GDAM completa 30 anos e oferece oficinas gratuitas
Grupo de Dança Afro Malungo celebra três décadas de atividades culturais e sociais voltadas para crianças e adolescentes de comunidades em situação de vulnerabilidade em São Luís
Nossa missão. Contribuir para o desenvolvimento de ações voltadas para crianças, adolescentes e afrodescendentes em situações de risco. Na busca da formação de caráter e profissionalização, assim como da consciência étnica através da arte e da cultura”. Foi com esse discurso, ao longo de três décadas, que o Grupo de Dança Afro Malungos (GDAM) conseguiu se firmar na cena socioeducativa e cultural de São Luís.
A semana de comemoração de 30 anos do grupo, que começou na última terça-feira (22) irá contar com atividades como oficinas e programação cultural gratuitas e abertas ao público, até amanhã, no Parque Bom Menino, sempre a partir das 16h30. O encerramento será marcado com uma grande festa com a participação dos DJs Jorge Black, Nega Glícia, Andrezinho Vibration, Ademar Danilo, Valdecir Verbal Disco, Joaquim Zion, Odirley e Carlos Mafra, ao som de reggae tocado só no vinil, no sábado (26), a partir das 20h, no Porto da Gabi, no Aterro do Bacanga. O ingresso custa R$ 15 com direito a um CD comemorativo.
De acordo com Cláudio Adão, Coordenador de Projetos do GDAM quando o grupo foi fundado, em 1986, a primeira ideia era fazer um projeto cultural voltado somente crianças e adolescentes negros de bairros das periferias de São Luís. Com o passar do tempo, os integrantes do grupo perceberam que tinham que ampliar o seu olhar e raio de ação, por conta do interesse que seus projetos sociais despertavam, independente da raça a que aquela criança ou jovem pertencia. “Não tem só negros participando de nossos projetos. No início erámos um grupo muito fechado, pois a intenção primeira era fazer um resgate da identidade negra por meio da arte e cultura, por conta do preconceito que sempre enfrentou. Trabalhamos hoje com crianças e adolescentes, independentemente de serem negros ou não. Esta foi uma forma de reafirmamos a identidade do GDAM perante a sociedade”, explicou Cláudio Adão.
Em entrevista a O Imparcial, Cláudio Adão revelou também que o GDAM sofreu preconceito, não só por ser um grupo cultural que trabalha com crianças e adolescentes negros ou em situação de vulnerabilidade na capital, mas enquanto instituição que promove ações culturais como o Bloco Afro do GDAM e o Bloco do Reggae, que são atrações do carnaval maranhense. “No começo não foi nada fácil, mas com o tempo as pessoas começaram a perceber a seriedade que desenvolvíamos o nosso trabalho e isso foi nos dando credibilidade. Quando a gente veio ocupar a sede, no Parque do Bom Menino, muita gente foi contra por se tratar de uma ONG voltada para afirmação da identidade negra. Teve gente que chegou a dizer que o local do GDAM era debaixo da ponte. Eu ficava me perguntando porque não podemos ocupar um espaço no shopping, no bairro do Renascença II ou no Centro Histórico? Não ocupamos ali só por ser um espaço físico. Ocupamos um espaço de poder de decisão em várias outras entidades que trabalhamos em parceira. Hoje ocupamos uma cadeira no Conselho de Defesa da Criança e do Adolescente, na Rede Amiga da Criança, no Fórum dos Direitos da Criança e do Adolescente, Fórum de Cultura do Maranhão, Conselho da População Afrodescendente do Maranhão, entre outros, onde temos um poder também de decidir”, explicou Cláudio Adão.
Uma das conquista que a ONG conseguiu neste ano foi a viabilização de ações por meio do projeto Sonhos do bom menino, que será apoiado pelo Criança Esperança, da Rede Globo de Televisão. Cláudio Adão acrescentou que o projeto prevê o atendimento a crianças, adolescentes e jovens de três comunidades de baixa renda de São Luís e uma área de quilombo – a comunidade Santa Rosa dos Pretos, distante cerca de 100 km de São Luís e predominantemente rural –, com oficinas esportivas e culturais de música (percussão), danças populares afro-brasileiras, capoeira, basquete, futebol, reflexões de direitos e cidadania, acompanhamento familiar, oficina de penteado afro e turbante, protagonismo juvenil, torneios esportivos e visitas culturais.
SOBRE O GDAM
O GDAM foi criado em 22 de agosto de 1986, a princípio como um grupo de dança, todavia diante da realidade social percebida pelos seus integrantes constituiu-se como uma organização social em prol de crianças e adolescentes na difusão da arte da cultura. A instituição desde 2015 é um ponto de cultura aprovado pelo Governo Federal. Nestes 30 anos já passaram pelos seus programas e projetos mais de 3 mil crianças, adolescentes e jovens em situação de risco e vulnerabilidade social. Foram atendidas seis comunidade negras quilombolas e mais de 40 comunidades, entre elas: Vila Natal, Bairro de Fátima, Liberdade, Camboa, Macauba, Coarea de Baixa e de Cima, Sá Viana, Gapará, Vila São Luís, e outras. O GDAM é uma organização social que faz parte da Rede Amiga da Criança, com a missão de Promover ações que contribuam para o desenvolvimento de crianças, adolescentes e jovens afrodescentes em situação de risco e vulnerabilidade social na busca da formação integral e cidadã por meio da arte e da cultura.
Duas perguntas a Claúdio Adão
Qual a avalição que você faz sobre o papel do GDAM ao longo desses 30 anos?
Bastante positiva, porque conseguimos o nosso objetivo que era trabalhar arte e a cultura com ações voltadas para criança e adolescentes da periferia de São Luís. Isso não é muito comum em nossa cidade e não foi nada fácil, como muitos imaginam. Nosso foco inicial era fazermos a arte pela arte. A cultura pela cultura. E vimos que só isso não era o suficiente para nos mantermos enquanto Organização não governamental e como grupo cultural. Que precisávamos dar mais densidade aos nossos trabalhos. E foi isso que fizemos. Até mesmo porque a cultura é muito dinâmica. O grupo só conseguiu o seu sucesso por conta de seus projetos sociais desenvolvido nos bairros de São Luís. O resultado de tudo isso é que estamos comemorando 30 anos de atividades com muita festa.
O que você diria para quem está enveredando pelo mesmo caminho que vocês trilharam?
Hoje as coisas estão mais fáceis do que na época em que iniciamos. Tem que estar bem informado, bem estruturado, não só no papel, mas cercado com uma equipe de pessoas qualificadas para desenvolver as ações a que se propõe, com bons profissionais como assistentes sociais, pedagogos, educadores, que tratam diretamente com este tipo de público. Não basta ter bons projetos, tem que saber de que forma eles serão executados e que tipo de impacto eles vão causar na comunidade a ser beneficiada. Tem que ter, acima de tudo, compromisso e verdade com aquilo que faz, senão a coisa não acontece.
Serviço
O quê? Comemoração de 30 anos do GDAM.
Onde? Parque do Bom Menino e Porto da Gabi, no Aterro do Bacanga.
Quando? Dias 25 e 26 de agosto, às 16h e às 20h, respectivamente.
Quanto? R$ 15 com direito a CD
(aberto ao público)