Covid-19

Estudo revela risco da doença em gestantes

No Brasil, o estudo INTERCOVID foi desenvolvido no Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão, pela pesquisadora Dra. Marynea Vale e sua equipe.

(foto: reprodução)

O que sabe de uma mulher que se descobre grávida, é que são aflorados sentimentos que vão da euforia à ansiedade. Isso desde que o mundo é mundo. Mas e em tempos de pandemia, com uma doença tão grave nos rondando e que já causou a morte de milhares de milhares de pessoas ao redor do mundo, como é estar grávida? E quando uma pessoa está guardando outra pessoa no ventre? Como proteger ambos?

“Vivo no medo. Não posso nem pensar em sentir uma dor na garganta”, comentou a advogada Thayse Queiroga, mamãe de primeira viagem. O cenário de encanto da descoberta da gravidez que era o seu sonho, deu lugar ao susto. Ela descobriu que estava grávida no mesmo dia que soube que estava com Covid-19.

“Foi tudo ao mesmo tempo. Na semana que senti os sintomas da Covid, minha menstruação estava um pouco atrasada. Aí fiz os exames e vi que tanto estava grávida, como com Covid. Ou seja, testei positivo duas vezes. Meus sintomas de Covid foram relativamente leves, mas tive que tomar 10 dias de anticoagulante injetável”, contou.

A partir daí, o misto de alegria, ansiedade, medo, esperança e amor, deu a tônica da situação.

“Os cuidados foram redobrados, monitorando a Covid, fazendo exames, consultando com a obstetra. Tive acompanhamento de uma amiga médica que passou exames de 4 em 4 dias para monitorar. Fiquei em contato com a obstetra também até poder ir presencialmente fazer a ultra e ver se estava tudo bem com o bebê. Depois do terceiro mês, com os exames, eu pude curtir melhor esse momento tão esperando por mim e meu marido”, disse Thayse. Thayse e Valonni terão seu bebê no mês de julho. É uma menina e se chamará Giovanna.

Essa questão da gravidez em mulheres infectadas com Covid-19, foi objeto de um estudo publicado na JAMA Pediatrics, sob a coordenação de pesquisadores da área perinatal da Universidade de Oxford, e que fornece informações detalhadas sobre os efeitos do Covid-19 na gravidez. O estudo INTERCOVID revela risco aumentado de formas graves da Covid-19 para mulheres grávidas infectadas e sintomáticas, com SARS-CoV-2.

Foi o que ocorreu em Imperatriz, com a estudante Luana Gurgel, de 24 anos, qu faleceu vítima de complicações da Covid-19. Ela estava grávida de 8 meses do primeiro filho, quando testou positivo para a doença, em Imperatriz, e morreu poucas horas após dar à luz o pequeno Bento.

Segundo familiares, Luana sentiu os primeiros sintomas no dia 15 de fevereiro, chegou a fazer o teste, que deu negativo, mas com os sintomas se agravando, resolveram fazer um teste em laboratório particular, que deu positivo.

Dois dias após o exame, Luana piorou e precisou ser internada em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI), no Hospital Macrorregional. Posteriormente foi transferida para São Luís. No dia 26, com a piora do quadro, ela teve que ser submetida a uma cirurgia de cesárea. No dia seguinte (27), horas após o nascimento do bebê e devido a complicações da Covid-19, a estudante acabou falecendo. Luana não tinha comorbidade e o bebê Bento, após fazer dois testes, não foi infectado com o vírus.

Estudo revelou risco de complicações de doenças graves

O artigo descreve o trabalho de mais de 100 pesquisadores que concluíram recentemente o estudo INTERCOVID envolvendo 2.130 mulheres grávidas de 43 maternidades em 18 países incluindo os de baixa, média e alta renda, em todo o mundo. O estudo, com mais de 2 mil mulheres grávidas com e sem diagnóstico de Covid-19 revelou que o risco de complicações de doenças graves, em mães e em recém-nascidos, é substancialmente maior na presença da doença.

Cada mulher acometida por Covid-19 foi comparada com duas mulheres grávidas não infectadas (controles), no mesmo período e hospital. No Brasil, o estudo foi desenvolvido no Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão, pela pesquisadora Dra. Marynea Vale e sua equipe, composta pela Dra. Patrícia Marques, as enfermeiras Ana Cláudia Garcia Marques e Rebeca Aranha Arrais Santos Almeida, sob a coordenação da Professora Dra. Maria Albertina S. Rego, da Universidade Federal de Minas Gerais.

No artigo, os pesquisadores concluem que o risco para mães e crianças é maior do que se pensava no início da pandemia, e que as medidas prioritárias de saúde devem incluir mulheres grávidas. “Quantificar os efeitos da Covid-19 na gravidez com dados robustos é importante para assegurar o melhor cuidado possível e que recursos de saúde, como vacinas, sejam alocados oportunamente”, pontua o artigo.

“Mulheres com Covid-19 durante a gravidez estavam em maior risco de complicações na gravidez, como parto prematuro e pré-eclâmpsia, demandando admissão em terapia intensiva com risco aumentado de morte. Os recém-nascidos de mulheres infectadas também estavam em maior risco de doenças graves e complicações, principalmente devido à prematuridade”, concluem os autores.

Stephen Kennedy, Professor de Medicina Reprodutiva da Universidade de Oxford, que co-liderou o estudo, conclui: “agora sabemos que os riscos para mães e recem-nascidos são maiores do que o assumido por nós no início da pandemia e que as medidas de saúde conhecidas, quando implementadas, devem incluem mulheres grávidas.

A doutora Marynea Vale relata: “Felizmente, houve poucas mortes maternas; no entanto, o risco de morrer durante a gravidez e no período pós-natal foi 22 vezes maior em mulheres com COVID-19 do que em mulheres grávidas não infectadas.

A professora Maria Albertina destaca os resultados nos recém-nascidos: “cerca de 10% dos recém-nascidos de mães com teste positivo para o SARS-CoV-2 também testou positivo para o vírus durante os primeiros dias pós-natal. E a doutora Patrícia Marques destaca que a amamentação não se associou à infecção. E que os resultados apontam para uma possível associação do parto cesáreo a um risco aumentado de infecção no recém-nascido. “A informação deve ajudar as famílias, pois agora está claro que é necessário fazer tudo o que estiver alcance para evitar a infecção. Também fortalece o caso de oferecer vacinação a mulheres grávidas”.

Casos no Maranhão – O estado tem 2.581 casos suspeitos, de acordo com o último boletim epidemiológico do estado, com 260.305 casos confirmados. O estado passou de 7 mil óbitos. Cerca de 7.032 pessoas perderam a vida para a Covid. Estão descartados 468.375 casos, e 234.573 pessoas foram recuperadas da Covid-19.

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