As mulheres dirigem carros melhor que os homens?
Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos constatou que, diferente do que muitos pensam, as mulheres cometem menos infrações ao volante por serem condutoras mais atentas e pacientes
“Vai pilotar o fogão!”, “Lugar de mulher é na cozinha”, frases como essas provavelmente estão sendo repetidas em diversas avenidas que cortam o Brasil agora mesmo, enquanto você lê esta matéria. Muitas vezes até mulheres acabam perpetuando o famoso ditado popular: “Mulher no volante, perigo constante”.
No dia 25 de julho é comemorado o Dia do Motorista e, o que poucos sabem é que mulheres e automóveis formam uma parceria desde que dirigir um veículo era apenas um sonho distante.
A primeira mulher a dirigir um carro foi a alemã Berta Benz em 1885, esposa do fundador de uma montadora de carros alemã, a Mercedes-Benz. A primeira mulher a obter carteira de motorista no mundo foi a francesa e Duquesa d’ Uzès no ano de 1898. Aqui no Brasil, a primeira mulher a tirar uma CNH se chamava Maria José Pereira Barbosa Lima, viúva do jornalista Alexandre Barbosa Lima Sobrinho.
Elas são mesmo um perigo ao volante?
Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos constatou que, diferente do que muitos pensam, as mulheres, além de não representarem qualquer ameaça quando estão dirigindo, cometem menos infrações ao volante por serem condutoras mais atentas e pacientes.
O estudo foi supervisiono por uma empresa do Reino Unido, a Privilege Insurance. Para que o levantamento de dados fosse feito, 50 motoristas foram monitorados de dentro de seus veículos e pelo menos 220, pelo lado de fora. Esse monitoramento ocorreu em um dos cruzamentos mais congestionados de Londres, O Hyde Park Corner.
O que se percebeu foi que as mulheres excederam os homens em duas avaliações dos pesquisadores. 14 aspectos de condução eram abordados nos testes e as motoristas obtiveram 23,6 pontos quando o total possível era de 3; em contrapartida, os homens totalizaram 19,8 pontos.
Apesar de estudos negarem o ditado popular “Mulher no volante, perigo constante.”, não são raros os casos onde mulheres sofrem discriminações por conduzirem automóveis. Imagine a seguinte cena: são 18h, o barulho quase ensurdecedor de buzinas e xingamentos lhe cerca e, em meio a tudo isso, alguém grita: “Tinha que ser mulher mesmo!”. Essa situação é corriqueira na rotina da professora e motorista de transporte alternativo, Giselle Pacheco. Ela trabalha como motorista de um aplicativo de transporte e conta que já passou e ainda passa, por momentos nos quais se percebeu sendo alvo de preconceitos simplesmente por ser mulher e motorista.
A professora conta que muitas pessoas rejeitam uma viagem com ela quando abrem o aplicativo e percebem que se trata de uma motorista, mas que ao verem que ela é uma motorista classificada na plataforma digital como “5 estrelas’, acabam contratando o serviço. “Quando as pessoas vêem a minha foto, a princípio dizem que não querem porque é mulher e eles se sentem inseguros mas, quando vão olhar minha avaliação no aplicativo (que sou 5 estrelas e vêem os elogios) eles vão porque se sentem mais seguros”, disse.
Giselle também afirma que é alvo de assédios com frequência e já passou por situações desagradáveis ao dirigir par alguns homens, além disso, o que ela diz é que se há alguma demora na condução, sempre aparece alguém para reclamar. “Ás vezes, quando você está parada no sinal e demora um pouco mais para sair, algumas pessoas dizem: Só podia ser mulher!”, contou.
Para além das críticas, Giselle Pacheco pretende continuar dirigindo e avalia seu desempenho ao volante: “Infelizmente ainda sofremos este tipo de preconceito em pleno século XXI, mas eu me acho uma excelente motorista!”.
Número de mulheres com CNH aumenta anualmente
Dados do Departamento Nacional de Trânsito mostram que cada vez mais mulheres têm se interessado em dirigir automóveis. De acordo com as estatísticas do Denatran, mais de 93 mil mulheres de São Luís possuem carteira de habilitação na categoria B e, pelo menos, 7 mil possuem habilitação na categoria AB.
O site do departamento dá conta de que dos 341.077 ludovicenses que estão habilitados para dirigir, aproximadamente 103 mil são mulheres. Entre essas muitas novas condutoras está a universitária Tárcila Duarte.
Aos 22 anos a estudante conta que os olhares que as outras pessoas lançam sobre ela quando está ao volante é constrangedor e transmite a ideia de que ela “não está na sua praia”. A jovem dirige há 3 anos pelas ruas de São Luís e diz que, apesar de nunca ter passado por uma situação de preconceito explícito, percebe nitidamente que ele está sempre rondando a rotina de uma motorista. “É fácil perceber alguns olhares feios e comentários, especialmente de homens. Eles sempre duvidam da tua capacidade de estacionar ou fazer qualquer manobra”, disse.
Tárcila também fala sobre o modo como outras mulheres acabam reproduzindo o discurso de que mulher ao volante representa perigo ao trânsito. “É curioso como as outras mulheres também têm pensamentos parecidos com esse, de que “se cometeu barberagem é porque é mulher”, “estacionou errado, só pode ser mulher”. O pensamento machista e preconceituoso é reproduzido por mulheres por uma questão cultural, e é preciso que isso seja mudado”, afirmou.
No Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde, o número de homens que morrem no trânsito é quase quatro vezes maior do que o de mulheres.