Dia Mundial do Rock

De inspiração à superação, nomes do rock maranhense contam suas histórias com o ritmo

Em entrevista, Nyelson Weber, de 42 anos, e André Nadler, de 33 anos, fazem uma análise sobre o estilo musical no cenário atual.

O dia é comemorado em todo o Brasil nesta quarta-feira (13). (Foto: Pixabay)

Nesta terça-feira (13), é comemorado o Dia Mundial do Rock. A data foi criada em 13 de julho de 1985 pelo cantor e compositor inglês Phil Collins em momento de empolgação durante apresentação no festiva internacional Live Aid.

No Brasil, a data criou força e é comemorada em grande estilo anualmente em diversas cidades do país. Devido ao segundo ano da pandemia da Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, festivais e shows não estão sendo realizados para celebrar o rock’n’roll.

O Imparcial convidou dois nomes da cena do rock na capital maranhense para falar sobre como o ritmo passou a ser, não apenas um ritmo, mas um estilo de vida.

Nyelson Weber. (Foto: Arquivo Pessoal)

Nyelson Weber, baixista e vocalista da banda Tanatron, de 42 anos, conta que começou a ouvir rock no início de sua adolescência, vendo as bandas brasileiras na TV.

“Com amigos da minha rua, quando morava no bairro do Cohatrac, em São Luís, montamos uma banda com instrumentos feitos em casa. A bateria era de latas de leite e as guitarras de madeira e linha nylon, mas era uma brincadeira”, relata o rockeiro.

O músico conta, ainda, por volta de seus 12 anos, ele teve contato com o rádio, quando passou a ouvir rock na programação local e conheceu mais bandas e estilos do ritmo.

“Na escola, já com uns 14 ou 15 anos, conheci o Weeslem Lima, baterista da banda, e com ele trocava vinis emprestados para gravar as fitas e ouvir em casa. Lá, começou a amizade que tenho até hoje, e que mais tarde formaria também a Tanatron”, relembra o baixista e vocalista da banda.

“De lá para cá, tive a oportunidade de viajar para ver várias bandas que nem imaginava ver quando era adolescente. Através do Rock, conheci várias cidades e fiz muitos amigos, além de ter fundado uma loja especializada no segmento”, finaliza Nyelson.

Banda Tanatron. (Foto: Divulgação)

Durante sua trajetória no rock, o rockeiro teve muitas referências. Nyelson conta que, aqui em São Luís, ficava admirado vendo shows de bandas como Ânsia de Vômito e Ácido quando era adolescente, além de Iron Maiden, Kreator, Slayer, Sepultura, Krisiun, entre outras.

“O que mais me chamava a atenção era a atitude no palco, o trabalho bem elaborado, a contestação aos dogmas da sociedade, a possibilidade de se expressar de maneira não convencional, entre outras. E quando via aquelas bandas, já sonhava em estar nos palcos também”, expressa o rockeiro.

Em relação ao cenário atual do rock na capital maranhense, Nyelson afirma que não há como avaliar o cenário positivamente durante a pandemia, mas que antes, os rockeiros de São Luís estavam vivendo bons momentos.

“Acredito que estava sendo um dos melhores momentos que presenciei, pois na última década diversas bandas conseguiram gravar ótimos álbuns, lançá-los em nível nacional, fazer turnês pelo Brasil, América Latina e Europa”, conta Nyelson.

O rockeiro relata que há um reconhecimento muito importante por parte do público em São Luís e que todo esse momento tem como base a vontade e profissionalismo cada vez maior das bandas,

“Além disso, foi proporcionado por um suporte que anos atrás não existia ou era muito escasso, como estúdios de ensaio, estúdios de gravação e técnicos de som especializados no estilo”, afirma Nyelson.

Nyelson lembra que a internet, que antes nem existia, passou a ser uma ferramenta essencial de divulgação dos trabalhos das bandas e aproximação com o público.

“Vejo que atualmente as portas do mundo se abriram para as bandas e o público consegue conhecê-las com muito mais facilidade que antes”, finaliza o músico.

Nyelson afirma que, apesar da popularização do rock e das conquistas das bandas e músicos, o ritmo ainda é muito marginalizado e o Maranhão ainda não tem uma cultura tão forte, como em outras países.

“Ainda não temos público suficiente para manter uma frequência de eventos e um mercado forte que mantenha as bandas unicamente disso. As bandas de pop e outras mais conhecidas até conseguem, mas as bandas de som mais pesado acabam tendo que conciliar suas carreiras com outras, para se manterem. E aqui não é diferente, ainda mais se compararmos com outras capitais que tem uma tradição de rock”, expressa o rockeiro.

“Ainda há a marginalização do estilo por pessoas que têm preconceito com o Rock e também uma espécie de sazonalidade de público, que em boa quantidade, deixa de comparecer aos shows à medida que vai entrando na vida adulta. O público dos shows precisa sempre estar se renovando”, finaliza.

