Irmã Dulce será primeira mulher nascida no Brasil a se tornar santa
A Irmã Dulce será canonizada amanhã (13), pelo papa Francisco, em Roma
A baiana Maria Rita de Sousa Brito Lopes Pontes, conhecida como Irmã Dulce, será canonizada pela Igreja Católica, em Roma, pelo papa Francisco, amanhã (13). Pelo processo de canonização, Irmã Dulce é declarada santa – no caso, ela é a primeira mulher nascida no Brasil a se tornar santa.
Nascida em 1914, em Salvador, dedicou sua vida a cuidar dos mais necessitados da capital baiana até o ano de sua morte, em 1992.
Depois de um longo processo no Vaticano, ela teve seu segundo milagre reconhecido em maio deste ano (a cura de um paciente cego), o que configurou a canonização. Mas sua trajetória foi cheia de percalços e acontecimentos dos mais variados possíveis.
Conheça os milagres da Irmã Dulce
O primeiro milagre atribuído à Irmã Dulce foi a sobrevivência de uma parturiente desenganada pelos médicos, após religiosos e fieis orarem para que a religiosa baiana intercedesse pela vida da paciente.
Segundo os registros usados no processo de beatificação, a mulher foi identificada como a sergipana Cláudia Cristiane dos Santos, que deu à luz ao segundo filho em 11 de janeiro de 2001. O parto ocorreu no Hospital Maternidade São José, em Itabaiana (SE). O local era dirigido por freiras da mesma congregação de Irmã Dulce e não tinha UTI (Unidade de Terapia Intensiva).
Logo após o parto, dizem dois relatórios de médicos que participaram do procedimento, Cláudia apresentou um quadro gravíssimo de hemorragia. Nos relatórios, os médicos afirmam que as possibilidades de tratamento se esgotaram ao longo das 28 horas em que a paciente foi submetida a três cirurgias. Cláudia, contudo, sobreviveu. Pela versão apresentada e que sustentou a beatificação pelo Vaticano, a mudança no quadro ocorreu porque o padre José Almi de Menezes rogou a Irmã Dulce, de quem era devoto, o salvamento da paciente.
Ele pediu que uma imagem da religiosa fosse levada à maternidade. Durante as orações, a hemorragia parou – o que, na associação feita pelos religiosos, se constituiu como o milagre reconhecido pelo Vaticano.
No processo de investigação, o caso foi analisado por dez médicos brasileiros e seis italianos, e nenhum deles encontrou uma explicação científica para a sobrevivência e a recuperação tão rápida da paciente sergipana.
Segundo milagre
O segundo milagre reconhecido pelo Vaticano e que levou à canonização pelo papa Francisco é a cura instantânea da cegueira de um homem de cerca de 50 anos.
O paciente, que não teve o nome divulgado, conviveu com a cegueira durante 14 anos e voltou a enxergar de forma permanente desde 2014. A cura teria acontecido em um dia em que este paciente estava com uma conjuntivite e com dores agudas nos olhos e clamou por Irmã Dulce por uma solução. No dia seguinte, ele teria voltado a enxergar. “Não tinha explicação. Era um paciente que estava cego e que de um dia para o outro volta a enxergar, sem explicação”, afirma Sandro Barral, médico das Obras Sociais Irmã Dulce e que foi perito inicial da causa. O paciente, que antes de ficar cego trabalhava na área de informática, caminhava com a ajuda de uma guia e tinha acabado de receber um cão-guia que havia sido treinado exclusivamente para acompanhá-lo no dia a dia.
Antes de ser encaminhado para Roma, o caso foi analisado por oftalmologistas de Salvador e de São Paulo, que examinaram pessoalmente o paciente e não encontraram explicação para a cura. “Tem uma coisa que é ainda mais espetacular: os exames dele são de um paciente cego. Porque tem lesões pelas quais o paciente não deve enxergar. E ele enxerga”, afirmou Sandro Barral.
O milagre foi avaliado por uma comissão de médicos em Roma, que também não encontrou explicação científica para o acontecimento. Na sequência, o caso foi analisado por uma comissão de teólogos e depois por uma comissão de cardeais.
Veja, agora, alguns fatos e curiosidades sobre a vida de Irmã Dulce:
Indicada ao Nobel da Paz
Em 1988, Irmã Dulce foi indicada ao prêmio Nobel da Paz pelo então presidente do Brasil, José Sarney. A Rainha Sílvia, da Suécia, que é brasileira, também apoiou a candidatura, mas ela não foi a vencedora. Mas o fato foi positivo para seu trabalho ganhar reconhecimento internacional.
De galinheiro em hospital
A religiosa sempre trabalhou para as comunidades carentes que precisavam de ajuda, especialmente atuando junto aos doentes, com seu maior legado: as Obras Sociais Irmã Dulce, que realizam 3,5 milhões de procedimentos de saúde por ano.
Ela, inclusive, ajudou a criar várias instituições, como o Hospital Santo Antônio, que foi construído no local onde era o galinheiro do Convento Santo Antônio.
Em 1949, a religiosa não tinha espaço para abrigar 70 doentes e pediu a sua superiora para levá-los ao galinheiro.
Aos poucos, o espaço foi sendo ocupado até se tornar um dos principais hospitais de Salvador.
Defendeu os operários e fundou escola
Em 1937, com apenas 23 anos, Irmã Dulce fundou, com Frei Hildebrando Kruthanp, o Círculo Operário da Bahia, mantido com a arrecadação de três cinemas que dupla tinha construído com doações e que tinha como finalidade a difusão das cooperativas, a promoção cultural e social dos operários e a defesa dos seus direitos trabalhistas. Anos depois ela fundou uma escola para os operários e seus filhos, o Colégio Santo Antônio.