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Você conhece o cachorro-quente do Companheiro?

José Carlos Nunes, ou simplesmente ‘Companheiro’, tem 76 anos e vende cachorro-quente no Centro Histórico de São Luís desde os 17. Tornando-se, ele próprio, uma figura histórica do local

Foto: Honório Moreira

Muito além dos casarões e logradouros, o Centro de São Luís abriga diversos personagens históricos, que se confundem em meio à paisagem e acabam tornando-se parte dela. Na esquina do Largo do Carmo com a Rua Victa,por exemplo, a barraquinha de cachorro-quente do aposentado José Carlos Nunes, ou “Companheiro”, como é mais conhecido, já virou quase um ponto turístico, assim como a Praça João Lisboa e o Mercado Central, que ficam ali perto. Companheiro, hoje com 76 anos, começou a vender cachorro-quente nos idos de 1958, com 17 anos de idade.

“Comecei ajudando na barraquinha de um cunhado. O nome da barraquinha era ‘Companheiro’, daí vem o apelido”, explica. “Aqui nesse espaço, eu já estou há 39 anos, mas também vendi por muito tempo ali na Praça Deodoro, perto do Liceu”.

Companheiro é um homem tradicional e mantém a mesma receita do cachorro-quente até hoje. E aqui cabe explicar: o tradicional dele é um pouco diferente do cachorro-quente que estamos habituados. A começar pelo pão, que é francês, quase sempre de massa grossa. Em vez de batata-palha e salsicha, o cachorro-quente de Companheiro, que custa R$ 5, é feito com carne moída frita, alface, tomate, cebola, pepino e ervilha. E nada de ketchup ou maionese. “Quem vem aqui já sabe que não tem nada disso. Quando chegam alguns clientes novos e pedem ketchup ou maionese, os clientes antigos começam a rir”, conta o vendedor.

Na barraquinha de Companheiro, apenas molho de pimenta é disponibilizado aos fregueses. O método, apesar de não muito convencional, parece ter funcionado. Companheiro conseguiu fidelizar sua freguesia. Com o tempo, ficou amigo de muitos dos seus clientes, como o empresário Carlos Soares, de 60 anos, que compra o cachorro-quente há décadas. “Hoje moro em Imperatriz, mas sempre que venho a São Luís faço questão de comer o cachorro-quente do Companheiro”, diz. “Eu acho que ele põe algum componente aí que dá um gosto diferente, por isso ninguém consegue comer esse cachorro-quente só uma vez”, completa.

Outro cliente fiel é o promotor aposentado João Pinho, de 67 anos. “Eu estudava no Liceu, então comia o cachorro-quente quase todo dia. De 1967 a 1969 eu vivi à base do cachorro-quente do Companheiro”, brinca. “E até hoje faço questão de vir aqui sempre, pelo menos umas quatro ou cinco vezes por mês”.

Companheiro não aparenta a idade que tem. Todo o trabalho da barraquinha é comandado por ele, que também é o responsável pela montagem dos cachorros-quentes. Com diploma de auxiliar de laboratório pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), foi vendendo cachorro-quente que Companheiro conseguiu sustentar a sua família e formar seus filhos. “Tenho quatro formações além dessa da UFMA. Já trabalhei de quase tudo nessa vida. Fui jardineiro, ajudante de pedreiro e aí comecei a vender cachorro-quente. Foi aqui que me encontrei”.

Companheiro mora no Anjo da Guarda e vende cachorro-quente no Largo do Carmo de segunda a sexta, sempre pela manhã. “Eu chego bem cedinho, pra já começar a vender antes das 7h. Aí fico aqui até vender tudo o que trouxe de casa. Normalmente, antes do meio-dia já acabou tudo. Se chegar aqui 13h, já não me encontra mais”, diz orgulhoso.

São 59 anos vendendo cachorro-quente. Hoje, Companheiro esbanja uma disposição invejável e diz não pensar em parar. “Antes eu vendia durante o dia inteiro, até à noite, e também sábado e domingo. Hoje não dá mais, porque a gente sempre tem alguma ocupação. Mas a minha vontade era vir todo dia. Não penso em me aposentar disso daqui. Vou continuar vendendo cachorro-quente enquanto Deus permitir, porque é só Ele quem sabe a hora certa das coisas acontecerem. Quando Ele disser pra eu parar, eu paro. Enquanto isso, vou vendendo cachorro-quente”, finaliza.

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