Dia das Crianças

Telas e crianças: há um limite saudável?

Utilizado por pais, crianças e adolescentes, tabletes e aparelhos celulares se mostram uma ferramenta significativa no dia a dia do público infantil

Reprodução

Um dos brinquedos mais populares para o público infantil nos anos 1990 era o Tamagochi, uma espécie de bichinho virtual em que o usuário tinha responsabilidade de cuidar alimentando, dando remédios e até mesmo brincando. Tudo de forma virtual. O brinquedo de origem japonesa foi um dos primeiros contatos que crianças e adolescentes puderam ter com tecnologias antes da popularização da internet e do uso de telas como meio recreativo e também de aprendizado.

Desde o início da pandemia da covid-19, o uso de telas foi intensificado e não só por adultos em trabalho remoto, mas também pelos pequenos. Interações rotineiras e essenciais para o desenvolvimento infantil foram suspensas, como o brincar em grupo, a ida à escola e o contato social como um todo e substituídas e mediadas por telas, como o Ensino a Distância (EaD), por exemplo.

Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), crianças cada vez mais cedo têm tido acesso aos equipamentos de telefones celulares e smartphones, notebooks além dos computadores que são usados pelos familiares em casa, nas creches, em escola. Um dos motivos utilizados por pais seriam para que as crianças ficassem mais “quietas”. De acordo com a SBP, isso é denominado de distração passiva, comportamento no qual a criança não interage com o mundo ou brinca ativamente, recursos fundamentais para um bom desenvolvimento na primeira infância.

“Eu acredito que o uso de telas deve ser evitado ao máximo durante a primeira infância porque é o momento que a criança mais se desenvolve nesses primeiros anos de vida que são fundamentais. Esse desenvolvimento só irá acontecer com interações sociais, com o ambiente para poder desenvolver habilidades como a fala, como formas de comunicação, desenvolvimento cognitivo também.”, afirma Juliana Amorim, 22 anos, acadêmica de psicologia e mãe do Cainã Ravi, de 1 ano e três meses. “Porém como não conseguimos controlar tudo e vivemos numa realidade completamente submersa na tecnologia, pensando numa forma tanto educativa como recreativa, pode ser sim ser usado esse recurso das telas, mas com muita cautela e com muitos limites.”, continua.

Segundo o Manual #Menos Telas #Mais Saúde, elaborado pela SBP em 2016  com o intuito de informar a pais e profissionais da saúde sobre os impactos que uso de telas pelo público infantil, o uso limite diário deve ser configurado de acordo com a idade da criança. A recomendação é de que crianças com menos de 2 anos não devem ser expostas a telas, já com idades entre 2 e 5 anos, limitar o tempo de telas ao máximo de 1 hora por dia, sempre com supervisão de pais ou responsáveis. 

Outra recomendação é não permitir que as crianças e adolescentes fiquem isolados com os aparelhos e estimular o uso nos locais comuns da casa.


“Pode ser uma alternativa, mas sempre com limites”, diz Juliana Amorim, mãe do Cainã Ravi, de 1 ano e três meses. Foto: Heri Carvalho/Arquivo Pessoal

Um processo natural

“Nós como sociedade estamos inseridos em um contexto onde as tecnologias digitais estão vinculadas na maioria de nossas ações do dia a dia, quando pagamos nossas contas fazemos isto pelo aplicativo do banco, quando queremos escutar nossas músicas favoritas o aplicativo de música é aberto, no momento de trabalho os computadores, celulares ou notebooks são ligados para realizar o home office e quando precisamos de entretenimento, novamente algum aplicativo de serviço de Streaming, tal como a Netflix, é acessado. Então, considerando que nós, adultos, utilizamos nossos celulares ou tabletes para realizar nossas tarefas rotineiras e buscar divertimento, a criança também busca incluir estes aparelhos nas suas rotinas, visto que ela se espelha e admira as pessoas que são responsáveis por ela, tal como seus pais, tios ou avós. Então como ela é uma criança, que gosta de coisas de crianças e todo o universo lúdico que envolvem brincadeiras, jogos e o lúdico que abarcam o mundo infantil, estas tecnologias digitais acabam se tornando o seu maior brinquedo e o envolvimento desta criança que ainda está aprendendo quem ela é, como lidar com seus sentimentos e está construindo conhecimentos na sua sala de aula, estas ferramentas digitais tal como o celular podem ser  benéficas ou maléficas”, explica a pedagoga e mestre em Cultura e Sociedade pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Sarah Froes.

Uso com equilíbrio

Mas, nem tudo deve ser encarado de forma negativa. O uso, ainda que restrito, pode ser feito de forma menos prejudicial. “Eu acho que [as telas] podem ser alternativas para diversão e para animar uma família, uma criança como assistir um filme, comer uma pipoca. Isso é muito positivo, isso gera interação. Os filmes podem ter mensagens positivas. Nesse sentido, pode ser uma alternativa, mas sempre com limites. E não deixando com que isso seja a única fonte de diversão da criança, a única forma dela estar distraída. Devem ter outras alternativas em relação a isso”, diz Juliana

“Ao entender que a internet contém informações sobre tudo e tem o poder de nos fazer se interessar sobre tudo de forma intensa, levando em consideração que a criança está em formação, o acesso da criança aos celulares e outras tecnologias digitais sem a mediação e a supervisão dos seus responsáveis podem acarretar no uso demasiado destas tecnologias e a falta de concentração da criança as suas atividades escolares.  Mas no momento em que seus pais reconhecem a força e a forma em que os conhecimentos que estão inseridos no mundo digital e como aplicativos tais como o YouTube, aplicativos de jogos educacionais e livros digitais podem potencializar as habilidades e estimular os conhecimentos que a criança está construindo com seus professores e seus amigos da escola. E ao participar e mediar o acesso aos conhecimentos digitais que a criança descobre, os pais terão o conforto ao saber que os seus filhos estão aprendendo sem deixar o universo de brincadeiras infantis”, conclui a pedagoga.

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