Maria Firmina: uma maranhense para se orgulhar
A primeira escritora negra do Brasil e primeira autora de romance abolicionista em toda a língua portuguesa é maranhense e, neste ano, completa 100 anos de falecimento
A escritora maranhense Maria Firmina dos Reis, patrona da 11ª edição da FeliS, foi a primeira escritora negra do Brasil e primeira autora de romance abolicionista em toda a língua portuguesa, que neste ano completa 100 anos de falecimento, recebendo mais uma homenagem por conta de sua importância tanto na literatura, quanto no protagonismo feminino.
A artista plástica Marlene Barros, a convite da 12ª Aldeia Sesc Guajajaras de Artes, realizou ontem, na Praça do Panteon, Centro de São Luís, uma intervenção artística que teve como inspiração a escritora que demonstrou sua afinidade com a escrita ao publicar Úrsula em 1859. O romance a consagrou como escritora e também foi o primeiro romance da literatura afro-brasileira, entendida esta como produção de autoria afrodescendente. Em 1887, no auge da campanha abolicionista, a escritora publicou também o livro A Escrava, reforçando sua postura antiescravista.
Para homenagear esta mulher que tinha um pensamento considerado à frente do seu tempo, Marlene Barros reproduziu 14 réplicas em gesso com peso de 14 quilos e da cor dourada do busto feito pelo escultor maranhense Flory Gama. As réplicas da escultura original ficaram em exposição apenas por 24 horas. O público poderão apreciá-las novamente durante a FeliS, que começa hoje e vai até o próximo dia 19 de novembro no Centro Histórico de São Luís. “Eu fiz estas réplicas do rosto de Maria Firmina para mostrar quer o papel da mulher vai além dos seus afazeres domésticos e que a mulher tem um papel fundamental no desenvolvimento social e cultural de uma sociedade”, disse Marlene Barros.
Em entrevista a O Imparcial, Marlene Barros ressaltou que Maria Firmina dos Reis é a única mulher representada no conjunto de 18 esculturas que homenageavam os grandes nomes da literatura maranhense na praça e que foram retirados 2005 por conta da ação de vândalos e encontram-se guardados desde 2007 no Museu Histórico e Artístico do Maranhão. A reportagem apurou que a proteção dos bustos é de responsabilidade da Fundação Municipal de Patrimônio Histórico da Prefeitura de São Luís e que eles estão no MHAM através de contrato de comodato entre a Fundação Municipal de Patrimônio Histórico e a Secretaria de Estado da Cultura.
Para Marlene Barros, a escritora Maria Firmina foi uma grande mulher e merece esta homenagem. “Maria Firmina merece essa homenagem por conta de sua postura como mulher, como negra e como escritora, e também pelo fato de ser única mulher que figura no meio de tantos outros homens, escritores maranhenses que foram representados em esculturas. Esta também é uma forma de dizer a outras mulheres que existe espaço para elas e que precisamos ocupar esses espaços. A segunda razão, é porque, não deixa de ser um protesto pela volta dos bustos para a praça, onde é o verdadeiro local deles”, explicou a artista plástica.
Para fazer as réplicas da escultura de Maria Fimina dos Reis, Marlene Barros solicitou autorização para fazer o molde em gesso da obra de arte que até hoje gera controvérsias por conta da forma que foi representada por Flory Gama, por conta dos traços finos como forma de “embranquecer” o rosto da escritora, que tinha origem negra.
Mais sobre Maria Firmina
Aqui um registro de O Imparcial, do governador João Castelo inaugurando Maria Firmina dos Reis na Praça Deodoro, em 1976. A escritora nasceu na cidade de Guimarães –MA no dia 11 de outubro de 1825. Era filha bastarda e mestiça (branco com preto). Aos 22 anos, prestou concurso público para professora, onde passou a colaborar na imprensa local com poesias e contos. Fez da literatura um instrumento de denúncia da escravidão, mostrando o quanto sua existência era contraditória com a fé cristã professada pela sociedade. Em 1859 publicou Úrsula, primeiro romance abolicionista da literatura brasileira, primeiro escrito por uma mulher no Brasil e também o primeiro da literatura afro-brasileira, entendida como produção de autoria afrodescendente, que tematiza a negritude a partir de uma perspectiva interna e comprometida politicamente em recuperar e narrar a condição do negro em nosso país. Celibatária e pobre adotou várias crianças e teve inúmeros afilhados. Morreu em 11 de novembro de 1917 aos 92 anos de idade, onde nasceu.