Maranhão respira o jogo da sucessão um ano antes das eleições
Quase um ano antes das eleições para o governo do estado, quatro pré-candidaturas já estão confirmadas e o clima começa a ter um tom de guerra
O jogo da sucessão maranhense chega ao penúltimo mês de 2017 em clima abrasador. A onze meses das eleições de 2018, ao menos quatro pré-candidaturas ao governo do Maranhão dão o tom de guerra e tornam ambiente carregado de insalubridade política, cada qual com suas estratégias e manobras para o confronto de urna. Flávio Dino calibra sua equipe, troca secretários de lugar, amplia a base de alianças, para reforçar o tempo de TV e capitalizar apoios das grandes cidades até os grotões.
Tudo gira em torno da pré-campanha da reeleição, que ganha velocidade e também uma oposição cada vez mais aguerrida tanto na Assembleia Legislativa, quanto no Congresso. No mexe-remexe na equipe de Flávio Dino, o PT perdeu a Secretaria de Esportes (Márcio Jardim) e ganhou a Secretaria da Mulher, com Terezinha Fernandes. Enquanto isso, o PP do deputado federal André Fufuca (Fufuquinha) já chegou emplacando Hewerton Carlos Rodrigues Pereira na Secretaria de Governo, com gabinete do Palácio dos Leões.
Intervenção forçada
E para o rebuliço da sucessão estadual não ficar só na bipartição entre Flávio Dino e Roseana, o senador Roberto Rocha resolveu demarcar seu espaço na confusão, já acrescentando enorme barulho. Há menos de um mês, ele trocou o PSB pelo PSDB, de onde saiu em 2014 para ocupar o PSB de São Luís, levado pelo então governador Eduardo Campos (PE). Rocha já amanheceu no comando da omissão provisória tucana no Maranhão.
Pressionado por Roberto Rocha e o governador Geraldo Alckmin (SP), o então presidente interino do PSDB, senador Tasso Jereissati, decidiu baixar o ato de intervenção no diretório estadual, expulsando do cargo de presidente o vice-governador Carlos Brandão, um aliado de confiança absoluta de Flávio Dino. Entraram nessa decisão dois fatores determinantes: as eleições de 2018, com Roberto Rocha disputando o governo e Alckmin, supostamente, a Presidência da República.
No âmbito interno do PSDB, Tasso Jereissati pretende tirar votos do concorrente ao diretório nacional, Marconi Perillo, governador de Goiás. A eleição se dará no dia 9 de dezembro, durante a sua 14ª Convenção Nacional, em Brasília. Foi a data em que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso defendeu para os tucanos desembarcarem do governo Michel Temer, posição que divide os tucanos. A intervenção no Maranhão ocorreu por solicitação do ex-prefeito de Imperatriz, Sebastião Madeira, justificando que o PSDB “está a reboque do PCdoB”.
Comunista em 2006
Ele só ingressou no PCdoB em 2006, depois que abandonou a toga de juiz federal, incentivado pelo então governador José Reinaldo e o candidato a governador Jackson Lago. Foi eleito deputado federal pelo PCdoB e depois se tornou o seu único governador, em quase um século de história, mas com o apoio do PT, da então presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que hoje estaria revoltado com a candidatura presidencial de Manuela D’Ávila, anunciada pelo PCdoB. Hoje, Dino mantém no governo os petistas Francisco Gonçalves (Direitos Humanos), Terezinha Fernandes (Secretaria da Mulher) e Lawrence Melo (Mobilidade Urbana), que se filiou ao PT perto de ser nomeado. Ele entrou no lugar do engenheiro Arthur Cabral, que hoje preside a Companhia Maranhense de Gás (Gasmar). Mas Dino pode fazer novas alterações na equipe, desde que sejam no ajustamento de sua pré-candidatura e dos aliados a mandatos no Legislativo federal e estadual.
Roseana sai do imobilismo
Quando percebeu que Dino vem se movimentando para ampliar sua base política, percorrendo quase diariamente o interior do Maranhão, anunciando investimentos, fazendo contatos com lideranças locais e mostrando suas realizações, Roseana Sarney saiu do imobilismo e da indecisão que vinha deixando os aliados apreensivos. Pressionada pela família, o PMDB e sua base política, ela anunciou, há uma semana, que será candidata a governadora “depois de muito refletir sobre os cenários do Brasil e do Maranhão”.
Roseana saiu da posição de apatia para convidar a população, lideranças políticas e sociais a “criarem uma alternativa de poder no Maranhão”, que já governou por 14 anos. Ela se dispôs a ser candidata dois dias depois de o cunhado e poderoso ex-secretário de Saúde de seu governo, ex-presidente da Assembleia Legislativa, Ricardo Murad (agora no PRP), também ter se lançado ao mesmo cargo. Numa longa carta, Murad se compara a Juscelino Kubitscheck e promete “construir em apenas quatro anos um novo governo, caminho sem volta rumo ao crescimento, onde todos sintam a luz do sol por igual”.
PT x PCdoB
Mesmo sendo contrário ao lançamento da candidatura da deputada estadual do Rio Grande do Sul, Manuela D’Ávila, à disputa presidencial, o PT estaria ameaçando desembarcar do governo Flávio Dino no Maranhão, onde já existe uma divisão marcante, com a corrente CND se queixando dia e noite do abandono por parte do governador. É a mesma corrente que apoiou Roseana Sarney em 2014 e que participou de seu último governo entre 2010 e 2014.
Como a política é tão dinâmica quanto um redemoinho no deserto, o presidente do diretório municipal do PT em São Luís, vereador Honorato Fernandes, convida Flávio Dino para trocar o PCdoB pela legenda petista. “Representaria um fortalecimento do projeto da esquerda com diálogo na construção de uma verdadeira ampla aliança política com os que defendem o povo brasileiro e combatem o atraso”.
Então, vale lembrar que Flávio Dino é daqueles “petistas desde criancinha”, quando militava nos movimentos estudantis na Universidade Federal do Maranhão e depois. Era considerado um “juiz petista”. De pronto, Flávio Dino revelou que ainda não foi formalizado um convite oficial para que ele se filie ao PT, mas que recebeu a notícia “com muita alegria e honra, por tratar-se de um partido amigo, aliado, irmão e vai continuar sendo, como sempre foi”.
Em faixa alternativa
Correndo em faixa própria, a ex-prefeita de Lago da Pedra, Maura Jorge (Podemos), vem percorrendo o Maranhão, propagando sua pré-candidatura ao governo, usando redes sociais e blogueiros. Ela descarta qualquer composição que venha colocá-la como vice de Roseana Sarney ou de outra chapa. “Sou pré-candidata porque o povo do meu estado quer isso. Portanto, estou apenas seguindo a voz do povo”, dispara, por onde passa.
Maura é filiada ao nanico Podemos, partido novato, com diminuta estrutura política e pouco a oferecer em termos de aliança com legendas de maior tempo de televisão. Trata-se de item supervalorizado na campanha no próximo ano, quando não haverá financiamento empresarial de campanha e a compra de voto será combatida por todas as forças disponíveis no controle do voto.