No Maranhão

Homem negro é torturado após suspeita de furto em supermercado de Santa Inês

Quatro funcionários da empresa foram indiciados por cárcere privado e tortuna nessa segunda-feira (27); suspeitos foram soltos no mesmo dia.

Homem, de 35 anos, foi mantido em cárcere privado em supermercado do Grupo Mateus. (Foto: Divulgação)

Nessa segunda-feira (27), a Polícia Civil do Maranhão prendeu quatro funcionários que prestam serviço para o Grupo Mateus suspeitos de manter um homem negro sob ameaças, tortura psicológica e cárcere privado por quatro horas dentro do almoxarifado de um supermercado da rede de Santa Inês, no Maranhão.

Segundo as imagens da câmera de segurança do supermercado, o homem, de 35 anos, identificado apenas como Raimundo, havia comprado dois quilos de frango, às 8h da última segunda, e saía com a sacola com o produto e a nota fiscal, depois de pagar pelos itens no caixa.

Imagens da câmera de segurança do supermercado flagram, ainda, a abordagem de um segurança no momento em que o homem deixava o supermercado. A vítima foi conduzida até por uma escada até o setor de gerência do supermercado. Lá, foi fotografado e levado ao almoxarifado, nos fundos da loja.

De acordo o relato prestado na delegacia da cidade, o homem foi algemado e amarrado com um pedaço de fio metálico a uma barra de ferro por ao menos quatro horas. Nesse período, a vítima foi ameaçada por seguranças, inclusive com arma de fogo, para que confessasse um suposto furto.

“Os funcionários, em vez de realizarem o procedimento legal de acionamento da Polícia Militar ou da Polícia Civil, para que ele fosse conduzido e autuado pelo crime de furto, o que eles fizeram foi amarrá-lo, praticar tortura psicológica e ainda tortura física, porque ele foi mantido amarrado em uma barra de ferro, em pé, por quatro horas”, disse o delegado Allan Santos, de Santa Inês.

O delegado informou, ainda, que, pelas imagens, é possível ver que a vítima carregava duas sacolas, uma delas com o frango e outra com itens diversos. Não é possível constatar, no entanto, que esses objetos tenham sido furtados do supermercado ou se já estavam com o homem.

“Na versão oficial dele [a vítima], ele informa que não praticou nenhum tipo de furto. Ele diz que se dirigiu ao açougue, pediu dois quilos de frango, saiu e pagou os frangos. Há até a nota fiscal que foi fornecida por um dos presos, e estava no bolso dele. Mas, pelas imagens, dá para ver que ele realmente estava tentando sair com um carrinho que tinha duas sacolas, uma na parte de cima e outra na parte de baixo. Com essas sacolas, ele foi convidado a subir algumas escadas e, ao abrir uma das sacolas, tinha outros gêneros alimentícios”, afirmou o delegado.

Após às 14h do mesmo dia, o homem foi solto pelos funcionários levando apenas o frango. A vítima foi para casa e, em seguida, registrou um boletim de ocorrência. Policiais civis foram até o supermercado e levaram os envolvidos à delegacia.

De acordo com a polícia, diante dos elementos encontrados e do pouco tempo entre a denúncia e o horário do fato, houve a caracterização de flagrante e os funcionários foram autuados por tortura e cárcere privado, e depois encaminhados à Unidade Prisional de Ressocialização de Santa Inês.

Os funcionários identificados foram os fiscais de prevenção de perdas do supermercado Lucas Rocha e Levi Araújo, o vigilante Willamy Antonio e e o subgerente do supermercado, Wellington Rodrigues.

Ainda segundo a polícia, em relação ao suposto crime de furto direcionado à vítima, o caso precisa de investigação.

“Mesmo que tivéssemos a informação que ele praticou efetivamente o furto, não poderíamos dar a voz de prisão porque não havia mais a situação de flagrante devido o lapso de tempo entre o suposto fato e a denúncia”, disse a polícia.

Em nota à imprensa, o Grupo Mateus afirmou que houve um grande furto de alimentos no supermercado e que o cliente foi mantido preso até que familiares chegassem para pagar os produtos a mais.

Leia a nota na íntegra:

“Relatamos que a equipe de segurança interna abortou um caso de furto de inúmeras mercadorias. Foi concedido ao autor um prazo para que a sua família efetuasse o pagamento das mercadorias, evitando assim o registro formal da ocorrência. Sem o comparecimento de familiares, o autor foi embora, tendo a empresa recuperado os mais de 30 produtos furtados. Em represália à apreensão, o mesmo registrou boletim de ocorrência, deturpando os fatos e levando informações distorcidas ao delegado de plantão que apurou preliminarmente o caso. Continuaremos à disposição das autoridades para esclarecer o ocorrido.”

Sobre a nota da empresa, a polícia afirmou que não há prerrogativa legal para manter uma pessoa presa até que possa pagar por produtos furtados e que o correto seria a empresa chamar a polícia para conduzir o suspeito à delegacia.

Ainda durante a segunda, o juiz de plantão decidiu conceder a liberdade provisória dos funcionários do Mateus por não terem antecedentes criminais.

*Com informações da UOL

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