Drag queens maranhenses fazem sucesso ao redor do mundo
Os artistas seguem a trajetória de Pablo Vittar e mostram o talento musical conquistando outros países, como Japão e Estados Unidos, com hits que estão estourando
Com a ascensão da cantora drag Pabllo Vittar, vários artistas maranhenses ganham destaque no meio musical emplacando sucessos e garantindo visibilidade. Até o ano passado, a drag queen mais conhecida do mundo era RuPaul, de 56 anos. Ela ganhou destaque ainda nos anos de 1990 na TV norte-americana e tornou-se famosa mundialmente após a criação do reality show RuPaul’s drag race, no ar nos Estados Unidos há nove temporadas e com uma versão brasileira em breve. No entanto, neste ano, o título mudou de dona e veio para o Brasil com Pablo Vittar, que tornou-se a drag queen mais conhecida do planeta e a performer mais ouvida no Spotify, com sua música K.O. A faixa conta com 15 milhões de streamings até agora.
Além de Vittar outras drags maranhenses estão conquistando o seu espaço no cenário internacional. Os nomes mais requisitados no momento são as drags queens e DJs Butantan, Wan Lo e Frimes e os DJs Only Fuego e Enme Paixão. Os hits são diversos e bebem das culturas nacionais e internacionais, contudo, garantindo que ninguém fique com a “raba parada” quando ouvir o solinho envolvente de cada música.
Revis, uma das músicas que está sob a produção de Bruno Rafael, mais conhecido como Brunoso, no último dia 22 de setembro, está bombando nas redes sociais. A música foi pensada na tradicional sexta-feira do Projeto Reviver, na Praia Grande, onde milhares de pessoas semanalmente lotam a escadaria da Praça Nauro Machado e ocupam os espaços do Centro Histórico de São Luís ao som do funk, da música popular brasileira ou então do manso reggae, onde param para relaxar do estresse da semana, tomando um bom São Braz nas rodas de amigos naquele ambiente majestoso.
A música Feat, com a drag queen Alice Frimes e o DJ Enme Paixão, vem contando o que acontece às sextas-feiras no Projeto Reviver, na Praia Grande. Desde quando são chamados os amigos através do Facebook até o momento do encontro marcado. E como canta Alice Frimes: “Vou chegar colocada e várias bocas beijar/ cinco conto na carteira pro vinho inteirar./ Eu te encontro nesse ‘revis’”, diz a letra da música.
Segundo Brunoso, a ideia do hit surgiu entre 2012 e 2013, período em que ele aprofundou-se bastante no universo da música eletrônica. “Este é um gênero que consumo bastante. Aí fui descobrindo vários subgêneros dentro da mesma. Com o tempo eu despertei a vontade de fazer o que os artistas que eu gostava faziam. E desde lá eu venho pegando minhas influencias e colocando nas músicas”, disse Brunoso.
Segundo o produtor de Revis, a ideia de primeiro, era que seria apenas uma música sua qualquer, talvez um instrumental. A indagação “E esse Revis?’’ foi só a personificação do ‘Meme’ conhecido entre os jovens que frequentam a noite do Reviver. O que era para ser uma brincadeira experimental tornou-se um fenômeno. “Chamei Frimes e Enem e o bonde estava formado. Revis foi uma inspiração vinda do Sants que é um produtor lá de São Paulo, e do Vhoor que é de Belo Horizonte. Gosto muito do som deles. Eu fiz o instrumental de Revis me inspirando no estilo e melodia e de produção deles. Outras inspirações que eu tive foi o João Brasil, Omulu, Leo Justi, Banginclude, Sydney Souza entre outros. Graças a eles que eu faço minha música hoje em dia”, concluiu Brunoso.
Do Maranhão para o mundo
Cantora desde 2012, a drag queen Alice Frimes afirma que a “teoria queen” tem saído da caixinha das boates e do submundo, deixando de ser “criaturas da noite”, e vai adentrado o mercado de uma forma extremamente positiva na TV, no rádio, cinema, teatro e na música. Alice Frimes está traçando outros caminhos. “Meu projeto inicial é completamente diferente. As canções produzidas por mim são do gênero ‘Witch House’. Felizmente minhas canções se popularizaram muito na internet e tocando em em países como Chile, EUA e Japão. Revis é completamente diferente de tudo que venho pesquisado dentro desses cinco anos. Ao conversar com Brunoso, que sempre foi meu amigo, sempre trocamos ideias sobre produção de música. Ele me propôs a ideia de eternizar o ‘Meme’ sobre o ‘revis’. Todas as sextas-feiras, a maioria dos jovens ludovicenses enchiam as redes de: “E aí esse revis?”. Mas a música tomou novas proporções, levando mais do que um simples ‘Meme’. Engraçado é que sempre estivemos na arte em um todo, mas só agora estamos conseguindo mais e mais espaços. A revolução vai ser com glitter! E eu acredito que particularmente a música une todas as tribos, todos os gêneros, todas as raças. Costumo dizer que a música ainda é a melhor criação humana”, disse a cantora.
