409 ANOS DE HISTÓRIA

Upaon Açu: 1ª terra indígena do Maranhão

Os primeiros habitantes do período de pré-colonização e colonização de São Luís foram as etnias tupi-guarani e tupinambá. Alguns foram escravizados e outros mortos por franceses e portugueses.

Primeiras populações indígenas da etnia tupiguarani no Maranhão do período pré-colonial na ilha de São Luís e no interior do estado.

As primeiras populações indígenas da etnia tupiguarani no Maranhão do período pré-colonial na ilha de São Luís e no interior do estado foram registradas por meio de testemunhos arqueológicos. De acordo com Deusdédit Carneiro Leite Filho, arqueólogo e diretor do Centro de História Natural e Arqueologia do Maranhão, a ilha e o continente já eram ocupados por diferentes levas de grupos indígenas, duzentas gerações antes da chegada dos primeiros europeus em terras maranhenses. Essas populações tupiguarani eram formadas por horticultores e ceramistas de origem amazônica que compartilhavam um tronco linguístico comum.

Deusdédit Carneiro Leite Filho, explicou que esses grupos originalmente se dispersaram e teriam se divididos em duas rotas de migração: a que desceu a partir do Rio Madeira, Rondônia há mais de 1000 anos. E a dos portugueses que teriam chegado ao litoral do Maranhão vindo pela calha do Rio Amazonas ou pelo Sul da Amazônia Oriental, seguindo o fluxo natural dos rios do interior do estado.  “Quando os europeus chegaram ao Brasil eles se encontraram com os tupiguarani em São Paulo. Mas quando aportaram em São Luís no século XVI, o grupo majoritário eram os tupinambás que estavam presentes em quase todo o litoral maranhense.  Existem hiatos, no caso específico do Maranhão. Mesmo com a presença dos tupinambás na época, provavelmente o grupo hegemônico em São Luís eram os Tremembé, segundo mostra a pesquisa “Senhores de Areia”, de autoria da professora de história e arqueologia, Jóina Freitas, da Universidade Federal do Piaui. A pesquisadora  que é doutora em História Social pela Universidade Federal Fluminense (UFF),trabalhou a história dos Tremembé no Piauí, Maranhão e Ceará, estados onde ocorreram uma incidência maior dessa etnia”, explicou o arqueólogo.

Os tremembé ocupavam o litoral centro-oriental do Maranhão até a baia de Turiaçu. Os grupos tupinambá inimigos dos tremembé reocuparam parte da região em meados do século XVI, tornando-se senhores absolutos da ilha de São Luís (Upaon-Açu) até a chegada dos franceses á região.   O arqueólogo revela que existe datação do continente de nove mil anos de arqueologia dos caçadores-coletores , que eram grupos que não viviam aldeados. E na ilha de São Luís, ocupação de sambaquis na faixa de seis mil anos, que eram grupos de caçadores-coletores pescadores que formavam montículos de restos de conchas que viviam em cima. Especificamente aqui em São Luís um achado do Alto do Calhau que é muito importante com relação a presença dos tupiguarani que tem a datação de  1.250. Ou seja, 250 anos antes da chegada dos europeus.

A ocupação europeia efetiva do Maranhão aconteceu a partir de de 1612 na ilha de São Luís ocorreu quando uma expedição francesa estabeleceu no local um núcleo de povoamento a partir da construção de um forte que denominaram “Saint Louis”. De início construíram o forte de Saint Louis com a ajuda dos índios para defesa e alteraram o nome da ilha de Upaon Açu para São Luís, em homenagem ao rei Luís XIII da França. A ideia da França Equinocial, cobiçada desde 1604 por Henrique IV, parecia alcançada com Daniel de La Touche, senhor de La Ravardière.

