Uema: 35 anos dedicados à educação superior
Em entrevista a O Imparcial, o reitor da Uema, Gustavo Pereira da Costa, conversou sobre o papel que a instituição exerce perante a sociedade
Em entrevista a O Imparcial, o reitor da Uema, Gustavo Pereira da Costa, conversou sobre o papel que a instituição exerce perante a sociedade, os desafios e conquistas que a universidade enfrentou ao longo de pouco mais de três décadas. Confira abaixo a entrevista na íntegra.
O IMPARCIAL – Como o senhor avalia o papel da Uema para o desenvolvimento do Maranhão nestes 35 anos de existência da instituição?
A Uema, como instituição social tem dado provas ao longo dos anos de sua capacidade de transformar e induzir mudanças e progressos na sociedade maranhense. Os profissionais que a Uema tem formado nas mais diversas áreas, em vários municípios, e o conhecimento novo gerado pela pesquisa são indicadores irrefutáveis do papel estruturante dessa Instituição para o desenvolvimento socioeconômico, cultural e humano do Maranhão. Para se ter uma ideia, a grande parte dos professores que atuam na educação básica do Estado foram formados por nossa instituição, principalmente no interior. Outro exemplo é a forte atuação, ao longo do tempo, dos nossos professores e alunos da área das agrárias- especialmente Medicina Veterinária e Agronomia – em prol da economia do agronegócio, da agroecologia e da agricultura familiar. Emblemático é também o caso do curso de Engenharia Civil que, por muitos anos, foi o único a formar profissionais nessa área no Maranhão.
De que forma a Uema tem quebrado o seu isolamento enquanto instituição de ensino superior e quais os avanços nesse sentido?
A Uema nasceu a partir da Federação das Escolas Superiores do Maranhão (FESM) que, por sua vez, foi a primeira iniciativa de agrupar escolas isoladas como Administração, Engenharia Civil, Agronomia. Esse processo de romper com o isolamento das faculdades, em São Luís e no interior, à época Caxias e Imperatriz, foi determinante e inspirador para o avanço na educação superior estadual. A noção de conjunto, de integração foi o espírito da jovem universidade que surgia. E assim permanece hoje. A Uema é uma universidade multicampi, ativa e vibrante onde atua, que busca a cada dia ser mais forte e acreditada. Por isso, sua unidade, que revela esse caráter agregador, resultante da convergência de ideais, é tão cultivada e está enraizada no tecido institucional. Não há como estar isolado quando a participação, o diálogo e a estrutura colegiada de decisão são efetivamente exercitadas.
O senhor está no comando da instituição no período 2015/2018. Quais os principais desafios que o senhor encontrou ao ser empossado no cargo de reitor da Uema?
Tomei posse como reitor da Uema no contexto da pior crise da economia nacional desde 1948. A economia saiu de um boom para um quadro de recessão. O PIB desabou nos anos de 2015 e 2016. Não há como negar o reflexo disso na receita da universidade, mantida pelo tesouro estadual, por sua vez duramente afetado. Naturalmente, os investimentos tiveram que ser reavaliados, alguns adiados, cortamos na carne. Iniciamos o reitorado, eu e o professor Walter Canales, vice-reitor, sabedores de que os meios seriam limitados e insuficientes para atender de imediato o conjunto das necessidades institucionais. Mas isso nos encorajou, e fizemos da crise uma grande oportunidade de repensar a instituição e rever prioridades. A Uema assim como todas as instituições de ensino superior também estão passando esse momento de crise nos seus investimentos na questão da pesquisa e da extensão. De que forma a instituição tem driblado esta questão?
Com obstinação e muita responsabilidade. Adotamos um modelo de gestão baseado no planejamento participativo e na avaliação de resultados. Construímos juntos, com todas as unidades, nosso plano de desenvolvimento até 2020. Fixamos metas possíveis e realistas, e estabelecemos uma agenda positiva junto ao governo do estado. Nesse mister, o governador Flavio Dino tem sido muito sensível aos pleitos da Uema e tem nos dispensado atenção especial. Em virtude desse apoio, mesmo com toda crise, não reduzimos nenhum programa de bolsas, ao contrário, criamos novas como a bolsa produtividade em pesquisa, a bolsa cultura, a bolsa trabalho para alunos carentes. Criamos nove cursos novos de graduação e aumentamos em 10% as vagas anuais para graduação presencial. Lançamos agora em 2017 o maior programa de permanência estudantil da história da Uema, com auxílios creche, moradia e alimentação para estudantes. Temos obras em vários campi que totalizam 40 milhões de reais. Entendo que a mão certa é aquela que vai contra a crise.
Hoje a Uema está presente em quantas cidades do estado. Como tem sido como uma instituição de ensino superior lhe dar com tantas realidades diferentes de cada localidade?