Já o publicitário, cantor, dj e artista drag queen Enme Paixao, ou Elektra Fierce, diz que finalmente pode ver uma música que falava do seu cotidiano, graças a artistas como Linn da Quebrada, Rico Dalasam, Gu1hgo e outras ‘manas’ que assim como ela são “bixas pretas e faveladas”. “Eu não tive isso na infância, agora posso ter. E olha que massa, agora eu também posso falar algo pra outras manas se identificarem. Ainda falta o público atentar para os talentos maranhenses. Esse vício de valorizar só o que vem de fora fez uma drag queen sair do interior do nosso estado para ganhar a vida lá fora e, só depois de estourar no mundo, o Maranhão veio se orgulhar e bater no peito. Assim como de vários outros artistas que precisam ir pro Sul para serem reconhecidos aqui. O apoio tem de vir nos primeiros passos”, disse o cantor.
Boy, um musical Spotify
Criada pela drag queen e DJ Butantan e pelo DJ Only Fuego, a música Boy, lançada no último dia 21 de setembro, já foi ouvida por mais de 33 mil pessoas, em mais de 40 países e aproximadamente 200 cidades na rede musical Spotify. Segundo Fuego, a inspiração da música veio de uma forma muito natural, quando a drag Butantan pensou em fazer uma música pensanda nas duas, que além de colegas de profissão, levam uma amizade de anos. “Foi então que surgiu Boy com essa coisa de estar a fim de uma pessoa e ela só querer te usar como objeto sexual”, explicou Only Fuego. O DJ ainda conta que a produção musical agora tem se tornado agênero, mesmo sendo feita por pessoas gays. “Fizemos para todos os públicos, tanto que pelas estatísticas passadas pelas plataformas digitais ela está mesmo sendo consumida por todos os tipos de públicos, gênero e idade. E isso me deixa muito feliz em ver que a música não tem barreiras. É um avanço incrível saber que de pouco a pouco estamos ocupando todos os espaços. Liga a TV, estamos lá! Liga o rádio, estamos lá! Acessam a internet, estamos lá! E por aí vai… Próximo passo será um EP solo e outro conjunto”, contou.
A drag queen, cantora e DJ Butantan vem sendo considerada uma febre entre as manas, os manos, os afemininados, as pocs, os machos ou as fêmeas. Cantora já conhecida pelo seu primeiro lançamento, Close errado, a drag maranhense está nesse novo trabalho. “Eu já havia feito Close Errado com o DJ Alladin antes, mas realmente é como se tivesse achado meu som agora, sabe? E a afinidade com Fuego ajudou muito nisso. O fato de poder trabalhar a música do zero e metendo o dedo, sentindo o que funcionava, o que me agradava ou não, buscando elementos que tornassem a música a nossa cara, isso tornou produzir Boy uma experiência única. Eu estava tentando levar Fuego para estúdio há bastante tempo, aí, conversando sobre esses projetos, falei que tinha a letra perfeita e enviei a música. Quase 10 meses depois e, boom… A gente tá aqui”, disse a cantora. Após o lançamento da música nas plataformas digitais essa semana, as cantoras lançaram o clipe da música Boy, gravado em uma das festas LGBTQ+ da capital de manas pras manas. O vídeo traz muito close, glitter, beleza e um ‘solinho’ descaradinho para todos que adoram um bom hit.
São Paulo
O trabalho mais recente foi da drag queen maranhense Wan Lo. Safada, sua música lançada no dia 6 de outubro, já está nas plataformas digitais. “Eu tava voltando da academia ouvindo música e começou a tocar Boys, da Britney Spears. Logo comecei a brincar na minha mente como seria minha versão em português. Cheguei em casa e anotei tudo. Dai nasceu Safada, inclusive, o nome foi o que primeiro veio à mente. É meu primeiro trabalho como cantora, mas já tenho outro single em produção”, disse a cantora. Há alguns anos, Wan Lo foi para São Paulo em busca de desenvolver sua carreira, mas garante levar o Maranhão por onde passar. “Eu amo o Maranhão, principalmente São Luís. Pelo menos duas vezes no ano volto na cidade. Tenho amigos e família que não deixo de visitar. Eu vim pra São Paulo porque queria trabalhar com moda, arte, me expressar, e o mercado em São Luís estava fraco. Mas minha terra mesmo é São Luís do Maranhão e vou levá-la na minha arte”, concluiu.