Novas tecnologias desbancam brincadeiras de rua
Seja pela insegurança ou simplesmente porque as antigas brincadeiras não chamam mais tanta atenção das crianças, o fato é que são poucos os pais que incentivam seus filhos a brincarem fora dos muros de casa
Brincar de casinha, jogar bola na rua, pular elástico ou amarelinha: essas brincadeiras fizeram sucesso entre as crianças de pelo menos 10 anos atrás, mas atualmente foram substituídas por novas formas de diversão que fazem com que os pequenos passem menos tempo reunidos com outras crianças.
Seja pela insegurança das grandes cidades ou, simplesmente porque as antigas brincadeiras não chamam mais tanta atenção dos meninos e meninos do século XXI, o fato é que são poucos os pais que ainda incentivam seus filhos a manter o hábito de gastar suas energias fora dos muros de casa.
Nos tempos da mamãe
Amanda Lima tem 22 anos e é mãe do pequeno João Caíque que tem 1 ano e três meses. Em sua infância, ela conta tinha o costume de brincar na rua onde morava e raramente ficava brincava sozinha ou dentro de casa.
“Quando eu era pequena brincava na rua. Brincava muito de pega pega, esconde esconde, amarelinha, tinha também umas brincadeiras de casinha. Dificilmente se brincava dentro de casa, era normalmente na rua. Todos os dias nós estávamos brincando na rua!” disse.
Com João Caíque, a postura de Amanda é bem diferente, começando que o espaço para brincadeiras é bem reduzido. “Temos que nos virar para fazer um campo de futebol dentro do apartamento”, afirmou a mãe.
Amanda conta que o filho costuma brincar com aparelhos eletrônicos e assistir desenhos animados. Por ainda ser muito pequeno os pais do menino optam por diversões que deixem Caíque sempre no campo de visão. “Na minha época era mais fácil de criança ficar na rua, hoje está tudo muito violento. A forma que pretendemos criar ele é dentro de casa. Sair para brincar, só uma vez ou outra”, contou.
Benefícios das antigas brincadeiras
A pedagoga Josiele Fonseca explica que a aprendizagem ocorre principalmente nas interações sociais, na relação com o outro e com o meio. Segundo ela, as brincadeiras potencializam essas interações sociais. “É no faz de conta, no jogo, nas cantigas de rodas que as crianças aprendem regras e valores imprescindíveis para o seu convívio social”, afirmou.
Ela ressalta ainda que as brincadeiras também tem o caráter de trazer o protagonismo das crianças. “Um dos aspectos positivos das brincadeiras antigas é estimular e contribuir com as aprendizagens das nossas crianças. Os benefícios com relação aos aspectos relacionados ao corpo da criança também são influenciados pelas brincadeiras. Quando brinca, desenvolve a coordenação motora, seus reflexos, força, equilíbrio e adquire a percepção sobre o seu corpo e a inserção dele no espaço”, disse.
Com a palavra, quem já brincou na rua
A jovem Ana Barbosa teve como principal diversão durante sua infância brincar de bicicleta na rua. Ela conta que sua mãe sempre a incentivou a se relacionar com outras crianças de sua idade, Ana diz que não é a favor do modo como boa parte dos pais criam seus filhos atualmente, ela conta que pretende deixar seus filhos brincarem desde que possa estar sempre de olho. “Se eu estiver prestando atenção para não acontecer nada de errado, eu não vejo problema nenhum em deixar eles brincarem na rua. Eu acho que uma criança que brinca na rua tem uma infância mais feliz e divertida”, disse.
Equilíbrio e cautela
O conselho que Josiele Fonseca apresenta aos pais e responsáveis é que haja equilíbrio entre as antigas brincadeiras e as novas formas de diversão que as crianças que vivem nesta “era digital” têm a seu dispor. “Nós vivemos numa sociedade globalizada, não tem como manter nossas crianças longe de todo esse aparato tecnológico, acredito que deve haver limites no uso dessas tecnologias. Acredito que há muitos benefícios da ”era digital”, mas devemos ter cautela e os pais devem está atentos a essas questões”, disse.
A profissional explica que as emoções proporcionadas pelas atividades em grupo são essenciais à vida humana e precisam ser cultivadas para além de telas de aparelhos eletrônicos. “A dor da perda, a derrota, a vitória, o carinho, o amor; são emoções que temos que sentir, e elas só acontecem no mundo real”, concluiu.
A ciência confirma a eficácia das brincadeiras do passado
Estudos afirmam que as brincadeiras coletivas e ao ar livre trazem benefícios a curto e longo prazo para as crianças. Além de ajudá-las a cultivar relações interpessoais com maior facilidade, estar em contato com crianças da mesma idade contribui também para o desenvolvimento da linguagem, pois, por meio da imitação, o vocabulário é expandido e a fala aperfeiçoada.
A tão conhecida Amarelinha, por exemplo, é uma brincadeira simples, divertida e que oferece diversas vantagens a quem brinca. Ao planejar e executar o desenho dos quadros a criança é instigada a ser criativa. Os pulos exigem da criançada equilíbrio e coordenação.
Quanto mais energia e envolvimento com outras crianças a brincadeira demandar, mais benefícios ela trará aos pequenos.