Especialista da dicas para empresas vencerem crise do coronavírus: “Só as criativas sobreviverão”. Confira!
Marcelo Pimenta, um dos principais especialistas em inovação do Brasil, aposta que o mundo será outro após a pandemia. E os criativos sobreviverão.
O inquieto Marcelo Pimenta dedica sua vida profissional e acadêmica há anos a estudar inovação e criatividade. Estudar e estimular empreendedores, empresários e alunos a ser mais inovadores no trabalho e na vida.
Palestrante, professor e empreendedor, ele tem dedicado este especial momento de pandemia e enorme desafio econômico para ajudar empresas e empresários a utilizar a mentalidade inovadora em favor dos seus negócios.
Em conversa com O Imparcial, Pimenta alerta para a importância da criatividade e da resiliência na superação da crise e reforça: se conectar com o cliente para descobrir novas oportunidades é essencial. “O mundo não será o mesmo depois disso. Precisamos de uma mentalidade de crescimento para encontrar oportunidades na adversidade, só as empresas que forem criativas vão conseguir atravessar esse momento”, defende.
Uma novidade!! Marcelo Pimenta estreia neste sábado como colunista de O Imparcial. Irá contemplar nossos leitores com conteúdos ricos em criatividade e dicas empreendedoras todos os fins de semana em nossa SUPER EDIÇÃO. Acompanhe!
O IMPARCIAL – Estamos diante de um momento completamente novo e difícil para maioria dos empresários e empreendedores. Quais habilidades mais eficazes para um empresário vencer este momento?
A habilidade mais importante é a criatividade. Empresas precisam se reinventar. As coisas mudaram completamente, o mundo será outro. É preciso ter a capacidade de desapegar do passado, ser criativo e inventar algo novo. O mundo se transformou e as empresas e os profissionais precisam se transformar. Acredito que a criatividade é o guarda-chuva. Mas precisamos ter a resiliência de poder entender que não dá para desanimar. Temos que encontrar nas dificuldades, nas adversidades, as oportunidades.
O IMPARCIAL – Como uma empresa pode ser mais resiliente?
Usar tecnologias novas, não ficar resistente a videoconferência, compras eletrônicas, novas linguagens, automação. É a resiliência ou resiliência evolutiva. Isso já era cada vez mais verdade e agora se acelerou. A necessidade de desaprender e de reaprender constantemente é importante. Não adianta só aprender coisas novas. Há coisas que não funcionam mais e a gente precisa ter o senso de oportunidade. Por isso, tomar decisões rápidas, sempre focada no ser humano, no cliente, é uma questão importante. A compaixão uma habilidade nesse momento. É um valor que precisa ser recuperado. Muitas pessoas não estavam preparadas e podem está precisando de ajuda.
Desde o início das medidas de isolamento muitos empreendedores se perguntam se é melhor continuar ou não com o foco do negócio na venda. Qual sua opinião sobre isso? É momento de vender e faturar?
Vai depender muito do setor. Existem segmentos que o foco não é na venda neste momento. Pegamos o setor de vestuário, por exemplo. Ninguém está querendo comprar, não tem motivo. Vai ficar chato. Eu criei junto com o Davi Braga (empreendedor) um guia de como inovar e faturar durante a crise. Nós mostramos que ali tem segmentos que você precisa primeiro se conectar com o cliente. Se você tem uma loja de roupas, de vestuário, você precisa se conectar com o cliente para saber se ele está bem, saber como vão as coisas, se a família do cliente está bem, e talvez ele te peça alguma coisa. Mas infelizmente, não adianta você querer vender roupas, por exemplo.
Mas na crise existem oportunidades para outros tipos de produtos e serviços…
Exato. Você tem outros segmentos em crescimento. O da saúde, de máscaras, luvas, alimentos. Nesse caso você pode vender. O importante nesses segmentos é você não ser oportunista, não cobrar mais caro, não querer levar vantagem. Mas você tem que vender. Tem pesquisas mostrando que o aumento da compra de quebra-cabeças, jogos online, delivery de vinho estão crescendo. Você tem segmentos que não há problema nenhum em vender. A questão é não querer ser oportunista nesse momento.
Empresários têm reagido de maneiras diferentes diante da crise. Uns pararam e aguardam o fim do isolamento, outros continuam tentando vender como antes e há aqueles que abraçaram a causa do combate a pandemia e ajudam clientes e comunidades. Como você avalia essas diferentes reações?
Aqueles que pararam e estão de portas fechadas correm o risco de não reabrir ou, quando reabrir, durar poucos dias. Correm o risco do cliente não lembrar dele. Estamos vivendo um mundo novo, isso tem que ficar claro, não iremos voltar ao que era antes. Então essa pessoa que parou, ele desistiu do jogo e ficou fora. Na minha opinião, os melhores estão tentando se reinventar. E quando se reinventa também abraça a causa do combate. Eu prefiro trabalhar com dois cenários: os que estão parados e estagnados, e os que estão se reinventando e abraçam a causa do combate. Porque essas coisas estão juntas. Você precisa se reinventar para combater a pandemia. Não pode ficar parado esperando.
Imagine uma rede de lojas de shopping ou de rua. Ela sempre viveu muito bem do fluxo de oportunidade, com pessoas passando na sua porta e entrando para comprar seu produto. Agora está com suas unidades fechadas e não sabe quando vai retornar as atividades. O que fazer?
