MODA

Brechó: além do conceito de estilo

O brechó é um mercado que vem crescendo muito, principalmente entre o público mais jovem.

Foto: Reprodução

O brechó é uma das mais antigas atividades comerciais e a sua origem pode ser relacionada ao “mercados das pulgas” na Europa, onde se podia comprar e vender praticamente tudo. Sua primeira aparição foi no século 19, quando um mascate chamado Belchior ficou conhecido no Rio de Janeiro por vender roupas e objetos de segunda mão. Com o tempo o nome se transformou em “brechó”, que acabou sendo traduzido por ‘segunda mão’.

O brechó é um mercado que vem crescendo muito no decorrer dos anos, de acordo com dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), o comércio de artigos usados teve alta de cerca de 70% em quatro anos. Principalmente entre os jovens, se antes ele faziam parte de apenas 1% de que investiam e quase o dobro de quem consumia, hoje esses números triplicaram, pois atualmente a maioria dos jovens tem esse mercado como uma forma de ganhar um dinheiro extra e ter o seu próprio negocio. Mas como todo mercado tem seus desafios, principalmente para quem é incitante, pois tem o processo de entender quem é o seu público e quais são os seus gostos.

Lívia Teixeira, com apenas 19 anos, sempre foi adepta de usar roupas de brechó e quando precisou de uma renda extra, viu o brechó como um negócio rentável, por ser algo que já conhecia e de seu convívio. Logo surgiu o ‘Canto Retrô’, uma loja on-line que montou junto de sua amiga, que tem o foco em vender roupas usadas, mas uma pegada vintage. “Eu já uso roupas de brechós tem uns três anos, e em uma conversa com uma amiga sobre brechós, nos acendeu uma luzinha e começamos estudar qual a melhor maneira de começar um negócios voltado para ele. E foi super válido e conveniente, pois investimos pouco em algo que nos fez lucrar bastante (…) Investir em brechó no início pode ser um tiro no escuro, pois você ainda está construindo a sua persona e definindo o gosto do seus cliente, e pode muitas vezes não conseguir o resultado esperado” afirmou.

Desta forma, compras em brechó possibilita a economia, que pode ir até 80% em relação às lojas tradicionais, mas além do preço barato e de ter roupas bacanas é uma forma de dar vida útil a essa peça que pode parar no lixo e prejudicando o meio ambiente. Pois, quando ocorre a fabricação de roupas através dos fast fashion (grandes fabricantes), muita energia é consumida ao longo dos processos de lavagem, dimensionamento, branqueamento, enxágue, tingimento, impressão, finalização e tudo isso prejudica o meio ambiente. Uma vez que o consumidor não mais deseja as peças de vestuário, vai ser necessário energia para destiná-las adequadamente. Logo, comprar em brechós vai evita que roupas usadas parem em aterros sanitários e também poupa a energia que seria necessária para fabrica-las.

“O brechó entra como moda Slow, pois recicla muitas roupas que poderiam ser descartadas diretamente no meio ambiente o que é super importante para a sustentabilidade, principalmente se tratando do cenário atual ambiental que vivemos atualmente”, disse Livia.

Slow Fashion X Fast Fashion

Os lançamentos das coleções e semanas de moda servem com um parâmetro do que vai ser tendência. Anteriormente, quando se via algum modelo nas passarelas, logo após as costureiras os reproduziam. Entretanto esse processo demorava bastante, pois tudo era feito à mão. Com a revolução industrial, a moda também passou por mudanças, principalmente na forma de ser fabricada.

A produção começou a ser em larga escala e as coleções das passarelas, logo estavam nas lojas. Este foi um impulso para a moda que foi evoluísse, até que em 1990, vimos o surgimento das fast fashion, que nada mais é do que uma moda rápida, tanto em relação à produção quanto para o consumo. Com a fast fashion a produção começou a ser em larga escala. As coleções são sazonais, ou seja, são lanças a cada estação por ser uma produção rápida, o consumo é da mesma forma, entretanto, essa mesma moda, sai muito rápido de circulação para dar espaço a outra coleção. Além dos impactos sociais em países de terceiro mundo, trás impactos no meio ambiente.

Todo ano, cerca de 500 bilhões de dólares são jogados no lixo em roupas, que não foram usadas. Cerca de 100 mil toneladas de roupas saem todos os anos do ocidente e vão parar em países como a Índia, onde são recicladas e revendidas como cobertores. Porém, uma parte dessas roupas não tem esse mesmo destino e param em grandes aterros sanitários, poluindo o meio ambiente.

Desta forma, o slow fashion surge como uma alternativa de moda sustentável na globalização. O slow é uma maneira de ir contra à indústria globalizada e sua forma de padronização da moda, a partir da produção em larga escala das fast fashion. Contudo, pensar em slow fashion não é só aderir o modelo de se vestir com roupas sustentáveis, mas pensar em consumo, que ao invés de comprar, pensar reutilizar o que já possui, se torna um grande impacto. Logo, surgem os brechós para dar uma nova utilidade a essa roupa, que provavelmente será descartada.

“Brechó é muito mais que retorno financeiro, mas também é propagação de uma moda consciente, em que você gera renda e ainda consegue influenciar a moda sustentável”, afirma a microempreendedora

Mesmo com alta procura que os brechós recebem e até a sua boa visibilidade que ele vem recebendo pela sociedade como uma tendência descolada. Ainda existem pessoas que tem um certo tabu para os brechós, que rotulam a somente roupas fora de moda, desgastadas e até que carregam energias pesadas de outras. “Tabu existe sim. Pessoas que criam teorias, como ‘roupas de brechó tem energias negativas’. Mas na medida em que os anos foram passando, as pessoas começaram a repensar mais a questão da sustentabilidade, e com isso o brechó acabou adquirindo visibilidade”, completa Lívia.

Os brechós atuais temos a comercialização de roupas bem conservados, seminovos e com preços acessíveis. Mas além dele ser uma maneira de poder cooperar com um pequeno empresário, que está começando nesse ramo é pensar em um conceito, que vai além do estilo e moda, que preserva o meio ambiente e trás uma nova maneira de se vestir que vai de contra partida ao padrão imposto pelas grandes indústrias.

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