Disputa para o Senado em 2018 vira guerra paralela
Com eleição polarizada entre o governador Flávio Dino e a ex-governadora Roseana Sarney, a disputa pelas duas vagas de senador ganhou importância como há muito tempo não se via
Se a eleição de senador de 2014 tivesse sido o inverso da deste ano, com duas vagas no Senado por estado, o ex-deputado Gastão Vieira (Pros) seria hoje o segundo senador do Maranhão, ao lado de Roberto Rocha (PSDB). Se a eleição de outubro próximo fosse para eleger apenas um senador (1/3 da representação), a disputa por essa vaga obviamente que não estaria tão acirrada como acontece atualmente. Como a eleição está polarizada entre Flávio Dino, governador do PCdoB, e a antecessora Roseana Sarney, do MDB, a disputa pelas duas vagas de senador ganhou importância como há muito tempo não se via. São aproximadamente oito candidato dos dois lados.
O detalhe curioso é que Gastão Vieira, então compondo o grupo Sarney, chegou a 1,2 milhão de votos (44%), perdendo, porém, a única cadeira para o então ‘socialista’ Roberto Rocha (PSB), que logrou 51%, apoiado por Flávio Dino. Quatro anos depois, a disputa do Senado vai ser completamente diferente. Gastão Vieira não é mais do PMDB e rompeu com o Grupo Sarney para se alinhar com Flávio Dino, já no comando do Pros no Maranhão e é candidato a deputado federal.
Briga pela segunda vaga
Roberto Rocha também debandou do PSB e hoje comanda o PSDB, tornando-se inimigo ferrenho de Flávio Dino, depois que se lançou, também, candidato ao Palácio dos Leões. Em 2014, o PSDB, apoiado por Aécio Neves, fez aliança com o PCdoB e elegeu o vice-governador Carlos Brandão, que, em 2017, levou uma rasteira de Roberto Rocha no ninho tucano e foi de malas e cuias para o PRB, porém, levando quase todos os prefeitos tucanos. Para este ano, a disputa para o Senado causa tanto frisson político quanto a eleição de governador. Na busca da reeleição, Flávio Dino se antecipou em anunciar que um dos candidatos ao Senado de sua chapa é o deputado federal e líder do PDT na Câmara, Weverton Rocha. Mas como ele conta com 14 partidos já comprometidos com sua aliança, existe um burburinho em sua volta, com as pretensões à segunda vaga, por parte dos deputados federais José Reinaldo (quase filiado ao DEM), Eliziane Gama (PPS) e Waldir Maranhão (PP), além de Márcio Jardim, do PT.
Zero senador de oposição no MA
Para decidir disputar o governo, Roseana teme: perder e enterrar de vez o grupo Sarney; encerrar sua carreira política de forma melancólica; e tornar o sarneísmo na história como o pai, José Sarney, tornou o vitorinismo em 1965, portanto, 53 anos atrás. Mas o ex-presidente vai com tudo para eleger Zequinha Sarney, cuja votação como deputado federal tem sido declinante a cada eleição. Sarney já se despediu da política, na carta dirigida ao Amapá, mas vai se mexer.
Roseana, por sua vez, tem ainda Edison Lobão (82), fazendo campanha pelo interior, de candidato a senador, e João Alberto, encolhido, sabendo que a parada é dura demais para seus 83 anos. Já Lobão, repetindo 2010, manterá Lobão Filho na 1ª suplência, como salvaguarda eventual. Mas a história política registra que, desde a ditadura até hoje, nenhum candidato de oposição conseguiu se eleger senador do Maranhão.
14 partidos na aliança
Como se pode perceber, a campanha de senador vai ser tão dura quanto a de governador do Maranhão. Flávio Dino já contabiliza 14 partidos em sua pré-coligação, enquanto Roseana Sarney ainda não fala sequer com quais partidos pretende entrar na guerra.
Um deles seria o DEM, cuja presidência nacional está sob a batuta de ACM Neto, prefeito de Salvador. Ele pode melar a aliança maranhense com o PCdoB, levada pelo deputado federal Juscelino Filho. E aí entra o fator José Reinaldo, procedente do PSB e com dificuldade para ser apontado por Flávio Dino como o segundo nome ao Senado na chapa dele.
As outras candidaturas ao governo, por enquanto, não conseguiram sequer chegar a 5% nas pesquisas eleitorais. Portanto, terão dificuldade em encontrar nomes competitivos para a eleição de senador. Os proponentes são: Maura Jorge (Podemos), Hilton Gonçalo (saindo do PCdoB), o ilustríssimo desconhecido Jadson Gonçalves (DEM), prefeito de Cedral, e, eventualmente, Eduardo Braide, deputado estadual do nanico PMN, que não dispõe de estrutura política, de tempo de TV ou legendas interessadas em composição, caso resolva ser candidato a governador.
Em nome dos filhos
Pelo flanco sarneísta, Roseana Sarney até agora deixa seu grupo em sobressalto pela falta de empenho em assumir a candidatura. Segundo uma fonte bem colocada em seu grupo político, Roseana avalia a cada movimento e cada fato do que se passa no âmbito nacional e estadual para tomar a postura de candidata.
“Ela está sendo empurrada pela família Sarney e pelo grupo, que sonha em retomar o poder, mas sabe das imensas dificuldades que terá pela frente, concorrendo pela oposição”, avalia o informante.
Para ser competitiva em 2018, Roseana precisa muito mais do que o simples fator “conhecimento”. Ter nome conhecido em todos os rincões, em razão das quatro vezes como governadora e o paradigmático sobrenome Sarney, cujo pai, cacique-mor da política maranhense, acaba de transferir o domicílio eleitoral de Macapá para São Luís.
Sarney, mesmo com o peso dos 88 anos, vai quebrar lanças para eleger o filho Zequinha, senador, e a filha, governadora. A eleição de Roseana será a mais difícil de todas que participou. Sem poder, sem máquina, sem dinheiro empresarial na campanha e com o grupo desestruturado e envelhecido. As lideranças do MDB estão acima ou chegando à casa dos 80 anos.
O que é o Senado Federal
O artigo 46 diz que a Câmara Alta representa os estados e do Distrito Federal. Seus membros são eleitos pelo princípio majoritário – os mais votados, sem observar a proporção de votos por partido ou coligação – como acontece nas eleições dos deputados.
Os senadores são eleitos com a idade mínima de 35 anos e para mandatos de 8 anos, com renovação de um terço das cadeiras em uma eleição e dois terços nas eleições seguintes. Isso explica por que em algumas eleições você vê seu estado eleger dois novos senadores e em outras vezes vê apenas um novo senador.
Projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, o Palácio do Congresso Nacional é formado por duas cúpulas: a menor à esquerda, voltada para baixo, abriga o Plenário do Senado Federal. A cúpula maior, voltada para cima, abriga o Plenário da Câmara dos Deputados. Há ainda um edifício principal na horizontal, que serve de plataforma para as duas cúpulas, e duas torres no centro, que abrigam os gabinetes e escritórios de cada. Se a Câmara é representada pela copa virada para cima, o Senado é representado pela copa para baixo. Essa copa sugere a reflexão, a experiência. O Senado, de fato, é tido como uma casa mais madura e de fato costuma ser menos inflamada do que a Câmara. Seus membros, além de serem em um número muito menor em relação aos deputados, também costumam ser mais velhos e possuírem longas carreiras políticas. Por ser mais seleto que a Câmara dos Deputados, o Senado também é conhecido como Câmara Alta.