27 aldeias espalhadas pela ilha

Vale ressaltar que no século XVI algumas regiões no nordeste já apresentavam centros urbanos mais estruturados, como Bahia e Pernambuco, o mesmo não ocorreu com a região norte onde a demarcação do território ainda estava incipiente, o que atraia e facilitava a presença de corsários – principalmente holandeses e franceses – praticando o escambo com os índios. Dentro deste cenário encontrava-se o Maranhão, dividido pelos portugueses em duas capitanias hereditárias pelo Tratado de Tordesilhas (1534). Apesar do objetivo de ocupação e colonização pela coroa portuguesa – com várias tentativas fracassadas – foram os franceses com Daniel de La Touche que fundaram a cidade em 1612.

Deusdédit Carneiro Leite Filho revelou que até 1612, a região era habitada por um aglomerado de aldeias, com o nome de Tapuitaperana, pertencente a Capitania de Cumã, que foi uma divisão administrativa do Brasil Colonial, tendo existido entre 1627 e 1754, sendo por vezes chamada de Capitania de Tapuitapera e conhecida também pelo nome de Alcântara. “Quando os franceses que chegaram ao Maranhão, liderados por Daniel de La Touche, estabeleceram relações com essas aldeias, construindo a primeira capela. Quando os franceses se estabelecem oficialmente em 1612 em São Luís, tinha uma realidade de 27 aldeias de tupinambás e um tanto parecida em Tapuitapera e Cumã e Caetés no Pará. “Calcula-se que para esta região de São Luís existiam cerca de 30 mil tupinambás na época dos primeiros contatos dos franceses com esses indígenas”, esclareceu o arqueólogo. Segundo Deusdédit Carneiro Leite Filho, os tupinambás sempre foram aliados dos franceses, apesar de ser uma sociedade guerreira. “Nós não podemos esquecer também que todo mundo era violento naquela época, os europeus muito mais, mas os grupos indígenas são sociedades guerreias que brigavam pelos seus territórios. É claro que com o poder de letalidade bem menor, por conta de seus armamentos e de sua forma cultural de brigar [lança, arcos, flechas e zarabatanas], de acordo com os relatos dos primeiros europeus”, explicou o arqueólogo afirmando que temos que dar um desconto por conta da visão dos europeus falando dos indígenas maranhenses, diferente do caso do México, onde os próprios índios contaram sua história.

Revoltas indígenas marcaram a ilha

Em janeiro de 1617, na região do Maranhão, espalham-se rumores de que os colonizadores iriam escravizar todos os índios. Próximo à cidade de São Luís do Maranhão e nos arredores da fortaleza de Cumã, um índio de nome Amaro leu em voz alta uma carta que revelava uma conspiração portuguesa para generalizar o cativeiro na região. Em reação à notícia, no mesmo dia a fortaleza foi invadida. Nos meses seguintes o núcleo rebelde faz contato com outras nações indígenas que, ao longo de quatro anos, tornaria a resistência generalizada na região. A repressão portuguesa não tardou: os principais envolvidos foram mortos e os demais índios escravizados.  “Em uma dessas viagens para levar correspondência até Alcântara ele leu o documento na qual era permitido usar a mão de obra indígena, e por conta disso, os indígenas atacam a feitoria matando diversos portugueses. O fato ficou conhecido como a Revolta de Amaro. Foi ai que Bento Maciel Parente [explorador, sertanista e militar português] começou um processo de revanche do Maranhão até o Pará, massacrando os povos indígenas que encontrava pela frente. Tanto na revolta de Amaro quanto na de Guaxenduba morreram milhares de tubinambás”, ressaltou Deusdédit Carneiro Leite Filho, afirmando que o processo de colonização da ilha de São Luís foi muito violento em todos os sentidos, o que gerou diversos conflitos.

