Pioneirismo na história
O jornal mais antigo do Maranhão chega aos 95 anos sempre antenado com as modernas tecnologias e se adaptando ao mercado da comunicação
Foi no casarão de número 46, da Rua Afonso Pena, que o Jornal O Imparcial, que neste 1º de maio completa 95 anos de fundação, funcionou grande parte da sua existência, de 1930 a 1996, portanto, 66 anos. A primeira sede do jornal, em 1926, foi na Avenida Magalhães de Almeida, nº 6. Em junho de 1928 passou a funcionar na rua Afonso Pena, nº 3. Em outubro de 1930, mudava-se para mesma rua, para o prédio 46, permanecendo lá até 1996, quando o jornal passou a funcionar no São Francisco, na Avenida Castelo Branco, onde permaneceu até o ano o final da década de 2000. Em 2001, a sede do jornal passou a funcionar perto dali, no Renascença II, em um imóvel imponente e moderno, onde abrigava o parque gráfico. Em 2019, nova mudança: a redação e a parte administrativa passaram a funcionar no Edifício Tech Office, na Ponta D’Areia. O parque gráfico continua na sede do Renascença.
Mas por que abrir a matéria com essas informações? Para mostrar ao longo desse texto, que as mudanças físicas da sede dão a mesma tônica das mudanças no jornal O Imparcial ao longo de quase 1 século de existência. Atento às novas tecnologias no processo de fazer jornal, antenado em se adaptar ao processo de transformação do mercado para se manter nele, e o mais importante, preocupado em manter a tradição do jornalismo sério com que sempre foi pautado, continua tendo credibilidade, sendo crível, objetivo, moderno e ao mesmo tempo tradicional.
Nesses 95 anos, o jornal viveu todas as transformações tecnológicas na sua parte gráfica, até chegar ao modelo gráfico que tem atualmente, sendo algumas vezes pioneiro em adotar certas inovações. Se hoje, com apenas um botão é possível enviar o jornal para ser impresso (ou rodado, como se diz mais comumente) em uma velocidade absurda, antes esse processo era muito mais trabalhoso.
No casarão 46 da Rua Afonso Pena, O Imparcial funcionava com uma estrutura gigantesca para entregar o produto final ao leitor. No térreo funcionavam o departamento comercial, o parque gráfico (linotipia e impressão) e a distribuição. No andar cima, funcionava a diretoria, redação, diagramação, composição a frio, arquivo, setor de documentação, tesouraria, laboratório fotográfico e laboratório fotomecânico. No terceiro piso funcionavam os setores financeiro e pessoal e no último andar, o mirante. Esse casarão prestes a abrigar o Museu da Imprensa Maranhense, antes abrigou muitas histórias.
O jornal foi o primeiro a introduzir o linotipo (um aparelho de composição mecânica, provido de teclas e que se caracterizava pela fundição e composição de caracteres formando linhas inteiras), a máquina de escrever na redação, e em 1974, aderiu à impressão offset.
Usada até 1966, a composição a quente dava uma estética pouco harmônica, muito verticalizada e com manchas na impressão. A partir desse ano, a empresa se torna pioneira na impressão em offset, após renovar o parque gráfico com a aquisição de uma rotativa offset, o que aumentou a tiragem e a qualidade das reproduções. Segundo o diretor-presidente do Grupo O Imparcial, Pedro Freire, “o sistema offset deixou o processo de impressão do jornal mais ágil, passando de uma capacidade de impressão de cinco mil exemplares por hora para 40 mil”, disse.
O jornalista José de Ribamar Rocha Gomes, o Gojoba, trabalhou em O Imparcial por 30 anos (de 1969 a 1999), onde começou como secretário de redação, na sede da Rua Afonso Pena. Na época, a impressão era quente e era necessário pelo menos 100 pessoas para colocar o jornal nas ruas, entre jornalistas e técnicos. Algumas dessas profissões com o tempo ficaram obsoletas no jornal, como linotipista, chapista, retocador, tipógrafo. O trabalho começava pela manhã, para estar pronto no fim da noite. “Era tudo analógico. Quando chegou a composição offset, foi o primeiro jornal a adotar esse sistema e foi no aniversário do jornal, com uma grande festa. A partir do offset a gente veio para o telex.
Ainda na Afonso Pena, começou um trabalho de sair do analógico para o digital, com a aquisição de computadores. Parte da redação começou já a operar, mas a maioria era para impressão. Foi o início do processo de composição a frio. O repórter fazia a matéria na máquina de datilografia, ia para o diagramador que diagramava na rama e dali, ia para o digitador, depois para a revisão, e em seguida para a composição da página”, disse.
Gojoba lembra que passou por toda a transformação do jornal, desde o tipo móvel, até o digital. “A evolução passa por pessoas também, hoje 3, 4 pessoas fazem um jornal. Dá para fazer de qualquer lugar, antes não se podia fazer isso, não se tinha essa facilidade móvel. E isso possibilitou o jornal estar vivo até hoje. Não acredito que vá acabar jornal de papel, há muito tempo se fala disso e o jornal impresso está aí vivinho porque o que se trabalha no impresso é o que há por trás daquela notícia. É a notícia aprofundada”, conta Gojoba.