Nyelson Weber deixa um recado para os novos rockeiros da Ilha. O músico afirma que nos últimos anos a cena tem se renovado muito com ótimas bandas e a maioria delas formadas por músicos novos, que chegaram com muita garra e vontade.

“Esses novos talentos têm aproveitado as possibilidades que as tecnologias oferecem, como aulas online, programas de gravação em casa, mais escolas e professores, para lançarem ótimos trabalhos e com profissionalismo cada vez maior. Espero que após a pandemia mais e mais talentos apareçam para renovar e nos apresentar grandes trabalhos”, deseja o músico.

Superação no Rock

André Nadler, jornalista e vocalista das bandas Jackdevil e Basttardz, de 33 anos, conta alguns dos melhores começos surgem após os piores finais. O rockeiro relata que encontrou o rock n’ roll em uma das épocas mais difíceis de sua vida, quando ainda tentava entender a morte de seu pai e uma crise financeira na família que fez ele e seus familiares conviverem com problemas de saúde até passar fome.

“Aos 14 anos lembro de ter ouvido na casa de um amigo algumas bandas como Iron Maiden e Black Sabbath através dos discos do pai. Não demorou muito pra vir a vontade de ser músico e um ano depois já estava panfletando pelo bairro onde moro para tentar comprar meu primeiro violão, que com uma graninha guardada dentro de uma latinha de Nescau e o apoio das pessoas da minha casa somando com o pouco que podiam, se tornou realidade”, conta André Nadler.

André Nadler. (Foto: Arquivo Pessoal)

Aos poucos, o rockeiro foi construindo seu caminho no cenário, quando começou a tocar em bandas da capital maranhense. Em 2011, André Nadler montou a Jackdevil com Renato Speedwolf, baixista da banda.

“Acredito que foi com esse grupo que consegui as maiores conquistas no campo artísticas. Lembro que no começo de tudo eu e meus companheiros imaginávamos que já seria muito pra gente se a banda tocasse em festivais aqui em São Luís e conseguíssemos, quem sabe, abrir para alguns artistas de fora”, relata o rockeiro.

“A gente mal sabia que íamos ter turnês pela Europa, América Latina e uma rota de shows que passou por quase todos os estados do Brasil ao longo de dez anos de trabalho, muito árduos, mas com momentos que devo carregar pra vida toda e que espero contar com muito orgulho para os meus netinhos”, finaliza.

André Nadler, atualmente, também está trabalhando com a banda Basttardz, um quarteto de hardcore que trabalha com música de protesto e a arte como forma de falar sobre os problemas sociais que vivemos. Durante a pandemia, o grupo lançou o primeiro álbum, o Brasil com Z, e participação em várias lives a nível nacional. 

Banda Basttardz. (Foto: Divulgação/Rogério Sousa)

Sobre suas referências, André Nadler afirma que o próprio Nyeson Weber (citado acima) foi uma inspiração na sua trajetória no rock. Além de Adalberto “Playmobil” Jr, da Cremador e T.A Calibre 1, também maranhense.

“São dois nomes que me influenciaram bastante quando comecei, pois foi assistindo as apresentações deles aqui na capital maranhense que aprendi muitas coisas, que vão desde uma postura artística calcada na humildade até a importância da mensagem que a banda de rock passa em cima do palco”, expressa o rockeiro.

“Um outro nome que não poderia deixar de fora é o do Renato Speedwolf (Jackdevil/Evilcut). Um dos maiores baixistas do Maranhão e figura fundamental para a realização de vários eventos e momentos importantes da cena local”, finaliza.

André Nadler chama atenção para alguns fatores que podem estar contribuindo para o cenário não ter tanta força, como o aumento nos preços dos instrumentos durante a pandemia, ou até mesmo a própria geração de jovens e adolescentes que está mais anestesiada com os efeitos da tecnologia e menos rebelde.

“Da época que comecei para os dias atuais, também posso dizer que várias coisas melhoraram. As gravações de estúdio estão mais profissionais e com uma qualidade melhor, as estruturas dos shows são mais profissionais,as bandas daqui cresceram e algumas figuram o cenário nacional”, relata o rockeiro.

Já sobre as dificuldades de trabalhar com rock em São Luís, André Nadler afirma que indiscutível que no sudeste/sul as coisas acontecem com mais estrutura e suporte para quem trabalha no estilo musical e a capital maranhense acaba ficando muito distante desse eixo.

“Por muito tempo, até comprar um instrumento ou mesmo uma camisa de rock era algo complicadíssimo para a gente. A falta de mais casas de shows e de reconhecimento do público em geral também são alguns pontos que poderíamos levar em consideração”, conta o rockeiro.

“Do fã que leva o estilo de vida da música pesada até os artistas que compõem a cena maranhense, vejo até como um ato de resistência se manter fiel ao rock n’roll mesmo com tantas adversidades que existem por aqui”, finaliza.

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