A Uema tem hoje 19 campi, 35 polos de educação a distância e 12 polos do Programa Ensinar de Formação de professores. Oferecemos 106 cursos de graduação em todas as modalidades. Além disso, temos programas como o Mais Extensão, que atende municípios de baixo IDH do estado. É uma malha de alcance extraordinário. Somos uma Universidade presente e comprometida com o povo que nos financia. Temos cerca de 18 mil alunos, dos cursos técnicos aos Doutorados, e eles são nossa maior riqueza, por sua heterogeneidade. Esse mosaico de realidades tão interessantes, de municípios e regiões com peculiaridades diferentes, confere à Uema um traço institucional inconfundível: ser uma universidade de todos os maranhenses.
Qual foi a maior conquista que o senhor considera que a Uema conseguiu ao longo destes 35 anos?
Sem duvida foi conquistar o respeito e a confiança dos maranhenses, que veem a Uema como um bem público do nosso estado. Uma universidade que se interiorizou, que saiu dos limites de São Luís, que levou o ensino superior a rincões outrora impensáveis. Que abandonou o fazer tradicional e inovou, que ganhou o mundo com os cursos abertos pela Internet. Uma instituição que se orgulha de ter mais de 70% de seus alunos oriundos da escola pública, que recebe indígenas, quilombolas, pessoas com deficiência. A Uema é reconhecida hoje pelo corpo docente qualificado que tem, por sua produção acadêmica. Somos distinguidos pelos trabalhos do Hospital Veterinário, do Núcleo de Geoprocessamento, do Núcleo de Tecnologias para educação (Uemanet), entre tantas outras unidades de referência. Essa é a dimensão da nossa trajetória. Foram anos de trabalho, de luta, de dedicação de várias gerações. Não há conquista duradoura sem isso.
Qual a importância do Prêmio Uema 35 anos?
A solenidade do próximo dia 2 de agosto, o Prêmio Uema, marca as comemorações dos nossos 35 anos e decidimos fazer dela um grande ato público de reconhecimento e agradecimento. Por isso, personalidades e entidades vão ser homenageadas pelas parceiras, trabalhos e ações que contribuíram para a Uema ser o que é hoje. O destaque fica por conta da concessão da medalha Gomes de Sousa de Mérito Universitário, nossa maior honraria.
De que forma foi feita a seleção de escolha as personalidades e outros que serão agraciados por este reconhecimento?
Recebemos indicações de diversos setores da instituição, com os fundamentos que justificavam a homenagem. Submetemos cada proposta ao crivo das nossas resoluções e delegamos uma comissão para fazer a seleção, de forma transparente e coerente com o propósito da premiação. Alguns nomes , já agraciados em outras ocasiões, ficaram naturalmente de fora. Não tenho dúvida de que todos os escolhidos muito bem representarão o espírito grandioso da data.
Hoje além do ensino presencial a Uema também está disponibilizando o ensino à distância. Como tem sido a receptividade e se tem valido apostar nesta modalidade?
A educação a distância está ganhando força a cada dia, tem angariado mais adeptos e vencido o ceticismo inicial. Não há mais a pecha de ensino de segunda classe, aliás, injusta e absurda. A Uema, hoje referência nacional na oferta e gestão de cursos a distância, foi uma das primeiras instituições a serem credenciadas pelo MEC há 16 anos. Fomos a primeira universidade estadual a ser aceita no programa Universidade Aberta do Brasil. Por tudo isso, entendo ser a EAD um instrumento real para levar oportunidades aos cidadãos dos locais mais isolados do Maranhão e assim reduzir a desigualdade de oferta de ensino superior. Temos feito isso e continuaremos nessa direção.
Quais os desafios que o senhor acredita que a universidade vai enfrentar nos próximos 35 anos?
O futuro da Uema, por ser universidade pública, será permeado por alguns desafios já conhecidos e outros que estão ainda se desenhando. Ampliar democraticamente o acesso, aumentar o número de cursos, assegurar a permanência estudantil, combater a exclusão, aprimorar continuamente a qualidade, melhorar a infraestrutura dos campi , contratar mais professores e técnicos e qualificá-los serão sempre grandes desafios e exigirão especial energia e muito trabalho. Mas o maior desafio, de maior complexidade, diz respeito à dimensão política, e está associada à autonomia, à liberdade acadêmica e ao compromisso ético com as pessoas. É preciso avançar nisso, e rápido, porque a universidade não pode se ocupar apenas de prover respostas às demandas imediatas e resolver os problemas práticos da sociedade. As universidades têm um propósito humano, histórico, antropológico e político de buscar transcender o momento presente. Eis porque a Uema precisa superar os obstáculos que a impedem de realizar mais, de ousar mais, de avançar mais. Pois é isso que o povo do Maranhão espera de sua universidade e é isso que a Uema tem como sua missão