Bumba Meu Boi

Mestre Apolônio completaria 99 anos neste domingo

De estivador a um dos grandes amos do Bumba Meu Boi do Maranhão, Mestre Apolônio deixou heranças imensuráveis para a cultura maranhense

Apolônio significa “consagrado a Apolo”, o deus do Sol na mitologia grega. Mas da Grécia às terras brasileiras, especificamente no Maranhão, Apolônio – acompanhado pelo título de Mestre – ganha outros significados. Representa cultura, tradição, religiosidade e heranças. Neste 23 de julho, Mestre Apolônio, um dos mais antigos amos de Bumba Meu Boi do estado, completaria 99 anos. Foram 96 anos vividos, muitos deles no ofício de estivador e pelo menos oito décadas dedicadas ao fazer Bumba Meu Boi.

O amo, que faleceu em 2015 por insuficiência renal, é responsável por uma trajetória marcante que teve início em 1918, ano de seu nascimento. Foi em São João Batista, na baixada maranhense, onde Apolônio deu seus primeiros passos: ainda aos oito anos de idade, criou junto a colegas um boizinho de brincar. Ali nascia um dos gigantes da cultura popular do estado.

As heranças deixadas não são poucas. Mestre Apolônio chegou a São Luís no final da década de 1930 e fundou o Boi de Viana, junto a Chico “Canguçu”. Foi também um dos criadores do glorioso Boi de Pindaré, de sotaque de Baixada, acompanhado de outros grandes nomes do Bumba Meu Boi como João Câncio, Coxinho, Apolinário, Antônio Costa e Juvenal. Apolônio criou ainda, em 1972, no bairro da Liberdade, sua própria associação, batizada como Turma de São João Batista, mas conhecida como Boi da Floresta ou, simplesmente, Boi de Apolônio. Tamanha é a importância de Mestre Apolônio para o Maranhão e o Brasil, que em 2011 o amo foi reconhecido pelo Governo Federal e recebeu a Ordem do Mérito Cultural, maior honraria concedida aos artistas brasileiros.

Na coletânea “Os senhores Cantadores, Amos e Poetas do Bumba Meu Boi do Maranhão”, lançada no mesmo ano da morte de Apolônio, o cantor, compositor, percussionista e pesquisador Papete descreve o amo com maestria. “Dono de porte vistoso com um metro e noventa, [Apolônio] possui uma altivez e nobreza que traduzem toda a beleza de um legítimo representante da raça que povoou os quilombos maranhenses desde o século XVII”, relatou Papete.

Sobre sua partida, Apolônio sempre deixou claro: queria deixar heranças, e não tristezas. “Quando eu morrer eu não deixo saudade nem pra branco e nem pra preto, mas eu deixo uma boiada brincando do meu modo”, disse o amo no documentário São João da Maranhensidade 2008, sete anos antes de sua morte. O amo foi, de fato, feliz em pelo menos metade de seus desejos: deixou um grande legado para o Maranhão. A saudade, no entanto, ainda é um sentimento recorrente para quem brinca Bumba Meu Boi.

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