93 anos de O Imparcial

Histórica força intelectual do estado

Jornalistas que passaram pela redação do jornal O Imparcial, mais especificamente pela editoria de Cultura, contaram um pouco de sua vivência dentro do periódico

Ao longo dos 93 anos de existência do jornal O Imparcial, diversos profissionais que enveredaram em algum momento pelo jornalismo cultural trabalharam no Caderno Impar, que retratada aspectos da vida cultural de São Luís e de outras cidades do Maranhão.

Considerado uma referência jornalística para artistas e produtores culturais, o Caderno Impar, desde os anos de 1980, registra os fatos relacionados à cultura local, nacional e internacional, em suas diversas manifestações – como artes plásticas, música, cinema, teatro, televisão, folclore e afins. Como característica principal da editoria, os textos escritos para a editoria de cultura podem trazer reflexões sobre os movimentos culturais, aspectos históricos e características com aprofundamento.

Nesta edição, conversamos com os jornalistas Raimundo Garrone, Henrique Bóis, Lissandra Leite e Paulo Pellegrini, que relembraram a sua passagem pela editoria de cultura. Raimundo Garrone contou que começou a trabalhar em O Imparcial no ano de 1983. Segundo ele, nessa época o jornal tinha o segundo caderno que era feito por ele e pelo jornalista e compositor César Teixeira. Garrone revelou que em sua segunda passagem pelo jornal, ele idealizou o Caderno Impar. “Como era o terceiro caderno, batizamos de Impar por ser único, e por ser singular. Eu propus ao jornal a criação, que aceitou, e começamos a idealizá-lo. Passamos um mês somente para montar o caderno, nessa época a jornalista Fernanda Almeida era repórter e colaborou também como a formatação do caderno com ideias e textos. Um dos momentos marcantes foi quando colocamos a capa do Impar na capa do jornal. O interessante do Caderno Impar é essa questão da reflexão da produção cultural do Maranhão. Era uma época que não tinha internet e os jornais do estado eram muito mais controlados. O poder público que patrocinava os jornais tinha um poder de controle muito grande. O Caderno Impar sempre se preocupou não só com a agenda mais com a questão  crítica da produção cultural”, revelou o jornalista, que até hoje tem todos os crachás da época que trabalhava no jornal.

Em sua passagem pelo Caderno Impar, Garrone lembra de outras passagens. “Quando a professora Nerine Lobão (irmã do senador Lobão) assumiu a Secretaria de Cultura do Estado, colocamos uma manchete ‘Nerine mostra os dentes’, com uma foto dela sorrindo. Outro momento marcante foi quando Chico Buarque veio pela primeira vez em São Luís e eu fiz uma matéria chamada Meu caro amigo Chico. Infelizmente toda vez que tinha o aumento de anúncios a página que caia era a página de cultura, apesar de ser a mais importante do jornal na minha visão. Independente disso, tive uma trajetória muito boa no jornal O Imparcial”, disse Garrone.

Relação prolongada e ad infinitum…

Para o jornalista Henrique Bóis, que trabalhou na década de 1980 no Carderno Impar, a sua relação com o jornal é uma relação existencial desde quando a sede do matutino funcionava no Centro Histórico de São Luís. “Desde quando subi as escadas da Rua Afonso Pena para falar com o jornalista José Gomes, que todos chamam carinhosamente de ‘Gojoba’ sobre um estágio. Estabeleci essa relação que se prolongou por anos e continuará ad infinitum. Passei por todas as editorias, algumas marcantes, como a do Impar. Nesse cotidiano que é o jornalismo alguns momentos foram marcantes: as edições de morte de Ayrton Senna, Lady Di, o cantor Leonardo e da colunista social Maria Inês Saboia, que o jornalista Raimundo Garrone sacou o título Adeus, meninos!, uma feliz e coincidente referência ao filme  do cineasta Louis Malle. Outro momento inesquecível foi edição comemorativo dos 80 anos do escritor maranhense Josué Montello, uma das maiores referências da Literatura Brasileira. Estas foram páginas que levarei por toda minha vida na memória sentimental”, contou Henrique Bóis.

Uma referência de jornalistas criativos

A jornalista Lissandra Leite também falou sobre a sua passagem pelo jornal O Imparcial. Lissandra Leite revelou que a sua vivência de redação foi fundamental para a sua formação como profissional da área de comunicação.

“Sempre que me perguntam sobre a melhor formação para um jornalista, repito a velha tríade: boa formação acadêmica, muita leitura, prática em redação de jornal. Mas prática em redação de jornal não seria necessária só pra quem quer trabalhar nesse tipo de mídia? Não, caros amigos. Sem medo de errar: não! A redação é um dos exercícios mais ricos que um jornalista pode vivenciar, em busca do seu aperfeiçoamento profissional: apurar a notícia com profundidade, identificar fontes confiáveis e diversas, exercitar a alteridade e a empatia, apurar o fato para o que tem, de fato, relevância jornalística… Tudo isso se aprende em uma redação de jornal impresso, com suas dificuldades, mas também com suas delícias. Claro, não só lá. Mas lá com muita intensidade. E, nesse ponto, posso dizer que tive muita sorte: passei alguns anos de minha formação profissional em O Imparcial. Pude aprender com uma equipe competente o fazer jornalístico de um jeito para o qual a universidade havia me dado apenas a base teórica. O refino, o apuro, a busca pela qualidade vem da redação. Salve a redação de O Imparcial e seus 93 anos!”, disse Lissandra Leite.

“Um caderno de gente muito competente”

PAULO PELLEGRINI FOI UM DOS EDITORES DO CADERNO IMPAR

Quem também contou um pouco de sua trajetória em O Imparcial foi o jornalista Paulo Pellegrini, que foi editor do Caderno Impar entre abril de 1999 e novembro de 2000, ainda na sede do Retorno do São Francisco. “Herdei um caderno de gente muito competente, como Lissandra Leite, Fernanda Castelo Branco, Henrique Bóis, Assis Medeiros e César Teixeira. Uma responsabilidade manter o nível. Uma época maravilhosa, de muito aprendizado. Na redação, trabalhei com grandes jornalistas, como Andréa Viana, Kely Padilha, Décio Sá, Kátia Persovisan, Douglas Cunha, Silvan Alves, Samartony Martins, Zezé Arruda. No Impar, tive a honra de coordenar uma equipe criativa e dedicada, formada por Patrícia Cunha, Ernildo Alencar, Socorro Boaes e Carmen Rebouças. Tínhamos quatro páginas diárias para fechar e oito aos domingos. Privilegiávamos pautas autorais, de observação do cotidiano. Fazíamos nossas próprias análises. Eram outros tempos. Tínhamos que ir atrás das informações. Não havia Google. E o que chegava era realmente apurado e tratado de maneira autoral. Abríamos espaço para todas as manifestações, da cultura popular ao cinema. O jornalismo cultural tem um papel muito importante na construção e manutenção da identidade de um povo. Agradeço a O Imparcial a oportunidade de ter colaborado com sua história. Trago essa passagem com muito orgulho”, disse Paulo Pellegrini em seu depoimento.

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