Escolas campeãs de São Paulo cantam o Maranhão
O carnavalesco maranhense, Wagner Santos conta a sensação de sair vitorioso retratando sua terra natal; Mocidade Alegre também levou o Maranhão para a passarela com enredo sobre a cantora Alcione
Enquanto relaxava do desfile das escolas de samba de São Paulo, o carnavalesco maranhense Wagner Santos, da Acadêmicos do Tatuapé, escola campeã deste ano, conversou comigo. Simpático e muito feliz pela conquista do campeonato, aproveitava o dia de folga porque no dia seguinte já começaria a preparar a escola para o Desfile das Campeãs, que acontece nesta sexta-feira, 16, reunindo as cinco primeiras colocadas do Grupo Especial, e a vice do Grupo de Acesso, no Sambódromo do Anhembi.
A atual campeã do carnaval de São Paulo, a escola da Zona Leste levou para o Anhembi, na última sexta-feira, o enredo Maranhão: os tambores vão ecoar na terra da encantaria. Com 3.200 integrantes, fantasias luxuosas e carros alegóricos que esbanjaram criatividade, o desfile contou a história e tradições do Maranhão. A taça só foi garantida na apuração da última nota do último jurado.
“Eu estou com a sensação de dever cumprido, porque se você estreia em uma escola que no último carnaval foi campeã, você tem a missão de corresponder com toda a expectativa da comunidade e isso pede uma responsabilidade muito grande de conseguir realizar esse sonho. Para mim, foi um grande prazer e uma realização. Tenho a sensação de dever cumprido e mais ainda homenageando meu estado, minha cultura, minha gente, meu povo. Sinto-me duplamente honrado por ter desenvolvido esse trabalho”, disse Wagner Santos.
Wagner foi contratado pela Acadêmicos do Tatuapé em abril do ano passado. Este é o segundo título da história da escola, que voltou a disputar no grupo especial em 2013. No ano passado, a escola ganhou o título falando da África, encerrando um jejum de 65 anos.
Neste ano, o desfile teve a participação de 3.200 componentes, divididos em 26 alas e cinco carros alegóricos. A ala das baianas homenageou a Floresta dos Guarás, uma das maiores reservas florestais do Maranhão. O Palácio dos Leões, sede do governo, e outros pontos turísticos da capital São Luís foram representados nas alegorias, bem como o santuário de São José de Ribamar.
Receber um enredo falando sobre o Maranhão foi uma honra, segundo Wagner. O tema só foi escolhido depois que ele já tinha sido contratado pela escola. “A princípio, não sabia qual seria o enredo. Quando disseram que seria o Maranhão para o carnaval de 2018, fiquei muito feliz por desenvolver um enredo que falasse da história do meu povo, do povo maranhense. Passaram-me essa responsabilidade de desenvolver a história da minha maneira. Então, fizemos uma homenagem ao estado, às principais cidades, festas religiosas, festas culturais, reservas florestais, enfim, um apanhado de tudo que o estado tem de maravilhoso. Resgatamos alguns momentos da história, como a Guerra da Balaiada, a Revolta de Bequimão. Fizemos homenagem ao tambor de crioula, à maior festa que é bumba meu boi, passeamos por Alcântara e a Festa do Divino, pela Floresta dos Guarás, por São José de Ribamar, pelo importante patrimônio histórico e artístico de São Luís, enfim, uma homenagem ao estado”, resume o carnavalesco.
O fato de ser maranhense pode ter facilitado a conquista pelo título? O carnavalesco acredita que sim. “Eu nasci na capital e venho de uma família tradicional. Eu sempre fui apaixonado pelo carnaval. O meu tio Francisco Santos era carnavalesco e foi ele que criou o manto do bloco tradicional, que hoje é tradição e faz parte da indumentária da brincadeira. Tem a minha avó, Rita Machado, o meu tio era o poeta Nauro Machado. Então, eu estou feliz, porque sei que colaborei no sentido de divulgar a cultura, a riqueza, a festividade do meu estado”, contou Wagner Santos.
Carnavalesco premiado
Wagner já foi carnavalesco da Unidos de Vila Maria, Padre Paulo, Mocidade Alegre e desenvolveu os últimos oito carnavais da Acadêmicos do Tucuruvi. Tem em seu currículo três vice-campeonatos, sendo um dos carnavalescos mais premiados do carnaval de São Paulo e foi considerado três vezes o melhor carnavalesco da cidade pelo Troféu Nota 10.
O ponto alto do bicampeonato
O desfile da Tatuapé foi uma espécie de roteiro turístico. Para desenvolver o enredo, Wagner contou que não foi preciso vir ao estado especificamente, uma vez que o carnavalesco contou com a ajuda do professor, escritor e carnavalesco Euclides Moreira Neto, que o enviou bastante material sobre o estado. Disse também que não houve interesse financeiro.
“Nós fizemos um roteiro do estado para divulgar. Não houve interesse de pegar dinheiro do Maranhão, mas sim fazer uma linda homenagem porque era um sonho antigo da diretoria fazer isso. Agora, acredito que o samba-enredo, comandado pelo Mestre Igor, foi um momento forte, pois foi orquestrado pela comunidade, que deu o seu recado, que cantou muito, que pisou forte na avenida e que sabe o que quer. Se não fosse a comunidade, não conseguiríamos ser campeã. Aliás, escola nenhuma pode ser campeã sem uma grande comunidade para dar vida a esse trabalho desenvolvido pelos profissionais”, elogiou.
Wagner ainda está contratado para o carnaval de 2019 da Tatuapé e avisa que em março já começam os trabalhos para mais um grande espetáculo do carnaval brasileiro. “Um abraço ao povo maranhense, e vamos trabalhar para mais um grande carnaval”, finalizou.
Relembre o desfile
A Tatuapé foi a quinta a cruzar o sambódromo do Anhembi na sexta-feira, 9, dia que abriu os desfiles do Grupo Especial. Com o enredo Maranhão: os tambores vão ecoar na terra da encantaria, a escola, fundada em 1952, fez uma homenagem ao estado nordestino e desfilou contando sobre a cultura do local. A apresentação começou com uma ala que representava o mar e as caravelas dos portugueses, na chegada deles ao Brasil, e seguiu com alegorias e fantasias luxuosas que representaram a culinária, as lendas e as belezas naturais maranhenses.
O Maranhão pela Marrom
A vice-campeã Mocidade Alegre fez uma homenagem à cantora Alcione, de 70 anos, com um enredo marcado pelo clássico Não deixa o samba morrer, gravado pela cantora em 1975.
No desfile da Mocidade, foi Alcione quem puxou seu próprio samba no começo do desfile, ao lado dos intérpretes Tiganá e Ito Melodia. A cantora ainda saiu no último carro da escola para ser homenageada como o enredo A voz marrom que não deixa o samba morrer. O desfile ressaltou em três carros alegóricos as belezas naturais do Maranhão e a influência dos franceses, que fundaram a capital São Luís no século XVII.