, a escola, aos compromissos.
Com isso, moto táxis, carros de lotação e vans do transporte alternativo foram as alternativas para quem precisou se deslocar, ainda que pagando mais caro. Carros de aplicativo e taxis também foram procurados.
“É um absurdo isso que estão fazendo com a gente. Pagamos quando tem aumento e continuamos usando um transporte ruim. Agora sobra para a gente pagar pelo erro e incompetência dos outros. Quem luta pelos passageiros?”, indaga a ajudante de cabelereira Andrea Costa, moradora da área Itaqui Bacanga, que pagou uma van para ir ao trabalho. A passagem custa R$ 4.
A comerciária Maria Clara Pereira disse que precisa dar o jeito dela para estar no trabalho, pois do jeito que as coisas estão não pode ficar desempregada e clamou pelo poder público para que resolvam o problema.
“Eu acho que a justiça, o município, quem quer que fosse, deviam olhar para a população. Já tem mais de mês que a gente está com esse problema para pegar ônibus. A gente não tem dinheiro para ficar pagando Uber. Alguém tem que dar um jeito”, pediu.
Representante do transporte alternativo
Para Charles Silva, que representa os motoristas de transporte alternativo da área Itaqui-Bacanga, a greve não é boa para ninguém, inclusive para eles, que veem a demanda diminuir. Segundo ele, cerca de 40 mil usuários utilizam-se do transporte alternativo diariamente. Durante a greve, essa demanda diminui em 60%.
“Ao contrário do que muita gente pensa, a gente não lucra com a greve. A greve é ruim para todo mundo. As vans demoram muito a sair do terminal porque a demanda diminui. Muita gente não sai de casa durante a greve”, disse.