A pergunta é “o que deveria ter feito? ”. Nós já lançamos esse guia de Como Inovar e Sobreviver na Crise, há vinte dias, com dicas sobre isso. Vender pelo whatsapp é uma forma de se conectar com o cliente. E começar a ver se o que ela vende faz sentido ou não. Caso não faça sentido, saber se pode prestar algum serviço. Empresas grandes como a Louis Vuitton, Paris, eles estão criando máscaras, não estão mais fazendo bolsas. Temos a WEG, Santa Catarina, faziam motores, agora, estão fazendo respiradores. Se você vende vestidos de festas você tem que fazer máscaras, você tem que fazer alguma coisa nesse momento. Só não fica parado, porque ficar parado pode ser a pior decisão nesse momento.
RESPOSTA 4: 4. Você é um craque em mentalidade inovadora. Num momento tão complexo como esse, há uma mentalidade que se sobressaia em relação a outra? Qual é ela?
Eu acredito que neste momento a questão de Mindset – que a professora Carol Dweck, de Stanford, traz no livro “Mindset. A nova psicologia do sucesso” – é fundamental. Há no mundo empresarial duas pessoas, dois jeitos, duas mentalidades. Uma de mindset fixo, que entende tudo isso como uma desgraça, uma tragédia, que só faz mal, que tem que acabar logo. Ou seja, tenta responsabilizar o externo e se vitimar. Esse é o Mindset fixo. Já o Mindset de crescimento entende que isso é chato, que não estava esperando, mas busca respostas: como vamos superar, como vamos aprender, o que podemos fazer para reinventar os negócios? Essa maneira de pensar é mais eficaz. Ou seja, você precisa encontrar saídas que possa te oferecer oportunidades. Nem todas são fáceis, nem todas vão dá certo, mas é preciso continuar nadando para não se afogar.
E o cliente. Qual deve ser a relação desse empreendedor com o seu cliente? Exige mudanças de postura?
Sim, totalmente. Primeira questão a saber do cliente é “você está bem?”, “sua saúde está bem?”, “sua família está bem?”, essa é a primeira questão. Cuidar da saúde do seu cliente, essa é a mudança de postura mais importante. Depois, relacionado com a pergunta anterior, você usa esse mindset de crescimento pra fazer diferente. Vamos pensar que alguém do Maranhão tem uma agência de receptivos que está parada porque atende clientes de fora. Porém, ela conhece muita gente dentro da sociedade, da comunidade dela. Ela criar alternativas para falar com essas pessoas. Mesmo sendo uma agência de turismo, ela tem outras competências. Pode criar agora uma escola online sobre turismo, de reforço para crianças. Às vezes a pessoa é pedagoga ou professor de matemática, enfim… No contato com o cliente vão surgir oportunidades e você não tem que fechar os olhos.
Muitos empreendedores se veem no dilema de proteger as pessoas ou cortar na carne, demitindo ou suspendendo contratos de trabalho. O que fazer?
O líder, sem dúvidas, ele deve proteger as pessoas, mas ele deve também proteger a perenidade do negócio que sustenta essas pessoas. Um exemplo: uma fábrica com cem funcionários. Se não demitir vinte, ela vai fechar e vão ficar os cem desempregados. Então, às vezes, é para proteger as pessoas que você vai demitir vinte, e vai proteger as outras oitenta pessoas. Mas você não vai desfavorecer as vinte. Ao contrário, vai ajudar elas pagando tudo que pode. Elas podem continuar como terceira ou você pode indicar outro serviço, ou seja, é importante entender que essa escolha deve ser muito sensata. Claro que estou usando sempre o bom senso, não estou querendo que o empregador demita todos para preservar seu dinheiro em caixa. Se você tem condições e tem caixa, deve, com certeza, fazer o máximo para tentar evitar demissões. Mas o que acontece é que a grande maioria das empresas passam por dificuldades, e as vezes é melhor “cortar na carne” para sobreviver, assim como se reinventar.
Para uma empresa tradicional, a adaptação ao home office não é algo simples. Você acha que é possível para empresas sem essa dinâmica de trabalho no seu DNA manterem a produtividade em alta?
Vai depender muito da postura de cada profissional frente a isso, porque a empresa é feita de pessoas. Sem dúvidas, empresas mais tradicionais que não estavam preparadas para a transformação digital e não fazem um trabalho remoto, não trabalham de forma colaborativa. Tem pessoas que estão sendo convidadas ou forçadas a isso agora, vai depender delas, da postura. Acredito que 20% dos empregos em geral vão desaparecer com essa crise. Então, quem tem cem empregados na média vai ficar com oitenta, quem tem dois mil vai ficar com mil e seiscentos. É só um chute, uma generalização, mas eu acredito que seja mais ou menos isso. Então você vai ver que um dos critérios muito levado em conta é essa questão da adaptação; se teve aquele funcionário que foi para casa e reclamou do home office, se tornou improdutivo com o home office. É uma questão de mentalidade. Eu entendo que esses problemas existem e sempre tem como superar esses problemas e não ficar reclamando. Então acredito que esse percentual das pessoas que serão demitidas vão ser aquelas que se tornaram resistentes no sentido de não querer se adaptar.