A rainha do Maranhão

O verdadeiro medo da poderosa Ana Jansen

Ela foi contra todos e todas, quebrou paradigmas e foi julgada por isso. Mas seu poder continua lendário.

Ana Joaquina Jansen Pereira, antes de tudo, era uma mulher à frente do seu tempo. Nos altos e baixos de sua vida, fez fortuna e conseguiu poder – o que incomodou muita gente. Sua lenda é passada de geração em geração a ainda parece muito atual. Mas como ela se tornou a Rainha do Maranhão?

Tudo começa com um desatino: ainda adolescente, na província de São Luís do Maranhão, Ana Jansen engravidou sem saber a paternidade do filho – uma desonra colossal na sociedade do século 19.

 

Antiga casa de Ana Jansen, no Centro Histórico de São Luís / Acervo O Imparcial

 

Por conta da gravidez, foi expulsa de casa pelo pai. Desamparada e com um recém-nascido a tira colo, Ana Jansen passou dificuldades. Mas isso não a abateu, não.

Em uma sociedade liderada por homens, seu regresso começa quando conheceu o coronel Isidoro Rodrigues Pereira, um homem rico e casado que, depois de viúvo, casou com Ana. Eles tiveram seis filhos.

 

Casa nobre de Ana Jansen, antes e depois / Acervo O Imparcial

 

Malvista pela sociedade desde a adolescência, Ana era alvo de moralistas por seu comportamento liberal para a época – afinal, havia sido mãe solteira e ainda tinha que aturar os boatos de que antes de casar com o coronel Isidoro tinha sido sua amante. Mas após o casamento com um dos homens mais ricos da província, voltou a ser respeitada.

Depois da morte do marido, Ana Jansen, ainda com 38 anos, se mostrou uma excelente comerciante. Alcançou o posto de maior produtora de cana-de-açúcar e algodão da região, monopolizou a distribuição de água na província e foi senhora do maior número de escravos da redondeza. Reativou um partido político e virou voz social importante – algo impensável para o século em que vivia, quando as mulheres não tinham vez nas decisões.

 

Ana Jansen / Arquivo O Imparcial

 

Segundo o livro A Rainha do Maranhão, de Jerônimo de Viveiros, Ana Jansen teve, ainda, outros dois casamentos e mais quatro filhos – outra novidade para seu tempo. Morreu em 1889, aos 82 anos, de morte natural, em meio a especulações de maltrato e atrocidade a escravos – o que, até hoje, não se sabe se era fato verdadeiro ou só intriga da oposição política para sujar seu nome.

O certo é que a mudança de costumes sociais enraizados causa medo – até hoje, inclusive. Ana Jansen é simbolo da resistência e do crescimento da mulher independente na sociedade. O grande medo de Ana Jansen talvez fosse o de não ser autêntica e não lutar a própria batalha. Ela foi contra todos e todas, quebrou paradigmas e foi julgada por isso. Mas seu poder continua lendário e sua história de percalços pode nos ensinar mais que só o terror.

 

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