Fila do transplante

Quase 1.000 à espera de uma nova vida

O dia 27 de setembro é designado como dia do doador de órgãos.

Foto: Divulgação

“Meu nome é Lícia Cristina, tenho 25 anos, estou à espera de um rim há 7 anos. Há 7 anos fazendo hemodiálise e há 7 anos esperando para ter uma vida melhor”. Foi assim que Lícia se apresentou à reportagem. Ela é uma das 252 que estão na fila por um transplante de rim. “Meu sonho é fazer uma das coisas mais simples da vida, que é beber água”, completa.

Meu sonho é fazer uma das coisas mais simples da vida, que é beber água

Lícia Cristina. (Foto: Arquivo Pessoal)

Estou à espera de um rim há 7 anos. Há 7 anos fazendo hemodiálise e há 7 anos esperando para ter uma vida melhor

A Central Estadual de Transplantes (CET-MA) apresentou ontem a situação das doações de órgão no estado. De janeiro até agosto deste ano ocorreram 3 doações efetivas. Os 3 doadores doaram rins, 1 doou fígado e os 3 doaram córneas também.

O mês de setembro é considerado o mês da doação, considerando que o 27 de setembro é designado como dia do doador de órgãos.

O CET, que é o órgão da Secretaria de Estado da Saúde responsável por coordenar e regular todas as ações relativas ao processo doação e transplantes de órgãos e tecidos para transplantes no Maranhão, deu o passo inicial para começar a Campanha Setembro Verde, de esclarecimentos e sensibilização da população quanto ao processo de doação e transplante.

“Com a pandemia houve um impacto no mundo inteiro nesse processo de doação, mas o Brasil agora começa a respirar novos ares e a gente está achando que há uma luz no fim do túnel. Tivemos uma doação no mês de agosto, e no primeiro semestre 2 doações, então isso é um alento para a gente. Com a campanha, essa sensibilização acontece e até dezembro teremos indicadores melhores”, pontuou a coordenadora do CET-MA, Maria Inês de Oliveira.

Maria Inês de Oliveira, coordenadora do CET-MA. (Foto: Arquivo Pessoal)

O Brasil agora começa a respirar novos ares e a gente está achando que há uma luz no fim do túnel

Até 31 de agosto, a lista de espera para transplante no Maranhão contava com 252 pessoas para rim, 5 para fígado e 727 para córnea, totalizando 984 pessoas que esperam por uma doação. Segundo Maria Inês, a doação de córnea é uma doação simples, mas que falta notificações dos hospitais para que o Banco de Olhos consiga entrevistar as famílias que perderam um ente querido. “A família entende que quando doa, se sente bem em um momento de dor, A doação é revestida de desprendimento, é um ato de amor que leva a pessoa a atenuar esse sofrimento, a resignificar a perda.  Com aquela córnea que será doada, por exemplo,  eu posso fazer outra pessoa voltar a enxergar o mundo. E isso só se faz com informação, com sensibilização”. Em 2014, o número de transplantes de rim no estado, foi de 34, saltando para 61 em 2015, caindo para 25 em 2019, e 11 em 2020. Já os transplantes de fígado foram 3 em 2019 e somente 2 no ano passado. Quanto aos procedimentos de córnea executados em 2014, o número era de 117, chegando a 273 em 2018 e reduzindo para 182 em 2020.

A Lícia, nossa personagem acima, não vê a hora de entrar na lista de transplantados. Ela contou que esteve prestes a fazer o transplante, foi chamada, mas ficou em terceiro no quesito de compatibilidade. Foi aos 18 anos que ela descobriu que tinha os rins atrofiados. Desde então, são sessões semanais de hemodiálise, quatro horas por dia em uma máquina, e uma vida muito restrita. “Preciso de um transplante, é muito preocupante, desgastante, é uma vida muito regrada e dependente. Quem puder doar, doe. Seja mais solidário. Às vezes aquele ente querido que se foi sempre vai estar vivo em outro lugar. Você vai salvar outra vida”, pediu.

“Dois anos depois, uma vida de liberdade”

Fernanda Oliveira. (Foto: Arquivo Pessoal)

A advogada Fernanda Oliveira, de 26 anos, recebeu um transplante de rim há 2 anos. Dos 19 aos 24 anos ela esperou por um doador que fosse compatível e foi uma vida de privações e de incertezas. A formatura dela ocorreu em meio às sessões de hemodiálise. “Foi muito complicado, eu estava no meio da faculdade. Tive que interromper até ficar estável e retomar com uma sobrevida de restrições hídricas, alimentares, Hoje tenho liberdade de tudo: de comer, de beber e sobretudo, tenho esperança no futuro”, disse

Sobre a doação e as milhares de pessoas no mundo que ainda esperam por essa ação do bem, ela pede que quem tem interesse em doar deixe sua família informada sobre o desejo, e quem ainda não tem… “A doação é segura. A sua vida pode continuar e você pode perpetuar a vida de alguém. Salvar uma vida, dar qualidade de vida, proporcionar que alguém respire bem, que possa beber água de novo, sobreviva e viva uma vida feliz por meio de um ato de amor seu”.

Campanha

Para a população em geral a campanha tem como objetivo ações de sensibilização quanto à importância da doação de órgãos e tecidos para transplantes, informando sobre a segurança do processo, a obrigatoriedade da autorização familiar para a doação e por esta razão, da importância de cada um deixar claro para os familiares que quer ser doador, pois só eles terão o poder de dizer um “SIM” para a doação. Segundo a coordenadora da Central, as visitas aos templos religiosos vão retornar assim que possível, porque a maioria das negativas quanto ao transplante se dão por questões religiosas. No ano passado foram 68% de negativas nas entrevistas para transplantes e a maioria foi por motivos religiosos. “A gente explica que a doação não mutila a pessoa. O corpo é entregue condignamente reestabelecido para a família. É um apelo que faço, que reflitam, que cada um de nós tem um papel nesse processo. A dor não pode impedir a gente de fazer o bem”, disse Maria Inês.

No caso de doação de córnea, a coordenadora explica que tem doações de coração parado que é a pessoa que sofre infarto, ou que morreu abruptamente em um acidente. Todos podem ser avaliados para doação, desde que a família aceite a proposição de ser uma família doadora. E caso a família queira fazer a doação e não tenha sido abordado sobre o assunto no momento da perda, é só procurar o serviço social do hospital para manifestar o desejo da doação.

Na rede estadual de saúde, as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), a Maternidade de Alta Complexidade do Maranhão (Macma) e o Hospital Dr. Carlos Macieira (HCM) estão entre as unidades hospitalares notificantes para doação de órgãos. Outros hospitais são: Socorrão I, Socorrão II, Hospital Universitário UFMA, Hospital São Domingos, Hospital UDI, Hospital Guarás, Hospital São Luiz, Hospital da Mulher.

Número de doadores efetivos no MA

  • 2018 – 14
  • 2019 – 10
  • 2020 – 7
  • 2021 – 2

Número de procedimentos 2019-2020

  • Rim – 25-11
  • Fígado – 3-2
  • Córnea – 200-162
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