Um outro problema apontado por Deusdédit Carneiro Leite Filho, e que é pouco falado na historiografia do Maranhão está relacionado aos primeiros 150 anos de colonização dos portugueses em São Luís, na qual  especificamente a mão de obra indígena foi bastante utilizada. O arqueólogo explicou que apesar de existir na época uma série de decretos e posturas regulamentando essa escravidão, os portugueses faziam o uso do conceito de “guerra justa” quando tinham algum problema de entendimento com os povos indígenas. “Os portugueses promoviam perseguições, matavam, e dizimavam os indígenas. É uma história marcada por muito sangue. Por conta disso, muitos indígenas se evacuaram dessa região, ficando somente alguns remanescentes. Inclusive, hoje temos até comunidades de famílias requerendo o reconhecimento de serem descendentes dos tupinambás no município de Guimarães. Mas os tupinambás históricos foram para uma ilha chamada Tupinambarana onde é hoje, Parintins no Amazonas”, explicou o arqueólogo.

Deusdédit Carneiro Leite Filho também citou o caso de “Cabelo de Velha” que era um chefe indígena da região de Cururupu, e que participou do “Levante Tupinambá” (1617-1621), no qual ele reuniu diversos grupos indígenas nativos de Belém para travar uma luta contra os portugueses, devido aos abusos cometidos pelos colonizadores ao explorarem a mão de obra indígena. Ele foi morto lá e os tupinambás foram dispersados para diversas regiões do país. Também há relatos históricos, segundo Deusdédit Carneiro Leite Filho de indígenas da etnia guajajara trabalhando na construção do edifício Igreja Matriz de Nossa Senhora da Vitória atual Catedral da Sé. Em 1690, a nova construção do imóvel secular foi projetada pelo jesuíta João Felipe Bettendorf, e levantada com mão-de-obra indígena e inaugurada em 1699.

O projeto da França Equinocial

A cartografia de forma simbólica da cidade desde cedo mostra a ocupação dos portugueses com alguns aldeiamentos que já existiam com os remanescentes dos tupinambás. Deusdédit Carneiro Leite Filho conta ainda, que logo após os portugueses já estabelecidos em São Luís, contaram com a ação dos jesuítas e de outras ordens religiosas que agrupavam esses indígenas independentes de etnia, apesar de ter tido toda uma legislação dos próprios portugueses protegendo os indígenas. “Com a chegada da iniciativa privada, os próprios jesuítas utilizavam os indígenas massivamente como obra de mão escrava” ressaltou o arqueólogo.

A chamada França Equinocial (1612-1615) se caracterizou pela tentativa de instauração de uma colônia francesa na parte norte dos territórios portugueses na América. Neste período fundaram o forte de São Luís, o qual originou São Luís, capital do Maranhão. ”O projeto da França Equinocial não foi um projeto aventureiro. Foi uma coisa pensada. Tanto é que quando os franceses chegam aqui, eles encontram três navios franceses e são recebidos com um jantar francês feito pela elite do grupo. São Luís já era um porto bastante frequentado pelos franceses que comercializavam no litoral do nordeste inteiro, principalmente na costa leste-oeste do Maranhão para Amazônia. Esses comerciantes franceses já tinham uma estratégia. Antes de seguir viagem eles sempre deixavam algum francês geralmente de família mais pobre, os grumetes que vinham nos navios. Muitos deles casaram com indígenas maranhenses. Era uma forma deles dominarem a língua local para praticar o comércio de forma mais efetiva, Foi um processo longo por conta da ausência do poder português nessa região toda”, revelou Deusdédit Carneiro Leite Filho

Cientes da presença francesa na região, os portugueses reuniram tropas a partir da Capitania de Pernambuco, sob ordem de Alexandre de Moura e comando de Jerônimo de Albuquerque. Em Guaxenduba, na região do Munim, ocorreu a Batalha de Guaxenduba, vencida pelos portugueses, embora os franceses estivessem em vantagem numérica e de infraestrutura. Os reforços solicitados pelos franceses não chegaram a tempo, encontrando-se a França envolvida em questões dinásticas. Ou seja, os portugueses, conquistaram o Maranhão em 1615.

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