Redes sociais podem estreitar ou prejudicar as amizades?
Neste dia da amizade, O Imparcial conversou com o psicoterapeuta Alfredo Barbetta para saber: afinal de contas, as redes sociais aproximam ou afastam?
Você conversa e convive com todos os amigos que tem adicionado nas redes sociais? Hoje em dia, é provável que a resposta seja negativa. O que começou sendo uma ferramenta para manter as pessoas conectadas, formando uma extensão da realidade, tornou-se um inimigo em potencial das boas relações. Só o Facebook, rede social que dispensa apresentações, chegou a 1,94 bi de usuários em todo o mundo no primeiro trimestre de 2017, segundo dados divulgados pela própria companhia. Número que pode representar milhões de relações em perigo.
O psicoterapeuta em EMDE Alfredo Barbetta explica que a psicologia tem uma visão flexível sobre o assunto. “O problema não é a tecnologia em si. Para nós a tecnologia pode tanto aproximar as pessoas, quanto pode distanciar”, comenta. Ele pontua que hoje em dia sobra pouco tempo para criar elos, então as redes sociais podem servir para aproximar as pessoas. O psicoterapeuta, no entanto, faz um alerta: “quem tem ansiedade social acaba usando excessivamente o computador e não se aproxima das pessoas, então ele fica na fantasia de que ele está se aproximando”.
O caso do estudante de história João Victor, de 23 anos, é comum principalmente entre os jovens. Ele acaba se comunicando mais com os amigos pelas redes sociais que pessoalmente. O motivo é também recorrente: os afazeres diários, a distância e outros contratempos contribuem para a prática. “Como cada um tem suas obrigações diárias, dificilmente nós nos encontramos pra conversar, então [o contato] é bem mais nas redes sociais”, conta. João Victor, entretanto, afirma que a comunicação pelas redes não prejudica as amizades, mas que “tem aqueles amigos que são diferentes online. Você conversa bastante na rede social e pessoalmente quase não fala”, finaliza.
Tendência
A psicologia explica a tendência. Alfredo Barbetta explica que o cérebro humano não tem condições de ler e receber as informações da outra pessoa através do computador como acontece cara a cara. “Você não sente a pessoa, não se conecta com a pessoa. É muito comum você conhecer uma pessoa por esses aplicativos e quando você encontra na vida real diz ‘mas você é diferente!’”, conta o psicoterapeuta.
O engenheiro Raimundo Batista Silva, de 78 anos, falou à reportagem com um smartphone nas mãos. Ele, que vem de uma geração acostumada com uma convivência mais estreita com amigos e familiares, comenta que só usa o celular para se comunicar através de pequenos recados. “A rede social é muito supérflua. Às vezes prejudica as amizades. Nem todo mundo tem a capacidade de discernir aquilo que você escreve”, pontua o engenheiro.
Barbetta dá ainda um aviso: “Como ferramenta [a tecnologia] está a meu serviço, e não eu a serviço dela”. “Quando as mídias sociais se tornam um vício, elas nos distanciam das pessoas, eu passo a ter um prazer na solidão, e isso não é amor”, finaliza.
Cuidado com a vitrine!
Todo mundo tem um amigo que, nas redes, viaja muito, posta selfies sorrindo, compartilha imagens engraçadas, mas, na vida real, revela uma figura totalmente diferente. “Hoje as redes sociais viraram uma grande vitrine pra você ser comprado ou não. Só que as relações humanas não podem passar por esse caminho”, explica o psicoterapeuta Alfredo Barbetta.
“Ela pode auxiliar porque ela abre as portas, mas ela pode ser impeditiva na medida em que ela reforça a minha esquiva, o meu distanciamento, o meu fechamento, o meu ensimesmamento, até um certo narcisismo, porque a rede social serve pra você se mostrar”, alerta Barbetta.