Cultura

A irreverência da sambista maranhense Patativa

Patativa recebeu a equipe de O Imparcial em sua casa e contou com descontração um pouco de sua história e composições, que a tornam um genuíno ícone do samba do estado.

Reprodução

Irreverente, do povo, da vida e do samba. Esta é Patativa. A sambista maranhense, hoje aos 79 anos, coleciona histórias de vida e letras que marcam, inegavelmente, a cultura maranhense. Maria do Socorro Silva, a Patativa, recebeu a equipe de O Imparcial em sua casa, no bairro da Vila Embratel, em São Luís, e contou com descontração um pouco de sua história e composições, que a tornam um genuíno ícone do samba do estado.

Para Patativa, o samba foi um dom. Predestinada a cantar e ‘vadiar’ pelas ruas da cidade, ela já dava uma amostra do que seria ainda quando menina, enquanto trabalhava lavando roupa e cozinhando em casas de família. “Eu acho que aquilo já nasceu comigo. Na minha família, de todos que eu conheço, só eu canto”, conta a sambista. Livre de ganância, Patativa sempre viveu a vida com simplicidade. “Eu nunca tive ambição, por isso que eu vou morrer pobre”, pontua, em um tom que nem sequer beirou o lamento – e, pelo contrário, revela um verdadeiro desprendimento.

A longa trajetória no samba por entre os bares, ruas e praças de São Luís foi eternizada num CD apenas em 2015, quando Patativa já carregava 77 anos nas costas. Produzido por Zeca Baleiro e com participações especiais de Zeca Pagodinho e Simone, o disco é agora uma prova concreta do valor que Patativa tem, o que há muito tempo já era sabido pelo povo, em especial pelos madrilenos – os moradores da Madre Deus -, que reconhecem de longe a sambista dona também de história nos Fuzileiros da Fuzarca, bloco carnavalesco de tradição oriundo do bairro que é coração da cultura maranhense.

Patativa mostra com orgulho a cópia física do CD, chamando atenção para o quão bonita está na foto. Nota-se que a sambista vê Zeca Baleiro, produtor do disco, com um carinho que beira a adoração. “Um enviado de Deus”, diz Patativa. Ela conta que o contato com Zeca teve início com sua participação num show que o artista maranhense realizou na Praia Grande. “Não sei como foi, nem por quê, nem por quem, mas me botaram nesse show. Eu fiquei baratinada. Logo eu, ali daquela sacanagem toda da Madre Deus e Praia Grande”, comenta a sambista, ainda com espanto, brincando que tem tremedeiras até hoje por conta da notícia recebida. A partir de então, a parceira foi fincada: o CD foi produzido com primeira qualidade, participações especialíssimas e uma repercussão tremenda. A expectativa agora é lançar no próximo Carnaval seu segundo disco, que está em fase de produção e conta com outros ritmos além do samba, como Cacuriá, Tambor de Mina, Tambor de Crioula e Xote.

Compositora irreverente

A sambista Patativa é dona de todas as suas composições, guardadas até hoje na memória, anotadas em papéis já amarelados ou fincadas no imaginário do povo, saindo do gogó de sambistas mais jovens em bares e rodas de samba da ilha. Dentre suas principais e mais irreverentes letras, “Ninguém é Melhor do que Eu”, que dá nome também ao seu primeiro disco, e “Xiri Meu” se destacam.

Patativa conta que a primeira foi motivada a escrever por conta de uma vizinha que reclamava de quando a sambista chegava pela manhã em casa, depois de bater matraca ladeira abaixo no Bumba Meu Boi. “Eu sou ruim, mas ninguém é melhor do que eu. Bebo, fumo, jogo e danço, faço os compromissos meus”, diz a música, com participação de Zeca Pagodinho.

Já a segunda conta os causos de quando Patativa morava em Bragança, no Pará, e um comerciante da região, o “cara azeda”, que costumava contar para todos das relações que tinha com as moças, atentava a sambista. “Neguinha, eu ainda vou te guizar”, dizia o comerciante. Foi então que Patativa disse (e repete até hoje, no samba): “tu vai morrer de dente seco, mas xiri meu tu não vai pegar”. Dito e certo. “Ele morreu mesmo e não pegou”, brinca Patativa.

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