Sotaque de Costa de mão corre risco de desaparecer
Em um levantamento feito pelo Iphan-MA, dos 17 grupos identificados no Maranhão, apenas 6 estão em atividade e somente um deles se apresentou publicamente em 2017
Será lançada na próxima quarta-feira, dia 28, às 10h, na sede do Instituto Nacional do Patrimônio Histórico no Maranhão (Iphan), situada à Rua do Giz – Centro, uma campanha com foco na valorização do sotaque dos Bois de Costa de mão.
A proposta da Superintendência do Iphan-MA é que a campanha intitulada “O ano dos Bois de Costa de mão” trabalhe ações de salvaguarda e promoção dos Bois desse sotaque em São Luís, Cururupu, Bacuri e Serrano do Maranhão.
A campanha será desenvolvida em parceria com a Secretaria de Estado da Cultura e do Turismo (Sectur), Secretaria Municipal de Cultura de São Luís (Secult), Conselho Estadual de Cultura (Consec), Conselho Municipal de Cultura (Concult), Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Comissão Maranhense de Folclore (CMF), Federação das Entidades Folclóricas e Culturais do Estado do Maranhão (FEFCEMA) e Central de Bumba-meu-boi do Sotaque da Baixada e de Costa de Mão.
Durante o evento, os grupos de Bois de Costa de mão lançarão uma carta aberta aos gestores públicos e à comunidade chamando a atenção para a atual situação do sotaque. Conforme levantamento feito pelo Iphan, de um total de 18 grupos identificados no estado, de 2001 a 2017, apenas seis ainda estão em atividade e destes, somente quatro fizeram apresentações públicas em 2017.
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Salvaguarda
Entre as questões apontadas pelos representantes dos grupos para o risco iminente de desaparecimento desse estilo de brincar Bumba-meu-boi no Maranhão estão a falta de recursos materiais, financeiros e humanos; desinteresse dos jovens, desvalorização da brincadeira pela comunidade e discriminação dos Bois.
Para discutir as questões e buscar soluções, foi formada uma comissão em 2017, com representantes do Iphan-MA, Secretaria de Estado da Cultura e do Turismo, Secretaria Municipal de Cultura de São Luís, da Comissão Maranhense de Folclore e de grupos de Bumba-meu-boi de Costa de Mão.
Como resultado, foi elaborado um documento com propostas de ações de apoio e fomento que envolvem oficinas de transmissão e sabres associados aos bois de costa, projetos de educação patrimonial em escolas, realização de concursos e festivais de bois de costa de mão, premiação de mestres, encontros de Bois do sotaque na região de origem, com a participação dos grupos dos municípios de Cururupu, Serrano do Maranhão e Bacuri, exposições, pesquisas, registro da memória dos mestres do sotaque de costa de mão, levantamento de cantadores e artesãos dos Bois de Costa de mão e divulgação em massa dos Bois desse sotaque.
Para o superintendente do Iphan-MA, Maurício Abreu Itapary, é urgente que o poder público tome iniciativas de salvaguarda dos Bois de Costa de Mão, considerando ser o Bumba-meu-boi patrimônio cultural brasileiro. “Temos de envolver não só os gestores públicos, mas toda a comunidade num trabalho coletivo com o objetivo de impedir o desaparecimento desses Bois”, defendeu o superintendente.
O superintendente enfatiza que sendo o sotaque de Costa de mão parte do Complexo Cultural do Bumba-meu-boi do Maranhão, bem registrado pelo Iphan 2011 como Patrimônio Cultural do Brasil, a extinção desse sotaque é, também, “uma ameaça a ao nosso mais conhecido bem cultural. No ano em que estamos pleiteando o título de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade para o Bumba-meu-boi do Maranhão, ter um dos nossos sotaques sob risco é bastante preocupante”, completa o superintendente.
O sotaque de Costa de Mão
Os Bois de Costa de Mão são originários da região do Litoral Ocidental Maranhense, tendo como berço o município de Cururupu. Conhecidos pelo ritmo cadente, pela riqueza do bordado de sua indumentária e pela especificidade do toque do pandeiro percutido com o dorso da mão, são constituídos majoritariamente por negros, com ocorrência de grupos nos municípios de Cururupu, Serrano do Maranhão, Bacuri e São Luís. Na cultura popular maranhense, representam, com o sotaque de Zabumba, a identidade do povo negro dentro do Bumba-meu-boi.